DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Jornalista norte-americano radicado há quase 30 anos no Brasil, Michael Kepp escreveu um artigo didático sobre as campanhas eleitorais no Brasil e nos Estados Unidos, dizendo que lá equivalem a uma maratona e aqui se parecem com corridas de 100 metros rasos.
Usa essa imagem para concluir que os candidatos brasileiros falam pouco com o eleitor, se expõem o mínimo indispensável, enquanto os americanos se submetem a um teste rigoroso e prolongado de resistência perante o público.
Antes disso, vencem a prova dentro dos respectivos partidos em eleições primárias que duram meses e passam por todos os Estados da Federação.
A campanha americana dura pelo menos dois anos, a mobilização por arrecadação financeira é monumental, pois não existe horário gratuito na televisão, as entrevistas são agressivas, as cobranças contundentes e a vigilância sobre os candidatos muito estreita.
Pessoal, profissional e politicamente falando. Veículos de comunicação tomam posição em favor deste ou daquele e nem por isso são patrulhados ou têm contestada sua legitimidade para entrevistar quem quer que seja.
As mulheres são entrevistadas, a família vive sob o holofote, a vida pregressa é esquadrinhada e a ninguém ocorre pedir que os jornalistas sejam gentis durante as entrevistas. Não passa pela cabeça de governante ou militante cobrar da imprensa tratamento reverente e muito menos os veículos de comunicação ficariam intimidados com isso sentindo-se no dever de aliviar a mão.
O entendimento geral é o de que a cobrança dura é uma obrigação, assim como a exposição de todas as questões que possam constranger o candidato, amanhã ou depois assombrar o governante eleito e, portanto, criar problemas para o país.
Michael Kepp afirma que os candidatos nos Estados Unidos pagam um preço em termos de exposição que nenhum deles estaria disposto a pagar no Brasil.
Está correto no diagnóstico. São uns boas vidas, escondem-se atrás das maquinações publicitárias, reivindicam direito a privacidade, dão-se ao desfrute de escolher sobre o que falam e a respeito do que preferem calar. Coisa típica de país em que o Estado em alguns aspectos ainda se impõe à sociedade.
Haja vista a possibilidade de um candidato à Presidência da República ser fruto da vontade de um só ou de meia dúzia, em decisões autocráticas ou decorrentes de acertos de cúpulas.
O presidente Luiz Inácio da Silva chama atenção porque exacerba e exibe o contraste entre o PT ativo de ontem e o partido passivo de hoje. Mas o processo de escolha de candidaturas na essência não é diferente em outros partidos.
São as cúpulas que decidem. A realização de prévias é quase uma confissão de fracasso entre nós. Quando um partido faz prévias em algum Estado considera-se que naquela seção há uma divisão irremediável, o que já significa de início uma desvantagem eleitoral.
O que deveria ser sinônimo de vivacidade é tradução de fragilidade e incapacidade de "todos se unirem" em vontade única.
Esse tipo de desconforto em relação ao contraditório é que engessa os debates, cria regra em cima de regra, faz os políticos inventarem leis que tornam liberdade de expressão um conceito relativo no período eleitoral e também sustenta uma tese supostamente politicamente correta: a de que PT e PSDB deveriam parar de se opor e unir-se em governo de excelências.
É uma utopia boboquinha que frequenta tanto as cabeças de bem-intencionados quanto as bocas de espertos que celebram a unidade em benefício próprio.
A política fica mais fácil de ser feita quando pasteurizada, desprovida de nitidez, sem antagonistas. Em compensação, fica mais distante do cidadão e reduzida a ofício para iniciados.
Reclama-se agora da falta de "emoção" na campanha e nos candidatos. Talvez o erro não esteja nas pessoas. Mas no modo anacrônico de se fazer as coisas.
Impositivo, restritivo, cheio de obrigações, de truques, de ilegalidades e de armações que são em si a negação do sentido de democracia.
Jornalista norte-americano radicado há quase 30 anos no Brasil, Michael Kepp escreveu um artigo didático sobre as campanhas eleitorais no Brasil e nos Estados Unidos, dizendo que lá equivalem a uma maratona e aqui se parecem com corridas de 100 metros rasos.
Usa essa imagem para concluir que os candidatos brasileiros falam pouco com o eleitor, se expõem o mínimo indispensável, enquanto os americanos se submetem a um teste rigoroso e prolongado de resistência perante o público.
Antes disso, vencem a prova dentro dos respectivos partidos em eleições primárias que duram meses e passam por todos os Estados da Federação.
A campanha americana dura pelo menos dois anos, a mobilização por arrecadação financeira é monumental, pois não existe horário gratuito na televisão, as entrevistas são agressivas, as cobranças contundentes e a vigilância sobre os candidatos muito estreita.
Pessoal, profissional e politicamente falando. Veículos de comunicação tomam posição em favor deste ou daquele e nem por isso são patrulhados ou têm contestada sua legitimidade para entrevistar quem quer que seja.
As mulheres são entrevistadas, a família vive sob o holofote, a vida pregressa é esquadrinhada e a ninguém ocorre pedir que os jornalistas sejam gentis durante as entrevistas. Não passa pela cabeça de governante ou militante cobrar da imprensa tratamento reverente e muito menos os veículos de comunicação ficariam intimidados com isso sentindo-se no dever de aliviar a mão.
O entendimento geral é o de que a cobrança dura é uma obrigação, assim como a exposição de todas as questões que possam constranger o candidato, amanhã ou depois assombrar o governante eleito e, portanto, criar problemas para o país.
Michael Kepp afirma que os candidatos nos Estados Unidos pagam um preço em termos de exposição que nenhum deles estaria disposto a pagar no Brasil.
Está correto no diagnóstico. São uns boas vidas, escondem-se atrás das maquinações publicitárias, reivindicam direito a privacidade, dão-se ao desfrute de escolher sobre o que falam e a respeito do que preferem calar. Coisa típica de país em que o Estado em alguns aspectos ainda se impõe à sociedade.
Haja vista a possibilidade de um candidato à Presidência da República ser fruto da vontade de um só ou de meia dúzia, em decisões autocráticas ou decorrentes de acertos de cúpulas.
O presidente Luiz Inácio da Silva chama atenção porque exacerba e exibe o contraste entre o PT ativo de ontem e o partido passivo de hoje. Mas o processo de escolha de candidaturas na essência não é diferente em outros partidos.
São as cúpulas que decidem. A realização de prévias é quase uma confissão de fracasso entre nós. Quando um partido faz prévias em algum Estado considera-se que naquela seção há uma divisão irremediável, o que já significa de início uma desvantagem eleitoral.
O que deveria ser sinônimo de vivacidade é tradução de fragilidade e incapacidade de "todos se unirem" em vontade única.
Esse tipo de desconforto em relação ao contraditório é que engessa os debates, cria regra em cima de regra, faz os políticos inventarem leis que tornam liberdade de expressão um conceito relativo no período eleitoral e também sustenta uma tese supostamente politicamente correta: a de que PT e PSDB deveriam parar de se opor e unir-se em governo de excelências.
É uma utopia boboquinha que frequenta tanto as cabeças de bem-intencionados quanto as bocas de espertos que celebram a unidade em benefício próprio.
A política fica mais fácil de ser feita quando pasteurizada, desprovida de nitidez, sem antagonistas. Em compensação, fica mais distante do cidadão e reduzida a ofício para iniciados.
Reclama-se agora da falta de "emoção" na campanha e nos candidatos. Talvez o erro não esteja nas pessoas. Mas no modo anacrônico de se fazer as coisas.
Impositivo, restritivo, cheio de obrigações, de truques, de ilegalidades e de armações que são em si a negação do sentido de democracia.
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