terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Raymundo Costa:: O marasmo sindical no governo Lula

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Se restava alguma dúvida sobre a inércia do movimento sindical no governo Lula, elas caíram por terra com a apresentação ontem dos resultados da 100ª pesquisa CNT/Sensus. Num período de dez anos, sete dos quais governados pelo PT, o número de pessoas sindicalizadas no país diminuiu, em vez de aumentar, como seria de se esperar numa República forjada no chão das fábricas.

Em novembro de 2000, os pesquisadores do Sensus identificaram 5,7% de sindicalizados entre as pessoas entrevistadas. Em janeiro de 2010, apenas 5,3%. Queda de centésimos, é fato, mas que contém significados num governo como o atual e é motivo de discussão na esquerda. A pesquisa mostra que o associativismo perdeu fôlego. A exceção foram as ONGs.

Pergunta feita pelos pesquisadores, nas duas ocasiões: "O Sr(a), pessoalmente, é ligado a alguma associação: sindicato, associação de moradores, partido político, associação de pais, ou alguma outra?" As associações de moradores foram as que mais perderam associados: tinham 5,9% dos entrevistados e agora têm 3% - ou seja, uma perda de quase 50%.

Surpreendem os índices de ontem e de hoje de filiados a partidos políticos, quando o Congresso, nos últimos 12 anos, apenas perdeu confiança dos entrevistados: 2,7%. A velha e boa associação de pais e mestres oscilou de 1,4% para 1%. O crescimento das ONGs foi de 0,7% para 1,3%. Pouco, se for considerado que esse período, em certa medida, pode ser considerado o auge das organizações não governamentais.

No meio sindical há divergências sobre a causa do marasmo que tomou conta do sindicalismo, berço do presidente da República mais popular da história do país, pelo menos até agora. Marcos Verlaine, assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), cuja clientela são as centrais sindicais, diz que a crise do associativismo não é brasileira, é mundial, com a agravante de que no Brasil há um "bombardeio da imprensa neoliberal" ao Congresso que se reflete em instituições como os sindicatos e associações de moradores.

Também do Diap, o diretor de pesquisa Antônio Augusto Queiróz diz que o sindicalismo crescia no Brasil já nos últimos anos do regime militar, "mas contraditoriamente houve uma desmobilização e agora não está formando quadros para o futuro". O que nem Toninho, como Antônio Augusto Queiróz é mais conhecido, nem Verlaine mencionam é o debate sobre a cooptação dos movimentos sociais pelo governo. Discussão essa que já há algum tempo prolonga a reuniões da esquerda.

A perda da clientela, às vezes mais que as questões doutrinárias, é o que na verdade estaria na origem das divergências entre movimentos como o MST e as facções de sem-terra dissidentes e mais fundamentalistas. É o que leva o MST, por exemplo, vez por outra a radicalizar o discurso contra o governo, embora na prática esteja disposto a sair em sua defesa ao primeiro estalar de dedos de Lula. Um contrato cujos termos foram definitivamente estabelecidos no auge da crise do mensalão, em 2005.

À época, quando até ilustres parlamentares petistas se escondiam de Lula, as centrais sindicais atenderam prontamente ao sinal de SOS emitido pelo presidente da República. Algo mais simbólico que a entronização no Ministério do Trabalho de Luiz Marinho, atual prefeito de São Bernardo do Campo e ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na reforma ministerial em que Lula reforçou suas linhas de defesa contra o impeachment no Congresso?

Do ponto de vista de Marcos Verlaine o que há é uma identificação de propósitos entre o governo e os setores de ponta do sindicalismo. No lugar de retrocesso, Verlaine vê avanço quando as seis centrais sindicais reconhecidas negociam com relativo êxito uma agenda com sete proposições ao Congresso.

Agenda que tem desde as atuais regras de aumento do salário mínimo (ainda não transformadas em lei) até a redução da jornada de trabalho, passando pela extinção do "fator previdenciário", um nó que atualmente divide as centrais (três delas são favoráveis a concessões que permitam sua aprovação).

No governo Lula as centrais sindicais também levaram sua fatia do imposto sindical, algo em torno de R$ 50 milhões, no ano passado. Só a CUT levou cerca de R$ 24 milhões.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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