1) Os dados da pesquisa Datafolha divulgada ontem recriaram uma possibilidade concreta de 2º turno na disputa presidencial. Que será reforçada, ou atenuada, pelos de outro grande levantamento das tendências eleitorais que está sendo processado, o do Ibope. E que acentuou a importância do debate dos presidenciáveis amanhã à noite na Globo. O Datafolha constatou que as denúncias de escândalos em órgãos federais (a partir das relativas à violação pela Receita do sigilo fiscal de muitos contribuintes, entre os quais familiares do candidato oposicionista José Serra e outras pessoas ligadas ao PSDB, seguidas e agravadas pelas de abusivo tráfico de influência na Casa Civil, bem como pelas reações do governo contra a imprensa com o propósito de abafá-las ou desacreditá-las) que tudo isso terminou sensibilizando parcelas expressivas do eleitorado. Com efeitos enfim traduzidos numa queda de 3%, para 46% , das intenções de voto de Dilma Rousseff, sobretudo no Sul e n Sudeste mas também nas demais regiões, e numa redução a 2% da vantagem dos votos válidos dela sobre os da soma dos adversários. E com dois outros indicadores preocupantes para o Palácio do Planalto e sua candidata – a queda maior, de 5%, se deu no contingente de eleitores que ganham entre 2 e 5 salários mínimos, que constituem 33% da população, e o crescimento do índice de rejeição dela de 21% para 27%.
2) A pesquisa constatou também que essa queda não se deveu a uma elevação do índice do principal adversário de Dilma, José Serra, mantido em 28%, mas teve como beneficiária direta a candidatura de Marina Silva. Que seguiu se fortalecendo, atingindo agora os 14% (quatro pontos além dos 10% que tinha no início de setembro). Seu crescimento resulta da atração de indecisos e de eleitores próximos do PT, que se inclinavam a votar em Dilma. E é sobretudo numa aposta no adensamento desses eleitores, afetados pela repercussão dos escândalos, que se baseia o empenho de Marina e seus apoiadores por uma “onda verde” no final da campanha, que a leve a uma disputa final com Dilma Rousseff. Empenho estimulado pela ultrapassagem de Serra por ela já conseguida no Rio de Janeiro e em Brasília e por avanço de seu baixo índice anterior em São Paulo, em Porto Alegre e em capitais das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, em especial em Salvador.
3) Mas sobram poucos dias para que a campanha de Marina – de um lado, dependente de débil estrutura partidária e destituída de palanques estaduais; de outro, contando só com a metade dos 28% de intenção de votos bem estabilizados do candidato tucano – logre dar a essa “onda” dimensão verdadeiramente nacional e viabilizar o objetivo eleitoral que passou a propor-se. Em face de tais obstáculos e limites, o provável é que à persistência do crescimento da candidatura dela, se chegar a empurrá-la para perto dos 20% (o que era impensável até há pouco), consiga forçar o 2º turno entre Dilma e Serra.
4) Esse crescimento está tendo já, porém, uma consequência política importante: o “risco” que ele gera de um 2º turno coloca o presidente Lula e a campanha de Dilma na defensiva. O receio da concretização de uma “onda verde” em torno de Marina interrompe, pelo menos no Centro-Sul do país, a “onda vermelha” que o PT começava a desencadear (e se intensificaria esta semana), em sintonia com diretivas e metas expostas a militantes do partido duas semanas atrás em Salvador por José Dirceu, e sentindo-se respaldado pela retórica radical usada por Lula contra a mídia e todos aqueles identificados como “inimigos do governo”, em especial candidatos oposicionistas aos governos de estados e ao Senado.
5) Os sinais, progressivos, de que as denúncias dos escândalos passavam a sensibilizar também as classes C e D impuseram rapidamente a troca de respostas agressivas do presidente e de sua candidata, por manifestações de reverência à liberdade de imprensa, em favor de “apuração rigorosa de irregularidades que tenham sido cometidas” (que antes eram factóides) e com recomendação de “discursos moderados nos palanques”. Uma das ações da “onda vermelha” – o encontro realizado em São Paulo por pelegos sindicais e representantes do MST contra o “golpismo da mídia” – teve logo evidenciado seu caráter antidemocrático, chavista, e se esgotou em si mesmo. Numa mudança de postura indicada por marqueteiros mas positiva política e institucionalmente, como a adotada por Dilma ao afirmar dias atrás que “a única censura a ser feita à mídia é a do controle automático da televisão”. O papel desempenhado por Marina Silva para a melhoria do clima político é mais uma contribuição da campanha dela ao pluralismo democrático.
É jornalista
2) A pesquisa constatou também que essa queda não se deveu a uma elevação do índice do principal adversário de Dilma, José Serra, mantido em 28%, mas teve como beneficiária direta a candidatura de Marina Silva. Que seguiu se fortalecendo, atingindo agora os 14% (quatro pontos além dos 10% que tinha no início de setembro). Seu crescimento resulta da atração de indecisos e de eleitores próximos do PT, que se inclinavam a votar em Dilma. E é sobretudo numa aposta no adensamento desses eleitores, afetados pela repercussão dos escândalos, que se baseia o empenho de Marina e seus apoiadores por uma “onda verde” no final da campanha, que a leve a uma disputa final com Dilma Rousseff. Empenho estimulado pela ultrapassagem de Serra por ela já conseguida no Rio de Janeiro e em Brasília e por avanço de seu baixo índice anterior em São Paulo, em Porto Alegre e em capitais das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, em especial em Salvador.
3) Mas sobram poucos dias para que a campanha de Marina – de um lado, dependente de débil estrutura partidária e destituída de palanques estaduais; de outro, contando só com a metade dos 28% de intenção de votos bem estabilizados do candidato tucano – logre dar a essa “onda” dimensão verdadeiramente nacional e viabilizar o objetivo eleitoral que passou a propor-se. Em face de tais obstáculos e limites, o provável é que à persistência do crescimento da candidatura dela, se chegar a empurrá-la para perto dos 20% (o que era impensável até há pouco), consiga forçar o 2º turno entre Dilma e Serra.
4) Esse crescimento está tendo já, porém, uma consequência política importante: o “risco” que ele gera de um 2º turno coloca o presidente Lula e a campanha de Dilma na defensiva. O receio da concretização de uma “onda verde” em torno de Marina interrompe, pelo menos no Centro-Sul do país, a “onda vermelha” que o PT começava a desencadear (e se intensificaria esta semana), em sintonia com diretivas e metas expostas a militantes do partido duas semanas atrás em Salvador por José Dirceu, e sentindo-se respaldado pela retórica radical usada por Lula contra a mídia e todos aqueles identificados como “inimigos do governo”, em especial candidatos oposicionistas aos governos de estados e ao Senado.
5) Os sinais, progressivos, de que as denúncias dos escândalos passavam a sensibilizar também as classes C e D impuseram rapidamente a troca de respostas agressivas do presidente e de sua candidata, por manifestações de reverência à liberdade de imprensa, em favor de “apuração rigorosa de irregularidades que tenham sido cometidas” (que antes eram factóides) e com recomendação de “discursos moderados nos palanques”. Uma das ações da “onda vermelha” – o encontro realizado em São Paulo por pelegos sindicais e representantes do MST contra o “golpismo da mídia” – teve logo evidenciado seu caráter antidemocrático, chavista, e se esgotou em si mesmo. Numa mudança de postura indicada por marqueteiros mas positiva política e institucionalmente, como a adotada por Dilma ao afirmar dias atrás que “a única censura a ser feita à mídia é a do controle automático da televisão”. O papel desempenhado por Marina Silva para a melhoria do clima político é mais uma contribuição da campanha dela ao pluralismo democrático.
É jornalista
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