DEU NO VALOR ECONÔMICO
As grandes questões a serem discutidas e votadas no Senado Federal, os temas de interesse do país, as reformas institucionais, os desdobramentos em leis dos planos de governo, tudo isto não está em jogo no traçado da estratégia político-eleitoral do presidente Lula para este ano. Em ordem unida, bem captada por seu exército de negociadores e articuladores, o fim em que empenhará os meios da sua popularidade e o tempo de televisão do PT e do PMDB é a eleição de Dilma Rousseff a presidente da República e, quase que com o mesmo peso, a eleição de uma maioria confortável de senadores, uma vez que a Câmara está garantida.
A candidatura presidencial a suceder-lhe foi formulada, por Lula, há cerca de três anos. De lá para cá, o que foi feito em matéria de ação presidencial teve o objetivo de criar as melhores condições para garantir o duplo objetivo. Por isso as concessões sem limite ao PMDB. Por isso as transgressões à lei. Por isso as rasteiras em aliados históricos para agradar aliados recentes mais poderosos. Sem hesitar.
O que não está posto com a clareza com que foi compreendida a estratégia para eleger Dilma, e só agora, com o fechamento das alianças estaduais, as autoridades próximas a Lula começaram a explicitar, é a cartada presidencial para eleger um Senado de composição favorável, e de lá afastar desafetos.
Lula não quer expulsar apenas seus adversários da oposição, embora esteja neste grupo a maioria das cabeças a tentar cortar. Mas gostaria de ver fora do poder legislativo também colegas de partido.
O Senado que Lula espera fazer para seu sucessor, se for Dilma, e para si próprio, se voltar em 2014, é um clube de convivência mais amável de quantos já se formaram naquela Casa, em sucessivas Legislaturas.
Lula começou a se fixar no Senado quando perdeu a votação da CPMF, há três anos, o imposto sobre o cheque que arrecadava R$ 40 bi, hoje já reposto com folga. O trauma, entretanto, permaneceu, possivelmente pela informação contida naquela derrota. Ficou patente, como se demonstrou, que não haveria futuro, com o paredão erguido nesse Senado, para uma emenda constitucional que instituísse o terceiro mandato consecutivo para o Presidente da República.
Nem a CPMF foi derrubada só pela oposição, nem as demais votações nominais do Senado apresentaram índices importantes de infidelidade, mas os episódios cravaram na mente presidencial a ideia de tomada do Senado.
Votaram contra o imposto do cheque os 14 senadores do DEM, os 13 do PSDB, 3 dos 20 do PMDB, 2 dos 4 do PR, 1 dos 6 do PTB e 1 do PSOL. Votaram a favor os 12 do PT, os 5 do PDT, 1 do PCdoB, 1 do PP, 2 do PRB, 2 do PSB, 12 do PT. Estudo da consultoria Arko Advice analisa votações no Senado de 2003 a 2010. A base do governo não se apresenta tão incontestável quanto o foi na CPMF, o próprio governo não se empenhou na maioria das votações, mas a média de fidelidade, nos partidos governistas, esteve sempre acima de 50%. No PT foi de 77%, no PMDB de 57%, no PP de 70%, PSB 78%, PTB 67%, PCdoB foi de 72%, o PR de 73%. Até o DEM (17%) e o PSDB (13%) votaram a favor do governo. Os maiores percentuais de votos contra o governo estiveram no PSC (66%), no PSDB (58%) e em terceiro lugar no DEM (50%).
Não parece uma zona tão hostil que exija a guerra de extermínio, mas cada um sabe das suas metas.
Do PT, Lula não engole, por exemplo, o senador Paulo Paim (RS), que sempre tem uma proposta contra a posição do governo. Mas não vai ter jeito, ele parece ter reeleição assegurada. Outra de seu partido que também considera problemática (vota 90% com o governo, depois, quanto mais seu voto é necessário, vai contra, é o que explicam), a senadora Serys Slhessarenko (MT), conseguiu deter e ela não se recandidatou. Em seu lugar Lula quer trazer Carlos Abicalil, deputado de confiança do governo nas CPIs mistas do primeiro mandato.
O trabalho mais objetivo do presidente foi o de tentar barrar a eleição de senadores do DEM e do PSDB que, por sinal, estão enfrentando mesmo dificuldades. Tasso Jereissati (PSDB-CE) viu bloqueado o acordo que tinha feito com o governador Cid Gomes (PSB), instado por Lula a lançar dois candidatos da base ao senado na sua chapa de reeleição: Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT). Heráclito Fortes (DEM-PI) encontrou obstáculos fortíssimos com o lançamento de vários candidatos apoiados por Lula, em diferentes chapas de partidos aliados que lançaram candidatos ao governo. Arthur Virgílio (PSDB-AM) tem a reeleição sob alto risco, todas as chapas fortes aderiram ao governo federal e precisou lançar um vereador do PPS ao governo para ter palanque, caso semelhante ao de Jereissatti.
Lula não queria a volta de Flávio Arns (PSDB-PR), senador que já foi do PT e se bandeou para o partido adversário. Mas não foi necessário articular contra ele porque Arns desistiu da reeleição ao Senado para ser o vice do candidato Beto Richa ao governo do Estado. Por último, há um senador do DEM que Lula fazia questão de derrotar, José Agripino (RN), combativo líder do partido. Mas Agripino resiste na categoria dos desafetos que, a exemplo do senador Paulo Paim, o presidente não está conseguindo derrubar.
Além de trabalhar contra, Lula agiu a favor, batalhou muito para garantir a volta de senadores que considera seu esteio no Senado. Fez tudo o que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) queria que fizesse para facilitar sua reeleição. A exigência ao PT do Maranhão para que se aliasse formalmente a Roseana Sarney, desconhecendo até greve de fome de aliados históricos, se deve à decisão de ter José Sarney, presidente do Senado, sob seu controle.
Esses arranjos, aos quais se somarão as vitórias hoje praticamente asseguradas de muitos candidatos petistas ao Senado, bem como o sucesso de aliados do arco de adesões que costurou, dão ao presidente Lula a certeza de que para Dilma, se for eleita, ou para si próprio, se voltar em 2014, o Senado não será mais seu calcanhar de Aquiles. Se combinar a escrita com o eleitorado, assim será.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
As grandes questões a serem discutidas e votadas no Senado Federal, os temas de interesse do país, as reformas institucionais, os desdobramentos em leis dos planos de governo, tudo isto não está em jogo no traçado da estratégia político-eleitoral do presidente Lula para este ano. Em ordem unida, bem captada por seu exército de negociadores e articuladores, o fim em que empenhará os meios da sua popularidade e o tempo de televisão do PT e do PMDB é a eleição de Dilma Rousseff a presidente da República e, quase que com o mesmo peso, a eleição de uma maioria confortável de senadores, uma vez que a Câmara está garantida.
A candidatura presidencial a suceder-lhe foi formulada, por Lula, há cerca de três anos. De lá para cá, o que foi feito em matéria de ação presidencial teve o objetivo de criar as melhores condições para garantir o duplo objetivo. Por isso as concessões sem limite ao PMDB. Por isso as transgressões à lei. Por isso as rasteiras em aliados históricos para agradar aliados recentes mais poderosos. Sem hesitar.
O que não está posto com a clareza com que foi compreendida a estratégia para eleger Dilma, e só agora, com o fechamento das alianças estaduais, as autoridades próximas a Lula começaram a explicitar, é a cartada presidencial para eleger um Senado de composição favorável, e de lá afastar desafetos.
Lula não quer expulsar apenas seus adversários da oposição, embora esteja neste grupo a maioria das cabeças a tentar cortar. Mas gostaria de ver fora do poder legislativo também colegas de partido.
O Senado que Lula espera fazer para seu sucessor, se for Dilma, e para si próprio, se voltar em 2014, é um clube de convivência mais amável de quantos já se formaram naquela Casa, em sucessivas Legislaturas.
Lula começou a se fixar no Senado quando perdeu a votação da CPMF, há três anos, o imposto sobre o cheque que arrecadava R$ 40 bi, hoje já reposto com folga. O trauma, entretanto, permaneceu, possivelmente pela informação contida naquela derrota. Ficou patente, como se demonstrou, que não haveria futuro, com o paredão erguido nesse Senado, para uma emenda constitucional que instituísse o terceiro mandato consecutivo para o Presidente da República.
Nem a CPMF foi derrubada só pela oposição, nem as demais votações nominais do Senado apresentaram índices importantes de infidelidade, mas os episódios cravaram na mente presidencial a ideia de tomada do Senado.
Votaram contra o imposto do cheque os 14 senadores do DEM, os 13 do PSDB, 3 dos 20 do PMDB, 2 dos 4 do PR, 1 dos 6 do PTB e 1 do PSOL. Votaram a favor os 12 do PT, os 5 do PDT, 1 do PCdoB, 1 do PP, 2 do PRB, 2 do PSB, 12 do PT. Estudo da consultoria Arko Advice analisa votações no Senado de 2003 a 2010. A base do governo não se apresenta tão incontestável quanto o foi na CPMF, o próprio governo não se empenhou na maioria das votações, mas a média de fidelidade, nos partidos governistas, esteve sempre acima de 50%. No PT foi de 77%, no PMDB de 57%, no PP de 70%, PSB 78%, PTB 67%, PCdoB foi de 72%, o PR de 73%. Até o DEM (17%) e o PSDB (13%) votaram a favor do governo. Os maiores percentuais de votos contra o governo estiveram no PSC (66%), no PSDB (58%) e em terceiro lugar no DEM (50%).
Não parece uma zona tão hostil que exija a guerra de extermínio, mas cada um sabe das suas metas.
Do PT, Lula não engole, por exemplo, o senador Paulo Paim (RS), que sempre tem uma proposta contra a posição do governo. Mas não vai ter jeito, ele parece ter reeleição assegurada. Outra de seu partido que também considera problemática (vota 90% com o governo, depois, quanto mais seu voto é necessário, vai contra, é o que explicam), a senadora Serys Slhessarenko (MT), conseguiu deter e ela não se recandidatou. Em seu lugar Lula quer trazer Carlos Abicalil, deputado de confiança do governo nas CPIs mistas do primeiro mandato.
O trabalho mais objetivo do presidente foi o de tentar barrar a eleição de senadores do DEM e do PSDB que, por sinal, estão enfrentando mesmo dificuldades. Tasso Jereissati (PSDB-CE) viu bloqueado o acordo que tinha feito com o governador Cid Gomes (PSB), instado por Lula a lançar dois candidatos da base ao senado na sua chapa de reeleição: Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT). Heráclito Fortes (DEM-PI) encontrou obstáculos fortíssimos com o lançamento de vários candidatos apoiados por Lula, em diferentes chapas de partidos aliados que lançaram candidatos ao governo. Arthur Virgílio (PSDB-AM) tem a reeleição sob alto risco, todas as chapas fortes aderiram ao governo federal e precisou lançar um vereador do PPS ao governo para ter palanque, caso semelhante ao de Jereissatti.
Lula não queria a volta de Flávio Arns (PSDB-PR), senador que já foi do PT e se bandeou para o partido adversário. Mas não foi necessário articular contra ele porque Arns desistiu da reeleição ao Senado para ser o vice do candidato Beto Richa ao governo do Estado. Por último, há um senador do DEM que Lula fazia questão de derrotar, José Agripino (RN), combativo líder do partido. Mas Agripino resiste na categoria dos desafetos que, a exemplo do senador Paulo Paim, o presidente não está conseguindo derrubar.
Além de trabalhar contra, Lula agiu a favor, batalhou muito para garantir a volta de senadores que considera seu esteio no Senado. Fez tudo o que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) queria que fizesse para facilitar sua reeleição. A exigência ao PT do Maranhão para que se aliasse formalmente a Roseana Sarney, desconhecendo até greve de fome de aliados históricos, se deve à decisão de ter José Sarney, presidente do Senado, sob seu controle.
Esses arranjos, aos quais se somarão as vitórias hoje praticamente asseguradas de muitos candidatos petistas ao Senado, bem como o sucesso de aliados do arco de adesões que costurou, dão ao presidente Lula a certeza de que para Dilma, se for eleita, ou para si próprio, se voltar em 2014, o Senado não será mais seu calcanhar de Aquiles. Se combinar a escrita com o eleitorado, assim será.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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