DEU EM O GLOBO
Economistas contestam Dilma, que culpou FH por avanço menor. Para Arminio, crise de 2002 foi causada por medo do PT
Henrique Gomes Batista
A afirmação da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, sobre o crescimento econômico brasileiro nos últimos anos é contestada por economistas.
Os especialistas discordam de Dilma, que, em entrevista na segunda-feira ao Jornal Nacional, da Rede Globo, culpou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelas baixas taxas de crescimento nos já quase oito anos de governo Lula. Questionada sobre o avanço menor do Brasil em relação a nações vizinhas, Dilma disse que o atual governo teve de fazer um grande esforço para controlar as finanças, principalmente por causa da dívida pública externa elevada e a inflação sem controle.
Entre 2003 e 2009, primeiros sete anos do governo Lula, a expansão da economia brasileira, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal, órgão da ONU) foi de 27,16%, bem abaixo dos 65,56% do Panamá, 65,05% da Argentina, 51,54% do Peru e 44,98% da Venezuela. O país, pela lista da Cepal, só avançou mais que Paraguai (26%), Nicarágua (23%), El Salvador (16%) e México (12%).
China e Índia, países que compõem o grupo dos Brics, também crescem, sistematicamente, mais que o Brasil. Em 2009, enquanto a economia brasileira se retraiu 0,2%, a China registrava expansão de 8,7%, e a Índia de 6,1%.
Arminio Fraga, presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso e atualmente na gestora de recursos Gávea Investimentos, afirma que a crise de 2002 que gerou um repique inflacionário por uma forte valorização do dólar não foi causada pelo governo que estava no fim do poder.
A crise em 2002 foi baseada no medo do que viria a partir de 2003, medo do projeto do PT, dos documentos do PT, do que diziam os petistas. A crise começou a acalmar quando o próprio presidente Lula disse que não faria nada daquilo, e a situação voltou aos eixos com Lula já no governo, ao nomear brilhantemente Antonio Palocci e Henrique Meirelles para a Fazenda e para o Banco Central disse.
Por causa dessa crise, a inflação, que em 2001 foi de 7%, segundo o IPCA (índice oficial), chegou a 12,53% em 2002. No JN, Dilma se referiu a este período, ao afirmar que o governo Lula encontrou a inflação fora de controle.
Já a dívida externa, outro dado citado por Dilma, somava US$ 210,7 bilhões no fim de 2002, e caiu a US$ 198,2 bilhões em 2009, recuo de apenas 6%. A diferença é que, naquela época, o país acumulava reservas de US$ 37,8 bilhões, e este colchão contra crises externas atingiu US$ 238,5 bilhões no ano passado.
Segundo pesquisa do professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, no governo Lula, o crescimento do país se intensificou: a média anual até 2009 foi de 3,55%, contra variação de 2,29% nos oito anos de seu antecessor.
Alguns economistas, no entanto, além de não enxergarem grandes diferenças econômicas entre os dois governos, afirmam que há algumas vantagens no baixo crescimento, em parte limitado por estabilidade econômica e controle da inflação.
Langoni: FH plantou, e Lula está colhendo Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central, enxerga o Brasil em outro ciclo econômico, que teve origens no governo anterior: O governo de Fernando Henrique plantou, e o período de Lula foi de colheita, mas também com alguns acertos que melhoraram o momento disse, lembrando que a fase de expansão sustentada do país começou em 2004, após o governo Lula ter mostrado seriedade ao mercado financeiro e resolvido a vulnerabilidade externa, com aumento de forma consistente das reservas internacionais.
Para Langoni, este novo ciclo combina crescimento sustentável, com inflação controlada e baixa vulnerabilidade externa.
Em sua opinião, porém, o Brasil chegou no bom momento depois de outros emergentes.
Não podemos comparar nosso momento com ciclos longos de crescimento, como o da China ou Índia. Mesmo na região, Chile e Peru chegaram antes que nós disse.
Para ele, o país está reunindo agora condições para crescer de forma sustentada e, se fizer ajustes, poderá aumentar o potencial de crescimento dos atuais 4,5% para 6,5%, aproximando-se de patamares indianos: O desafio do próximo presidente será intensificar a trajetória de crescimento e, para isso, é necessário aumentar investimentos, a poupança interna e a produtividade do Brasil. Há alguns setores da iniciativa privada altamente competitivos, mas o setor público ainda é muito ineficiente.
Com algumas exceções, é obsoleto e burocrático.
Para Arminio Fraga, faltam investimentos Para Arminio Fraga, a solução para intensificar o crescimento do país é conhecida: O problema é a falta de investimentos, tanto em capital físico como em educação.
A especialista em economia internacional da FGV Lia Valls minimiza a comparação do Brasil com outras nações: O Brasil tem uma economia mais diversificada que alguns vizinhos.
Economistas contestam Dilma, que culpou FH por avanço menor. Para Arminio, crise de 2002 foi causada por medo do PT
Henrique Gomes Batista
A afirmação da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, sobre o crescimento econômico brasileiro nos últimos anos é contestada por economistas.
Os especialistas discordam de Dilma, que, em entrevista na segunda-feira ao Jornal Nacional, da Rede Globo, culpou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelas baixas taxas de crescimento nos já quase oito anos de governo Lula. Questionada sobre o avanço menor do Brasil em relação a nações vizinhas, Dilma disse que o atual governo teve de fazer um grande esforço para controlar as finanças, principalmente por causa da dívida pública externa elevada e a inflação sem controle.
Entre 2003 e 2009, primeiros sete anos do governo Lula, a expansão da economia brasileira, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal, órgão da ONU) foi de 27,16%, bem abaixo dos 65,56% do Panamá, 65,05% da Argentina, 51,54% do Peru e 44,98% da Venezuela. O país, pela lista da Cepal, só avançou mais que Paraguai (26%), Nicarágua (23%), El Salvador (16%) e México (12%).
China e Índia, países que compõem o grupo dos Brics, também crescem, sistematicamente, mais que o Brasil. Em 2009, enquanto a economia brasileira se retraiu 0,2%, a China registrava expansão de 8,7%, e a Índia de 6,1%.
Arminio Fraga, presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso e atualmente na gestora de recursos Gávea Investimentos, afirma que a crise de 2002 que gerou um repique inflacionário por uma forte valorização do dólar não foi causada pelo governo que estava no fim do poder.
A crise em 2002 foi baseada no medo do que viria a partir de 2003, medo do projeto do PT, dos documentos do PT, do que diziam os petistas. A crise começou a acalmar quando o próprio presidente Lula disse que não faria nada daquilo, e a situação voltou aos eixos com Lula já no governo, ao nomear brilhantemente Antonio Palocci e Henrique Meirelles para a Fazenda e para o Banco Central disse.
Por causa dessa crise, a inflação, que em 2001 foi de 7%, segundo o IPCA (índice oficial), chegou a 12,53% em 2002. No JN, Dilma se referiu a este período, ao afirmar que o governo Lula encontrou a inflação fora de controle.
Já a dívida externa, outro dado citado por Dilma, somava US$ 210,7 bilhões no fim de 2002, e caiu a US$ 198,2 bilhões em 2009, recuo de apenas 6%. A diferença é que, naquela época, o país acumulava reservas de US$ 37,8 bilhões, e este colchão contra crises externas atingiu US$ 238,5 bilhões no ano passado.
Segundo pesquisa do professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, no governo Lula, o crescimento do país se intensificou: a média anual até 2009 foi de 3,55%, contra variação de 2,29% nos oito anos de seu antecessor.
Alguns economistas, no entanto, além de não enxergarem grandes diferenças econômicas entre os dois governos, afirmam que há algumas vantagens no baixo crescimento, em parte limitado por estabilidade econômica e controle da inflação.
Langoni: FH plantou, e Lula está colhendo Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central, enxerga o Brasil em outro ciclo econômico, que teve origens no governo anterior: O governo de Fernando Henrique plantou, e o período de Lula foi de colheita, mas também com alguns acertos que melhoraram o momento disse, lembrando que a fase de expansão sustentada do país começou em 2004, após o governo Lula ter mostrado seriedade ao mercado financeiro e resolvido a vulnerabilidade externa, com aumento de forma consistente das reservas internacionais.
Para Langoni, este novo ciclo combina crescimento sustentável, com inflação controlada e baixa vulnerabilidade externa.
Em sua opinião, porém, o Brasil chegou no bom momento depois de outros emergentes.
Não podemos comparar nosso momento com ciclos longos de crescimento, como o da China ou Índia. Mesmo na região, Chile e Peru chegaram antes que nós disse.
Para ele, o país está reunindo agora condições para crescer de forma sustentada e, se fizer ajustes, poderá aumentar o potencial de crescimento dos atuais 4,5% para 6,5%, aproximando-se de patamares indianos: O desafio do próximo presidente será intensificar a trajetória de crescimento e, para isso, é necessário aumentar investimentos, a poupança interna e a produtividade do Brasil. Há alguns setores da iniciativa privada altamente competitivos, mas o setor público ainda é muito ineficiente.
Com algumas exceções, é obsoleto e burocrático.
Para Arminio Fraga, faltam investimentos Para Arminio Fraga, a solução para intensificar o crescimento do país é conhecida: O problema é a falta de investimentos, tanto em capital físico como em educação.
A especialista em economia internacional da FGV Lia Valls minimiza a comparação do Brasil com outras nações: O Brasil tem uma economia mais diversificada que alguns vizinhos.
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