quarta-feira, 26 de maio de 2010

Depois de 15 anos...

DEU EM O GLOBO

Serra, Dilma e Marina, que foram dos últimos governos, prometem reforma tributária a empresários

Chico de Gois, Adriana Vasconcelos, Gerson Camarotti, Maria Lima e Catarina Alencastro

BRASÍLIA - Para uma plateia de empresários, os três principais précandidatos à Presidência comprometeram-se ontem com uma reforma tributária ampla, divergindo, porém, sobre a política econômica do governo Lula. Enquanto José Serra (PSDB) atacou a condução do atual modelo adotado pelo presidente Lula, criticando a política de juros altos e a carga tributária excessiva, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT) foi na direção oposta e relacionou o que, em sua opinião, são pontos positivos da gestão de seu principal cabo eleitoral: a redução da taxa Selic de juros e o respeito a contratos. Ela prometeu priorizar a reforma tributária e disse que o sistema atual é caótico.

Marina Silva (PV) equilibrou-se entre os dois, elogiando e criticando ao mesmo tempo o atual modelo.

Empatado com Dilma, segundo as pesquisas eleitorais, Serra partiu para o ataque procurando atrair a petista para o confronto o que não deu certo, porque a petista já tinha falado. Ele citou Dilma cinco vezes em sua exposição, sempre questionando o que ela dissera. Foi contundente nos ataques à condução da política econômica pelo governo Lula, do qual Dilma se diz herdeira e uma das responsáveis.

Temos vários títulos mundiais, de campeões ou vice. Somos o país que tem a maior taxa de juros do mundo, a maior carga tributária entre todos os emergentes ou em desenvolvimento.

Somos o penúltimo país na taxa de investimento governamental, que vai para a infraestrutura. Só perdemos para o Turcomenistão, numa lista de 135 países. São dados objetivos para analisarmos disse ele, recebendo aplausos. Falta recurso? Não é só isso. Falta planejamento no investimento governamental, falta qualidade de gestão e capacidade para fazer um sequenciamento dos investimentos, porque quando tudo é prioritário, nada é prioritário.

Ao falar da necessidade de mudanças na política fiscal para reduzir a carga tributária, Serra disse: Prometo Eu não gosto de falar a palavra, então anuncio que, se eu vier a ser presidente, como espero, no dia 2 de janeiro tem um projeto eliminando o PIS/Cofins do (setor de) saneamento.

Serra voltou a dizer que o Banco Central não é a Santa Sé e alfinetou Dilma sobre a política tributária: Não entendi o que a ministra Dilma disse a respeito de tributação. Pensei até que ia poder saber qual é a posição do governo federal a esse respeito, porque passaram-se oito anos e não conseguiram votar nenhum projeto.

Primeira a falar, e sempre usando o verbo na primeira pessoa do plural, como se estivesse no governo, Dilma fez uma promessa enfática de manutenção de contratos, para desfazer qualquer receio do mercado com as propostas mais radicais: A revisão de contratos cria instabilidade de um lado e defasagens de outro. Para rever qualquer contrato, o Brasil para. Isso implicaria diminuição do crescimento. Criaria turbulência generalizada.

No governo do presidente Lula, do qual tive a honra de participar, demos demonstração de maturidade. Muitas vezes não concordamos, mas respeitamos todos os contratos.

Dilma prometeu direcionar todo o fôlego de seu eventual governo para aprovar a reforma tributária cobrada pelo empresários: O sistema (tributário) é caótico, onera todo mundo.

Na sabatina, Dilma não respondeu à pergunta de Paulo Safra, presidente da Câmara da Indústria da Construção, sobre o excessivo aparelhamento político das agências reguladoras.

Mas, em entrevista depois, disse: Queremos agências profissionais, critérios técnicos? Quero. Mas não acho que tem que acabar com indicação política, mas exigir indicação política com critérios técnicos.

Serra voltou a criticar a partidarização das agências, afirmando que isso desvirtuou as instituições: Fizemos as agências para ter um Estado regulador e não um Estado interventor.

A pré-candidata do PV, Marina Silva, foi a última a falar. Também se comprometeu a fazer a reforma tributária.

No entanto, fez questão de marcar diferenças entre ela, Serra e Dilma: (Tenho) o compromisso, sim, de que podemos fazer uma reforma tributária, mas não com falsas expectativas. Não é fácil. Se fosse fácil, já teriam feito. As pessoas assumem o compromisso com a reforma, mas, depois que ganham (a eleição), fazem a reforma do compromisso.

Marina garantiu que, se eleita, não haverá aventuras na economia: Em política econômica, não defendemos nenhum tipo de aventura.

A estabilidade econômica desses últimos 16 anos nos ensinou que não devemos, em hipótese alguma, abrir mão desse tripé (câmbio flutuante, metas de inflação e estabilidade fiscal).

A autonomia do BC deve permanecer disse Marina, contrapondose a Serra. E depois, se contrapondo a Dilma: Hoje se controla a inflação apenas com a elevação de juros, praticamente, mas sem reduzir gasto público.

E se você reduz gasto público obviamente que você terá condição de ter maiores investimentos.

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