Uma pesquisa reflete necessariamente uma tendência ou um resultado. No contexto eleitoral, o primeiro caso só ocorre com a campanha em estágio mais avançado, com todos os candidatos definidos, alianças regionais seladas, horário gratuito em curso e candidatos expondo, em debates e palanques, suas idéias e propostas para o País.
Não é, decididamente, o cenário em que pesquisas como a divulgada nesta segunda-feira, 1º, pela CNT-Sensus, se desenvolvem. Elas refletem, por enquanto, aquilo que a lógica indicava: a única candidata em campanha ostensiva, ao lado de um presidente com a popularidade na casa dos 80%, cresceu em relação ao seu percentual inicial e ultrapassou a casa dos 20%, meta que se impusera em curto prazo.
Os outros três candidatos não estão em cena – um deles, José Serra, nem mesmo se admite como tal. De Ciro Gomes, até dias atrás em férias no exterior, nem se sabe se manterá a candidatura. Marina Silva, embora assumida, e com o menor índice, ainda não pôs o pé na rua. Portanto, os números não surpreendem e refletem apenas o resultado de uma etapa preliminar em que Dilma não teve concorrentes e contou com o apoio de um cabo eleitoral privilegiado: o presidente Lula.
Mas a pesquisa se presta a reflexões importantes. A primeira delas, a de que a candidatura Ciro Gomes, nesse momento, ajuda mais do que atrapalha Dilma. Sem o seu nome na planilha dos entrevistadores, Serra sai de um empate técnico para um percentual de 40%, que teoricamente indicaria sua vitória no primeiro turno. O que é improvável se confirmar no curso da campanha.
Os votos de Ciro, portanto, migram para o candidato do PSDB, pelo menos nesse momento. O que não deixa de ser curioso, já que declaradamente seu alvo principal é José Serra. Também fica claro que Ciro não se consolida como candidato, pois cai para 11%, o que o aproxima mais de Marina do que de Dilma. Provavelmente ficará a serviço do que for melhor para Lula. Por enquanto, ele se mostra decisivo para levar Dilma ao segundo turno.
Outra reflexão importante, mas também prematura , diz respeito à transferência de votos de Lula para sua candidata. Considerando que a fase atual da campanha é a de construção, pelo Presidente, da candidatura de sua ministra, é razoável dar como seu o percentual de intenções de voto que a pesquisa registra em favor de Dilma. Se os votos prometidos a Dilma são de Lula, resta saber se ele, há um ano em campanha, chegou ao limite dessa capacidade de transferência ou ainda pode mais.
A leitura da pesquisa nos detalhes mostra que a distribuição dos votos de Dilma entre as regiões e os segmentos da população não são uniformes. Ela fica abaixo de Serra em quase todos os segmentos e regiões, exceção para o Nordeste. Isso pode variar para pior ou para melhor para a candidata.
As alianças regionais serão decisivas para dar contornos mais definidos às candidaturas e projetar cenários mais precisos. Há Estados onde Dilma nem precisaria disputar, se os números, nessa pré-campanha, fossem imutáveis. Caso de Pernambuco, por exemplo, onde se beneficia da popularidade de Lula e do governador Eduardo Campos. Mas, e se o senador Jarbas Vasconcelos entrar na disputa estadual e abrir um palanque para Serra?
O quadro em Minas, segundo maior colégio eleitoral não está igualmente definido. O lançamento do ex-presidente Itamar Franco ao Senado, em claro acordo com Aécio Neves, põe em dúvida novamente a anunciada decisão do governador de não ser vice na chapa tucana.
Ainda há muito por acontecer. Deve se esperar mais das primeiras pesquisas feitas após a desincompatibilização de Dilma, quando estará por sua conta e risco, e a entrada em campo de seu principal oponente, o governador José Serra.
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