Quando, no dia 13, altas horas, comecei a ver o resgate dos mineiros da Mina San José, no deserto de Atacama, Chile, não pude deixar de ser tomado espiritualmente pelos meus longos anos vividos naquele maravilhoso país. Lá cheguei, afugentado pelo horror que tomava conta do Brasil, depois do AI-5, no fatídico 13 de dezembro de 1968, no início dos anos 70. Jamais fui exilado. Saí enojado e aterrorizado com o clima que começava a tomar conta da cidade (Porto Alegre) naquela época. Terminara a Faculdade de Economia, me casara, tivera êxito num primeiro pós-graduação da CEPAL realizado aqui e me resolvi caminhar a caminho de mim, embora despido de qualquer segurança, muito jovem.
Indescritível a experiência de chegar, então, num país institucionalizado: Partidos políticos de todas as correntes ideológicos, imprensa de vários matizes, livrarias diversificadas, cursos universitários livres a abertos a todas as correntes. De quebra, a convivência, muitas vezes apenas geográfica, com exilados ilustres, como o Almirante Aragão, acompanhado do indefectível Camacho , doublé de segurança e garçom, supostamente financiado pela União Soviética; com Almino Afonso, José Serra, Plinio Arruda Sampaio, Teotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini e tantos outros; ou as vibrantes aulas de Maria da Conceição Tavares na ESCOLATINA, um Centro de Estudos Latinoamericanos vinculado à Universidade do Chile, verdadeiro centro de formação de economistas críticos, para onde afluíam jovens de todos os países das Américas. Muitos de toda essa diversificada gente via-se , às noites, se deliciando num Restaurante , “Las Lanzas”, onde se saboreava o delicioso “caudillo de congrio rosa”.
Aos poucos meses, todos os chegantes já se aventuravam às delicias do Mercado Público, no centro da cidade, onde , todas as manhãs, chegavam os mais deliciosos frutos do mar do mundo, servidos assim, como estavam no seu habitat, ainda meio vivos, numa terrina carregada de limões espremidos, coentro e outros: ostras frescas, ouriços do mar viscosos, picorocos coloridos, locos... E muito vinho...Mas já no primeiro fim de semana, todos iam ao centro da cidade tomar o cafezinho do Café Brazil, um expresso à época raro no Brasil e lá oferecido por belas e joviais moças extremamente bonitas, muitas das quais dali saíam de casamento feito. No balcão, as moedas do nosso reconhecimento. Pelo serviço. Pela beleza estonteante das meninas.
Pela praxe da época em Santiago.
E assim, ao longo dos anos 70, 71, 72 e 73 foram chegando mais e mais brasileiros.
Chegaram perto dos dez mil. Levas deles, falando alto pelas ruas, arrastando com os locais um espanhol sofrível, tentando trabalhar ou estudar. Grande maioria em torno de 20 anos de idade. Jovens expelidos pela prepotência da ditadura brasileira. Resistentes, patriotas, ingênuos, mais deles anônimos, mas colhidos pela brutalidade que os confundia, a todos, como “terroristas”. E os chilenos recebiam a todos com cordialidade. Até um pouco fascinados pelas cores, pela exagero e extravagância de seus movimentos, pelas idéias arrojadas em termos políticos e de costumes. Não tem preço o que este pequeno país espremido ao longo de 4.000 km entre um mar gelado e uma cordilheira impávida fez por estes brasileiros. (E me incluo, pelo que me ofereceu como vivência e formação profissional. Desde então o Chile faz parte, irremediavelmente, da minha vida.) Todos, claro, encantados com a possibilidade de ver a olhos vistos uma experiência socialista erguer-se das entranhas da sociedade sob a liderança de um líder inconteste: Salvador Allende. A via chilena para o socialismo tão sonhado, via pacífica, ordenada, apoiada por cordões caudalosos de trabalhadores de todas as partes do país. Os mineiros sempre à frente...
Mas o que mais nos impressionava, aos brasileiros, nos contatos mais próximos com os chilenos, era a dignidade dessa gente. A dignidade como enteléquia, um valor em si mesmo que cada um sabia se atribuir. E isto começava nas nossas casas. Filhos da classe média no Brasil, estávamos habituadas- sem nos darmos conta - à convivência opressiva com mulheres que trabalhavam em nossas casas, como empregadas domésticas, faxineiras, zeladoras de prédios, babás. E , no Chile, logo nos apercebemos que tais relações lá não cabiam. Por uma perversa tradição vinda da escravidão as mulheres serviçais, no Brasil, não só não tinham qualquer educação formal, maior parte analfabetas, como eram desligadas do mundo, alienadas e não raro, submetidas à degradação moral , quando não ao assédio sexual. Este fato é revelador do cinismo cultural que nos vende como uma sociedade tolerante e cordial. Jamais. Os brasileiros de classe média são autoritários e prepotentes, tendo importado esses padrões, certamente, da boa sociedade escravocrata e latifundiária.
Indescritível a experiência de chegar, então, num país institucionalizado: Partidos políticos de todas as correntes ideológicos, imprensa de vários matizes, livrarias diversificadas, cursos universitários livres a abertos a todas as correntes. De quebra, a convivência, muitas vezes apenas geográfica, com exilados ilustres, como o Almirante Aragão, acompanhado do indefectível Camacho , doublé de segurança e garçom, supostamente financiado pela União Soviética; com Almino Afonso, José Serra, Plinio Arruda Sampaio, Teotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini e tantos outros; ou as vibrantes aulas de Maria da Conceição Tavares na ESCOLATINA, um Centro de Estudos Latinoamericanos vinculado à Universidade do Chile, verdadeiro centro de formação de economistas críticos, para onde afluíam jovens de todos os países das Américas. Muitos de toda essa diversificada gente via-se , às noites, se deliciando num Restaurante , “Las Lanzas”, onde se saboreava o delicioso “caudillo de congrio rosa”.
Aos poucos meses, todos os chegantes já se aventuravam às delicias do Mercado Público, no centro da cidade, onde , todas as manhãs, chegavam os mais deliciosos frutos do mar do mundo, servidos assim, como estavam no seu habitat, ainda meio vivos, numa terrina carregada de limões espremidos, coentro e outros: ostras frescas, ouriços do mar viscosos, picorocos coloridos, locos... E muito vinho...Mas já no primeiro fim de semana, todos iam ao centro da cidade tomar o cafezinho do Café Brazil, um expresso à época raro no Brasil e lá oferecido por belas e joviais moças extremamente bonitas, muitas das quais dali saíam de casamento feito. No balcão, as moedas do nosso reconhecimento. Pelo serviço. Pela beleza estonteante das meninas.
Pela praxe da época em Santiago.
E assim, ao longo dos anos 70, 71, 72 e 73 foram chegando mais e mais brasileiros.
Chegaram perto dos dez mil. Levas deles, falando alto pelas ruas, arrastando com os locais um espanhol sofrível, tentando trabalhar ou estudar. Grande maioria em torno de 20 anos de idade. Jovens expelidos pela prepotência da ditadura brasileira. Resistentes, patriotas, ingênuos, mais deles anônimos, mas colhidos pela brutalidade que os confundia, a todos, como “terroristas”. E os chilenos recebiam a todos com cordialidade. Até um pouco fascinados pelas cores, pela exagero e extravagância de seus movimentos, pelas idéias arrojadas em termos políticos e de costumes. Não tem preço o que este pequeno país espremido ao longo de 4.000 km entre um mar gelado e uma cordilheira impávida fez por estes brasileiros. (E me incluo, pelo que me ofereceu como vivência e formação profissional. Desde então o Chile faz parte, irremediavelmente, da minha vida.) Todos, claro, encantados com a possibilidade de ver a olhos vistos uma experiência socialista erguer-se das entranhas da sociedade sob a liderança de um líder inconteste: Salvador Allende. A via chilena para o socialismo tão sonhado, via pacífica, ordenada, apoiada por cordões caudalosos de trabalhadores de todas as partes do país. Os mineiros sempre à frente...
Mas o que mais nos impressionava, aos brasileiros, nos contatos mais próximos com os chilenos, era a dignidade dessa gente. A dignidade como enteléquia, um valor em si mesmo que cada um sabia se atribuir. E isto começava nas nossas casas. Filhos da classe média no Brasil, estávamos habituadas- sem nos darmos conta - à convivência opressiva com mulheres que trabalhavam em nossas casas, como empregadas domésticas, faxineiras, zeladoras de prédios, babás. E , no Chile, logo nos apercebemos que tais relações lá não cabiam. Por uma perversa tradição vinda da escravidão as mulheres serviçais, no Brasil, não só não tinham qualquer educação formal, maior parte analfabetas, como eram desligadas do mundo, alienadas e não raro, submetidas à degradação moral , quando não ao assédio sexual. Este fato é revelador do cinismo cultural que nos vende como uma sociedade tolerante e cordial. Jamais. Os brasileiros de classe média são autoritários e prepotentes, tendo importado esses padrões, certamente, da boa sociedade escravocrata e latifundiária.
No Chile, desde que chegamos nos demos conta que se lá existia- também - uma sociedade de classes, que impunha às mulheres mais pobres o trabalho doméstico, isto não tinha absolutamente nada de degradante para elas. Elas chegavam bem vestidas e bem tratadas, cuidavam zelosa e responsavelmente pelos seus afazeres, fixavam, elas próprias uma distância cuidadosa com os patrões, num reconhecimento da formalidade das relações que os envolviam, e se retiravam. Orgulhavam-se de seu ofício. Muito comum eram as enfermeiras que cuidavam de nossos filhos lá nascidos, tarefa que desconhecíamos no Brasil. Que profissionalismo! Que dedicação! Que invejável dignidade! Muitas trabalhavam anos com os brasileiros. E transmitiram aos nossos filhos uma predisposição inexplicável ao espanhol. Meus dois filhos, brasileiros, são bilíngües, sem nunca terem morado no Chile, além de uns poucos meses. Algumas até se casaram a acabaram vindo morar no Brasil. Mas deixavam, sempre, um marco de dignidade em suas vidas.
Com os chilenos, não era diferente, nossa admiração, com exceção, claro, de certos “aritocratas” que, mercê de nossas atividades estudantis, acabávamos topando. E aqui uma observação pertinente. O Chile sempre teve mais da metade de sua população em Santiago, e um pouco mais de 10% nas cidades maiores perto da capital – Valparaíso e Viña Del Mar –e Concepción, ao sul.
Com os chilenos, não era diferente, nossa admiração, com exceção, claro, de certos “aritocratas” que, mercê de nossas atividades estudantis, acabávamos topando. E aqui uma observação pertinente. O Chile sempre teve mais da metade de sua população em Santiago, e um pouco mais de 10% nas cidades maiores perto da capital – Valparaíso e Viña Del Mar –e Concepción, ao sul.
O resto espalhava-se pelo interior, campo e pequenas cidades. Nesse interior, como pudemos ver entre os mineiros resgatados, a população é majoritariamente de origem indígena. Mas na capital, Santiago, diferente de Lima e La Paz, a população é visivelmente branca, fruto não só da colonização espanhola original, mas de levas migratórias sucessivas de populações européias. O Chile não teve, por certo, um Presidente como o argentino Domingo José Sarmiento, adepto franco e promotor do branqueamento da população daquele país através destas migrações concentradas em Buenos Aires.
Santiago, em menor parte, assemelha-se ao fenômeno “porteño” na medida em que apresentava uma capital diferenciada, na qual pontificava com muito maior peso do que na capital argentina, de uma elite branca extremamente autoritária, racista e conservadora. Foi dessa base social que emergiu o golpe contra Allende e de onde proliferam, ainda, fortes suspiros saudosistas da ditadura de Pinochet, de quem o atual Presidente Piñera é herdeiro mitigado.
Todas estas lembranças me acudiram no episódio dos mineiros.
Veja-se a dignidades destes 33 homens resgatados, todos trabalhadores praticamente braçais, submetidos a condições extremamente difíceis, com o agravante dos riscos que correm. Na China, por exemplo, mais de 25000 morrem a cada ano debaixo da terra. No Chile, trabalham por um salário médio de mil dólares, algo menor do que dois mil reais, morando no deserto de Atacama, onde à intempérie se somam outros contratempos ambientais.
Um a um que saía de “lo más genital do lo terrestre”, como diria o grande poeta Pablo Neruda, dava a entender, em torno de si, uma aura de rara dignidade, discreção e orgulho, que logo se irradiava numa torrente de emoções “a lo largo y lo ancho” de todo Chile, reacendendo o patriotismo de um povo há anos submetido à humilhações da história e da geografia.
As mulheres e filhos que esperavam ansiosas, todas bonitas, algumas, já com certa idade, extremamente belas, fazendo jus à imagem que delas faz o mundo, arrumadas, modestamente elegantes, conversando naturalmente com o Presidente da República, sem qualquer demonstração de subserviência ou acanhamento. Que beleza! Mais uma vez a dignidade como marca de um povo que não confunde a pobreza com a degradação social e moral.
À volta dos mineiros e suas famílias, todo um concerto de trabalhadores, todos disciplinadamente dedicados às suas funções.
Aqui, pois, a constatação de indivíduos cientes de sua dignidade pessoal, famílias integradas nesse espírito e uma nação – a nação chilena – reconstruindo-se, naquele momento, como um prolongamento da cumplicidade em feito histórico. E sobre esta nação constituída, um poder constituído, na presença do Presidente da República, ao qual se reconhece, mas não se dobra.
Todas estas lembranças me acudiram no episódio dos mineiros.
Veja-se a dignidades destes 33 homens resgatados, todos trabalhadores praticamente braçais, submetidos a condições extremamente difíceis, com o agravante dos riscos que correm. Na China, por exemplo, mais de 25000 morrem a cada ano debaixo da terra. No Chile, trabalham por um salário médio de mil dólares, algo menor do que dois mil reais, morando no deserto de Atacama, onde à intempérie se somam outros contratempos ambientais.
Um a um que saía de “lo más genital do lo terrestre”, como diria o grande poeta Pablo Neruda, dava a entender, em torno de si, uma aura de rara dignidade, discreção e orgulho, que logo se irradiava numa torrente de emoções “a lo largo y lo ancho” de todo Chile, reacendendo o patriotismo de um povo há anos submetido à humilhações da história e da geografia.
As mulheres e filhos que esperavam ansiosas, todas bonitas, algumas, já com certa idade, extremamente belas, fazendo jus à imagem que delas faz o mundo, arrumadas, modestamente elegantes, conversando naturalmente com o Presidente da República, sem qualquer demonstração de subserviência ou acanhamento. Que beleza! Mais uma vez a dignidade como marca de um povo que não confunde a pobreza com a degradação social e moral.
À volta dos mineiros e suas famílias, todo um concerto de trabalhadores, todos disciplinadamente dedicados às suas funções.
Aqui, pois, a constatação de indivíduos cientes de sua dignidade pessoal, famílias integradas nesse espírito e uma nação – a nação chilena – reconstruindo-se, naquele momento, como um prolongamento da cumplicidade em feito histórico. E sobre esta nação constituída, um poder constituído, na presença do Presidente da República, ao qual se reconhece, mas não se dobra.
Veja-se que em todo o resgate e mesmo sob intensa emoção, em nenhum momento se viu qualquer ato de subserviência ao Presidente da República. Agradecimentos protocolares. E um Presidente, ciente da gravidade do momento e das distâncias políticas e ideológicas com os mineiros, com todo o cuidado para não ferir suscetibilidades, muito embora cioso da oportunidade do feito para a sagração de sua autoridade.
Só para se ter uma idéia, Luis Urzua, o chefe da equipe que foi o último a sair, traquilo, sereno, com 31 anos como minerador. Ele é o mais velho de seis irmãos, os quais ajudou a criar. Luis foi uma das vítimas indiretas da ditadura cruel de Pinochet. Seu pai, Luis Urzua, era um líder comunista e foi assassinado pelo regime. Seu padrasto, Benito Tapia, do Partido Socialista, também vitimado pela Caravana da Morte.
"A las nueve de la mañana del miércoles 17 de octubre de 1973, el mayor Carlos Brito del Regimiento Atacama de Copiapó sacó a Ricardo García de la cárcel pública. A las 19:20 de ese día, el sargento Óscar Pastén hizo lo mismo con Benito Tapia y Maguindo Castillo. Los tres fueron conducidos al regimiento".
"Del regimiento se fueron al cementerio. "El fusilamiento de García, Castillo y Tapia lo dirigió el teniente Ramón Zúñiga Ormeño, y lo acompañó el subteniente Fernando Castillo Cruz", declaró hace unos pocos años Díaz Araneda ante el juez Juan Guzmán ".
"Arturo Araya, asistente del médico legista Juan Mendoza, llegó temprano a la morgue de Copiapó aquel día 18. Vio los tres cuerpos tendidos en camillas y tapados con sábanas blancas. Destapó a uno para desvestirlo y preparar la autopsia, pero el administrador del cementerio, Leonardo Meza, se lo impidió. "Esos cuerpos son intocables", le dijo ".
"Los tres cuerpos fueron sepultados sin urnas en una fosa abierta en el Patio 16. En el libro de ingreso a García se asignó el número 13, Tapia el 14 y Castillo el 15. Días después, Bernardo Pinto, trabajador de Cobresal, pagó a un sepulturero para que abriera la fosa y lo que vio no lo olvidó jamás".
(Jorge Barrena - Este artículo y todos los otros envíos de "other news" están disponibles en http://www.other-news.info/noticias/)
Mas Jaime Tapia, irmão de Benito, presente ao acampamento à espera de Urzua, prefere não falar sobre o assunto. Ainda reina desconfiança nesta região. Perguntado por jornalistas sobre a veracidade destes fatos prefere responder enigmaticamente:
"No puedo contar nada, las cosas se sabrán a su debido tiempo, después de que salgan”
(Idem)
Um bilhão de pessoas que viram os momentos dramáticos do resgate destes mineiros ficaram compungidos. Mas só os que viveram o Chile na sua própria carne sabiam avaliar com precisão o significado daquele momento. Era um instante sublime, no qual toda a nação chilena se reencontrava na tentativa de subir metaforicamente à tona para o reencontro mítico com uma nova realidade. Naquelas imagens da cápsula era o tempo como membrana histórica que se reconstituía trazendo um passado amargo à superfície para inaugurar a possibilidade da reconstrução nacional, demolida pelo regime de Pinochet.
Só para se ter uma idéia, Luis Urzua, o chefe da equipe que foi o último a sair, traquilo, sereno, com 31 anos como minerador. Ele é o mais velho de seis irmãos, os quais ajudou a criar. Luis foi uma das vítimas indiretas da ditadura cruel de Pinochet. Seu pai, Luis Urzua, era um líder comunista e foi assassinado pelo regime. Seu padrasto, Benito Tapia, do Partido Socialista, também vitimado pela Caravana da Morte.
"A las nueve de la mañana del miércoles 17 de octubre de 1973, el mayor Carlos Brito del Regimiento Atacama de Copiapó sacó a Ricardo García de la cárcel pública. A las 19:20 de ese día, el sargento Óscar Pastén hizo lo mismo con Benito Tapia y Maguindo Castillo. Los tres fueron conducidos al regimiento".
"Del regimiento se fueron al cementerio. "El fusilamiento de García, Castillo y Tapia lo dirigió el teniente Ramón Zúñiga Ormeño, y lo acompañó el subteniente Fernando Castillo Cruz", declaró hace unos pocos años Díaz Araneda ante el juez Juan Guzmán ".
"Arturo Araya, asistente del médico legista Juan Mendoza, llegó temprano a la morgue de Copiapó aquel día 18. Vio los tres cuerpos tendidos en camillas y tapados con sábanas blancas. Destapó a uno para desvestirlo y preparar la autopsia, pero el administrador del cementerio, Leonardo Meza, se lo impidió. "Esos cuerpos son intocables", le dijo ".
"Los tres cuerpos fueron sepultados sin urnas en una fosa abierta en el Patio 16. En el libro de ingreso a García se asignó el número 13, Tapia el 14 y Castillo el 15. Días después, Bernardo Pinto, trabajador de Cobresal, pagó a un sepulturero para que abriera la fosa y lo que vio no lo olvidó jamás".
(Jorge Barrena - Este artículo y todos los otros envíos de "other news" están disponibles en http://www.other-news.info/noticias/)
Mas Jaime Tapia, irmão de Benito, presente ao acampamento à espera de Urzua, prefere não falar sobre o assunto. Ainda reina desconfiança nesta região. Perguntado por jornalistas sobre a veracidade destes fatos prefere responder enigmaticamente:
"No puedo contar nada, las cosas se sabrán a su debido tiempo, después de que salgan”
(Idem)
Um bilhão de pessoas que viram os momentos dramáticos do resgate destes mineiros ficaram compungidos. Mas só os que viveram o Chile na sua própria carne sabiam avaliar com precisão o significado daquele momento. Era um instante sublime, no qual toda a nação chilena se reencontrava na tentativa de subir metaforicamente à tona para o reencontro mítico com uma nova realidade. Naquelas imagens da cápsula era o tempo como membrana histórica que se reconstituía trazendo um passado amargo à superfície para inaugurar a possibilidade da reconstrução nacional, demolida pelo regime de Pinochet.
Quis o destino que, na porta de chegada, estivesse ali aguardando um correligionário do odioso general, sobre o qual, aliás, não recaem suspeitas de conivência com seus crimes, tornando-o até ajustado à moldura do evento. Numa nação dividida pelo ódio, pelo ressentimento, pela dúvida, haverá sempre que dispor das duas pontas do dissenso para que se restaure a união. Trinta e três mineiros de um lado, e um sorridente Presidente, de outro, tentavam cumprir este papel, ambos cônscios do que ali estava acontecendo. O futuro, porém, dirá se conseguiram...
*Texto enviado por Sergio Moraes, autor do livro ‘Viver e morrer no Chile’.
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