DEU EM O GLOBO
Com o forte aquecimento da economia do país e o real valorizado, as importações bateram recorde fazendo a balança comercial registrar no primeiro semestre um tombo de 43,7% no superávit, em relação ao mesmo período do ano passado. A diferença entre exportações e importações de janeiro a junho caiu para US$ 7,8 bilhões, ante US$ 13,9 bilhões no primeiro semestre de 2009, no pior saldo comercial desde 2002. As compras no exterior foram puxadas pela alta de 49% nos bens de consumo, com destaque para automóveis (72,3%) e eletrodomésticos (122%). Para economistas, a disparada das importações mostra que a economia está superaquecida, o que pode provocar mais inflação. A forte queda do superávit também piora o déficit externo, tomando o Brasil mais vulnerável.
A farra dos importados
Compras externas disparam e país tem no semestre pior saldo comercial em 8 anos
Eliane Oliveira
Mesmo com um dia útil a mais (123) do que no período anterior, a balança comercial do primeiro semestre de 2010 registrou superávit 43,7% menor do que nos seis primeiros meses de 2009. A diferença entre exportações e importações de janeiro a junho deste ano foi de US$7,887 bilhões, ante US$13,907 bilhões ano passado, o pior resultado desde 2002, quando foi contabilizado saldo negativo de US$2,618 bilhões. O forte aquecimento do mercado interno, ajudado pelo real valorizado frente ao dólar, fez os gastos no exterior, principalmente de bens de consumo, explodirem, batendo recorde histórico.
- O aumento das importações de bens de consumo está bastante ligado ao aquecimento da economia brasileira - comentou o secretário-adjunto de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Fábio Faria.
O total importado de janeiro a junho de 2010, de US$81,302 bilhões e média diária de US$661 milhões, teve acréscimo de 43,9% em relação ao montante apurado no primeiro semestre de 2009. As compras externas de bens de consumo duráveis aumentaram 49%, com destaque para os automóveis, que registraram alta de 72,3%, e os eletrodomésticos, com 122%. Os gastos com bens de capital subiram 26,2%; matérias-primas, 42,8%; e combustíveis e lubrificantes, 65%.
As aquisições de produtos chineses aumentaram 57,7% no semestre. Só no mês passado, as importações da China subiram nada menos do que 83,7%, em comparação a junho de 2009.
Destacaram-se eletroeletrônicos, químicos, siderúrgicos e instrumentos de ótica e precisão. Já as vendas brasileiras caíram 2,9% para o país asiático e 5,5% para a África - mercado disputado por brasileiros e chineses. A China comprou menos aviões, soja e celulose do Brasil.
Por outro lado, as exportações no primeiro semestre de 2010, de US$89,189 bilhões e média diária de US$725,1 milhões, aumentaram bem menos: 26,5%. A taxa, porém, é superior à projeção de crescimento para o comércio mundial em 2010 (16%). Fábio Faria disse que houve recuperação das vendas brasileiras de manufaturados para América Latina e Caribe:
- O aumento da participação desses dois mercados na pauta brasileira foi de 21% para 24%. Além disso, ainda não há efeito da crise europeia nas exportações brasileiras.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os veículos importados já respondem por 18% do mercado brasileiro e 60% das compras são de países com os quais o Brasil tem tarifa zero de importação: México e Argentina.
- As importações estão bombando não só por causa de nosso mercado. O câmbio está facilitando e incentivando enormemente a compra de eletroeletrônicos, componentes e produtos acabados. Enquanto não houver medidas compensatórias, devemos continuar tendo saldo extremamente negativo - previu o presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
A estimativa da Abinee é de déficit de US$25 bilhões este ano no setor eletroeletrônico. Em 2009, o saldo ficou negativo em US$17 bilhões.
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apesar do superávit fraco, há uma relação "mais ou menos equilibrada" do comércio brasileiro este ano ante o que se viu no primeiro semestre de 2008, antes da crise global.
- Em termos de valores, a exportação não está tão ruim, embora a balança esteja sendo sustentada, principalmente, por soja, minérios e petróleo - disse Castro.
Os destaques nas vendas externas brasileiras foram máquinas e aparelhos de terraplanagem, veículos de carga, óleos combustíveis, automóveis, minério de ferro, carnes bovina e de frango, óleo de soja e celulose.
Economista alerta para dependência externa
Para Roberto Padovani, economista do banco WestLB, a disparada das importações é um sinal claro de que a economia brasileira está superaquecida, ou seja, cresce acima do que é capaz sem gerar desequilíbrios:
- O Brasil precisa recorrer cada vez mais ao exterior para se abastecer. Não consegue produzir o que precisa. E isso tem dois efeitos: mais inflação e aumento da importação.
O Brasil cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2009. Para Padovani, o país pode crescer entre 4,5% e 5% sem produzir desequilíbrios.
Luis Otávio Leal, economista do Banco ABC Brasil, acrescenta que o tombo no superávit comercial vai piorar o déficit em conta corrente do país, o que torna o Brasil mais dependente do humor do financiamento externo:
- Se essa conta não for equilibrada, o real pode se desvalorizar ou BC terá que usar reservas internacionais para tapar o buraco.
No mês passado, o Brasil exportou US$17,095 bilhões (média diária de US$814 milhões) e importou US$14,817 bilhões (média diária de US$705,6 milhões), resultando no superávit de US$2,278 bilhões. Sobre junho de 2009, as exportações subiram 18,2% e as importações, 50,2%. O saldo comercial diminuiu 50,5%.
De janeiro a junho deste ano, a China liderou a lista de principais mercados compradores de produtos brasileiros, com destaque para soja, petróleo, óleo de soja, couros e peles, aviões e açúcar. Os Estados Unidos ficaram em segundo. No mesmo período, o maior mercado fornecedor para o Brasil foram os EUA, com bens de capital, diesel, carvão, químicos, eletroeletrônicos, plásticos e produtos farmacêuticos.
COLABOROU: Bruno Villas Bôas
Com o forte aquecimento da economia do país e o real valorizado, as importações bateram recorde fazendo a balança comercial registrar no primeiro semestre um tombo de 43,7% no superávit, em relação ao mesmo período do ano passado. A diferença entre exportações e importações de janeiro a junho caiu para US$ 7,8 bilhões, ante US$ 13,9 bilhões no primeiro semestre de 2009, no pior saldo comercial desde 2002. As compras no exterior foram puxadas pela alta de 49% nos bens de consumo, com destaque para automóveis (72,3%) e eletrodomésticos (122%). Para economistas, a disparada das importações mostra que a economia está superaquecida, o que pode provocar mais inflação. A forte queda do superávit também piora o déficit externo, tomando o Brasil mais vulnerável.
A farra dos importados
Compras externas disparam e país tem no semestre pior saldo comercial em 8 anos
Eliane Oliveira
Mesmo com um dia útil a mais (123) do que no período anterior, a balança comercial do primeiro semestre de 2010 registrou superávit 43,7% menor do que nos seis primeiros meses de 2009. A diferença entre exportações e importações de janeiro a junho deste ano foi de US$7,887 bilhões, ante US$13,907 bilhões ano passado, o pior resultado desde 2002, quando foi contabilizado saldo negativo de US$2,618 bilhões. O forte aquecimento do mercado interno, ajudado pelo real valorizado frente ao dólar, fez os gastos no exterior, principalmente de bens de consumo, explodirem, batendo recorde histórico.
- O aumento das importações de bens de consumo está bastante ligado ao aquecimento da economia brasileira - comentou o secretário-adjunto de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Fábio Faria.
O total importado de janeiro a junho de 2010, de US$81,302 bilhões e média diária de US$661 milhões, teve acréscimo de 43,9% em relação ao montante apurado no primeiro semestre de 2009. As compras externas de bens de consumo duráveis aumentaram 49%, com destaque para os automóveis, que registraram alta de 72,3%, e os eletrodomésticos, com 122%. Os gastos com bens de capital subiram 26,2%; matérias-primas, 42,8%; e combustíveis e lubrificantes, 65%.
As aquisições de produtos chineses aumentaram 57,7% no semestre. Só no mês passado, as importações da China subiram nada menos do que 83,7%, em comparação a junho de 2009.
Destacaram-se eletroeletrônicos, químicos, siderúrgicos e instrumentos de ótica e precisão. Já as vendas brasileiras caíram 2,9% para o país asiático e 5,5% para a África - mercado disputado por brasileiros e chineses. A China comprou menos aviões, soja e celulose do Brasil.
Por outro lado, as exportações no primeiro semestre de 2010, de US$89,189 bilhões e média diária de US$725,1 milhões, aumentaram bem menos: 26,5%. A taxa, porém, é superior à projeção de crescimento para o comércio mundial em 2010 (16%). Fábio Faria disse que houve recuperação das vendas brasileiras de manufaturados para América Latina e Caribe:
- O aumento da participação desses dois mercados na pauta brasileira foi de 21% para 24%. Além disso, ainda não há efeito da crise europeia nas exportações brasileiras.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os veículos importados já respondem por 18% do mercado brasileiro e 60% das compras são de países com os quais o Brasil tem tarifa zero de importação: México e Argentina.
- As importações estão bombando não só por causa de nosso mercado. O câmbio está facilitando e incentivando enormemente a compra de eletroeletrônicos, componentes e produtos acabados. Enquanto não houver medidas compensatórias, devemos continuar tendo saldo extremamente negativo - previu o presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
A estimativa da Abinee é de déficit de US$25 bilhões este ano no setor eletroeletrônico. Em 2009, o saldo ficou negativo em US$17 bilhões.
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apesar do superávit fraco, há uma relação "mais ou menos equilibrada" do comércio brasileiro este ano ante o que se viu no primeiro semestre de 2008, antes da crise global.
- Em termos de valores, a exportação não está tão ruim, embora a balança esteja sendo sustentada, principalmente, por soja, minérios e petróleo - disse Castro.
Os destaques nas vendas externas brasileiras foram máquinas e aparelhos de terraplanagem, veículos de carga, óleos combustíveis, automóveis, minério de ferro, carnes bovina e de frango, óleo de soja e celulose.
Economista alerta para dependência externa
Para Roberto Padovani, economista do banco WestLB, a disparada das importações é um sinal claro de que a economia brasileira está superaquecida, ou seja, cresce acima do que é capaz sem gerar desequilíbrios:
- O Brasil precisa recorrer cada vez mais ao exterior para se abastecer. Não consegue produzir o que precisa. E isso tem dois efeitos: mais inflação e aumento da importação.
O Brasil cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2009. Para Padovani, o país pode crescer entre 4,5% e 5% sem produzir desequilíbrios.
Luis Otávio Leal, economista do Banco ABC Brasil, acrescenta que o tombo no superávit comercial vai piorar o déficit em conta corrente do país, o que torna o Brasil mais dependente do humor do financiamento externo:
- Se essa conta não for equilibrada, o real pode se desvalorizar ou BC terá que usar reservas internacionais para tapar o buraco.
No mês passado, o Brasil exportou US$17,095 bilhões (média diária de US$814 milhões) e importou US$14,817 bilhões (média diária de US$705,6 milhões), resultando no superávit de US$2,278 bilhões. Sobre junho de 2009, as exportações subiram 18,2% e as importações, 50,2%. O saldo comercial diminuiu 50,5%.
De janeiro a junho deste ano, a China liderou a lista de principais mercados compradores de produtos brasileiros, com destaque para soja, petróleo, óleo de soja, couros e peles, aviões e açúcar. Os Estados Unidos ficaram em segundo. No mesmo período, o maior mercado fornecedor para o Brasil foram os EUA, com bens de capital, diesel, carvão, químicos, eletroeletrônicos, plásticos e produtos farmacêuticos.
COLABOROU: Bruno Villas Bôas
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