quinta-feira, 20 de maio de 2010

Poupança brasileira à grega :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Bovespa cai mais do que outras grandes Bolsas do mundo nesta temporada de faniquito da finança mundial

A BOVESPA caiu mais das alturas do pico, em abril, do que as grandes Bolsas do mundo.

Tinha subido mais, também. Estava cara, por critérios usuais e nem sempre certeiros de valorização, como os do preço dos papéis em relação ao lucro das empresas. Nesse quesito, estava uns 20% mais cara do que na média dos anos menos doidos da economia brasileira, desde 2006.

Estava mais cara que a média das Bolsas dos emergentes relevantes.

Como é óbvio, a Bovespa apanha devido à confusão da dívida dos governos europeus. Esse assunto chato e estrambótico tornou-se, pois, importante para a elite já não tão pequena dos brasileiros que guardam dinheiro em ações, ora na casa dos centenas de milhares. Mas não é apenas a Europa que avaria a poupança desses investidores.

A Bovespa decerto cai porque é grandinha, tornou-se um mercado respeitável e cheio de não residentes ("estrangeiros"), mais do que de costume conectada aos mercados mundiais e seus tremeliques.

Como bem se sabe, a Bovespa é pesada em recursos naturais, Petrobras e Vale. O Ibovespa caiu cerca de 17% desde o pico de abril. Petrobras e Vale caíram quase de 24% ante seus maiores preços neste ano -em março, para a petroleira; em meados de abril, para a mineradora. O preço dos recursos naturais varia de acordo com as estimativas ou alucinações repentinas do mercado a respeito do futuro do PIB mundial. Varia também porque se especula com o preço do petróleo, entre outros.

Além do mais, as ações da Petrobras estão numa pior desde que o governo decidiu que vai capitalizar a empresa. Isto é, vai aumentar o tamanho da petroleira (número e valor de ações), comprando um naco considerável dos novos papéis.

Ou seja, muito acionista atual da petroleira vai ver sua fatia na empresa cair, não se sabe bem quanto, pois é desconhecido o tamanho da capitalização e o da participação do governo e de outros grandes acionistas nessa Petrobras ampliada.

A capitalização, de tamanho incerto, aumenta a incerteza sobre o preço dos papéis da Petrobras. Ontem, uma ação da Petrobras (Petr4) valia 57% do preço pico de dois anos atrás, maio de 2008, quando estava perto do auge a especulação altista com o preço do petróleo. A Petrobras perdeu bem mais do que o Ibovespa, em pontos, nesse período.

Mas não há nada de muito errado com os principais indicadores da economia brasileira, menos ainda com o das empresas, que lucraram bem no primeiro trimestre. Mas a Bovespa havia "antecipado" bem a boa recuperação da economia. Como se disse, estava um pouco cara.

Obviamente, o colunista não sabe o que vai ser da Bovespa -se costumasse saber, poderia estar rico. Mas note-se que o Ibovespa caiu nesta semana a um nível inferior ao de outro tombo maior do ano, o do início de fevereiro, queda feia também devida à crise greco-europeia.

Tal crise ainda vai dar pano para a manga, mesmo que não acabe em catástrofe. Os juros no Brasil ainda vão subir bem, o que vai desviar um pouco de dinheiro da Bolsa. A novela da Petrobras ainda vai se arrastar.

Isso não quer dizer que a Bolsa vai para esta ou aquela direção. Quer dizer apenas que o mar não está para navegantes de estômago fraco.

Nenhum comentário: