DEU EM O GLOBO
Há razões muito fortes para que a agenda da sustentabilidade seja um dos eixos, senão o principal eixo, das transformações que a cidade do Rio de Janeiro almeja com a realização dos Jogos Olímpicos em 2016.
Em primeiro lugar, está a competição internacional entre as cidades globais e sua relação com o mais precioso, ainda que intangível, dos ativos nessa disputa: a marca.
É compreensível que uma região com carências em infraestrutura urbana e social tenda a examinar o legado dos Jogos Olímpicos voltada para os avanços na superação dessas deficiências, mas a conquista com maior taxa de retorno pela realização de um evento desse porte é o fortalecimento da marca da cidade.
Na agenda do mundo em 2016 é certo que continuarão prioritárias as diversas dimensões da crise ambiental, muito especialmente a mudança climática e as grandes transformações na oferta de energia, nas cidades e na dinâmica tecnológica que o esforço para evitar os piores cenários de aquecimento global impõe.
De outro lado, a marca da cidade do Rio de Janeiro é exatamente essa: a de "capital ecológica" do planeta. Isso pode parecer surpreendente aos que acompanham a degradação de áreas como a Baía de Guanabara, manguezais, lagoas ou a falta de saneamento em muitas comunidades da cidade, mas a surpresa decorre apenas do fato de não incluirmos nessa conta o ainda imenso valor de nossos ativos naturais e históricos.
A agenda do mundo estará focada em sustentabilidade e os olhos de todos no planeta estarão voltados para o Rio. Poderemos fortalecer muito a marca da cidade se ela conseguir se apresentar ao mundo, não como uma cidade já sustentável, pretensão que trabalharia contra a credibilidade da imagem, mas como cidade em movimento para um desenvolvimento mais sustentável. Como seria possível demonstrá-lo e orientar investimentos nessa direção?
Em primeiríssimo lugar, os equipamentos olímpicos e, especialmente, a maior de todas as vitrines, o Maracanã, deveriam ser casos de sucesso na incorporação das mais modernas práticas de construções sustentáveis e eficiência energética, indo, a exemplo dos equipamentos para os Jogos de Londres em 2010, muito além das certificações exigidas pelo COI ou pela Fifa.
Uma ideia suplementar do ponto de vista da credibilidade do legado dos Jogos e do fortalecimento dessa marca para a cidade seria uma orientação para a ação e uma estratégia de comunicação bastante simples e amigável: avanços sustentáveis nas "águas", no "ar" e nas "terras" da cidade. Com metas mensuráveis, reportáveis e verificáveis.
Com relação às águas, por exemplo, as metas deveriam ser relativas a um grande aumento do percentual de domicílios com saneamento básico e a avanços significativos na limpeza das águas da Baia de Guanabara e do sistema lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
O ar da cidade tem uma dimensão relativa à poluição local e outra relativa à emissão de gases de efeito estufa (GEE) que aquecem o planeta. No primeiro caso, trata-se de definir os indicadores que serão utilizados para auferir a melhoria na qualidade do ar que respiramos.
No caso da redução das emissões de GEE de responsabilidade da cidade, as metas propostas pelo prefeito Eduardo Paes e em tramitação na Câmara de Vereadores estão bem alinhadas com os melhores esforços das principais cidades do mundo: 12% de redução até 2012, 16% até 2016 e 20% até 2020, sem considerar o acréscimo decorrente da entrada em operação da CSA, que será tratado em trilho próprio pelos governos federal, estadual e municipal.
A meta até 2012 poderá ser obtida apenas com a modernização na coleta de lixo, o novo centro de tratamento de resíduos em Seropédica e o encerramento das operações no aterro de Gramacho. As metas até o ano dos Jogos dependerão da implantação dos projetos de BRT (Bus Rapid Transit, ônibus articulados em vias exclusivas) e da tecnologia que neles será utilizada, do cumprimento das metas de reflorestamento e de muito planejamento, parcerias e investimentos públicos e privados.
Quanto às nossas "terras", o compromisso assumido na candidatura aos Jogos foi a meta extremamente ambiciosa de 24 milhões de novas árvores no Estado do Rio até 2016. Basta cumpri-lo.
Finalmente, haveria uma externalidade positiva muito importante: o envolvimento dos atores sociais e da população com metas mensuráveis, facilmente identificáveis e de alto valor simbólico e coletivo.
Sérgio Besserman é presidente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro e foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Há razões muito fortes para que a agenda da sustentabilidade seja um dos eixos, senão o principal eixo, das transformações que a cidade do Rio de Janeiro almeja com a realização dos Jogos Olímpicos em 2016.
Em primeiro lugar, está a competição internacional entre as cidades globais e sua relação com o mais precioso, ainda que intangível, dos ativos nessa disputa: a marca.
É compreensível que uma região com carências em infraestrutura urbana e social tenda a examinar o legado dos Jogos Olímpicos voltada para os avanços na superação dessas deficiências, mas a conquista com maior taxa de retorno pela realização de um evento desse porte é o fortalecimento da marca da cidade.
Na agenda do mundo em 2016 é certo que continuarão prioritárias as diversas dimensões da crise ambiental, muito especialmente a mudança climática e as grandes transformações na oferta de energia, nas cidades e na dinâmica tecnológica que o esforço para evitar os piores cenários de aquecimento global impõe.
De outro lado, a marca da cidade do Rio de Janeiro é exatamente essa: a de "capital ecológica" do planeta. Isso pode parecer surpreendente aos que acompanham a degradação de áreas como a Baía de Guanabara, manguezais, lagoas ou a falta de saneamento em muitas comunidades da cidade, mas a surpresa decorre apenas do fato de não incluirmos nessa conta o ainda imenso valor de nossos ativos naturais e históricos.
A agenda do mundo estará focada em sustentabilidade e os olhos de todos no planeta estarão voltados para o Rio. Poderemos fortalecer muito a marca da cidade se ela conseguir se apresentar ao mundo, não como uma cidade já sustentável, pretensão que trabalharia contra a credibilidade da imagem, mas como cidade em movimento para um desenvolvimento mais sustentável. Como seria possível demonstrá-lo e orientar investimentos nessa direção?
Em primeiríssimo lugar, os equipamentos olímpicos e, especialmente, a maior de todas as vitrines, o Maracanã, deveriam ser casos de sucesso na incorporação das mais modernas práticas de construções sustentáveis e eficiência energética, indo, a exemplo dos equipamentos para os Jogos de Londres em 2010, muito além das certificações exigidas pelo COI ou pela Fifa.
Uma ideia suplementar do ponto de vista da credibilidade do legado dos Jogos e do fortalecimento dessa marca para a cidade seria uma orientação para a ação e uma estratégia de comunicação bastante simples e amigável: avanços sustentáveis nas "águas", no "ar" e nas "terras" da cidade. Com metas mensuráveis, reportáveis e verificáveis.
Com relação às águas, por exemplo, as metas deveriam ser relativas a um grande aumento do percentual de domicílios com saneamento básico e a avanços significativos na limpeza das águas da Baia de Guanabara e do sistema lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
O ar da cidade tem uma dimensão relativa à poluição local e outra relativa à emissão de gases de efeito estufa (GEE) que aquecem o planeta. No primeiro caso, trata-se de definir os indicadores que serão utilizados para auferir a melhoria na qualidade do ar que respiramos.
No caso da redução das emissões de GEE de responsabilidade da cidade, as metas propostas pelo prefeito Eduardo Paes e em tramitação na Câmara de Vereadores estão bem alinhadas com os melhores esforços das principais cidades do mundo: 12% de redução até 2012, 16% até 2016 e 20% até 2020, sem considerar o acréscimo decorrente da entrada em operação da CSA, que será tratado em trilho próprio pelos governos federal, estadual e municipal.
A meta até 2012 poderá ser obtida apenas com a modernização na coleta de lixo, o novo centro de tratamento de resíduos em Seropédica e o encerramento das operações no aterro de Gramacho. As metas até o ano dos Jogos dependerão da implantação dos projetos de BRT (Bus Rapid Transit, ônibus articulados em vias exclusivas) e da tecnologia que neles será utilizada, do cumprimento das metas de reflorestamento e de muito planejamento, parcerias e investimentos públicos e privados.
Quanto às nossas "terras", o compromisso assumido na candidatura aos Jogos foi a meta extremamente ambiciosa de 24 milhões de novas árvores no Estado do Rio até 2016. Basta cumpri-lo.
Finalmente, haveria uma externalidade positiva muito importante: o envolvimento dos atores sociais e da população com metas mensuráveis, facilmente identificáveis e de alto valor simbólico e coletivo.
Sérgio Besserman é presidente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro e foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
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