DEU NO JORNAL DO BRASIL (online)
Em jogo de palavras tanto se ganha quanto se perde, como ocorre em qualquer modalidade (que se preze) de apostar no acaso. O exemplo, registrado eletronicamente nesta eleição, já pode ser considerado clássico e assim passar aos anais das campanhas eleitorais e do marketing político, onde Freud se fez presente pela mão da candidata oficial Dilma Rousseff, quando quis passar de defensora a desafeta do aborto.
Com a preferência das pesquisas de opinião no primeiro turno, dona Dilma Rousseff proclamou já no segundo, escandindo as sílabas como de hábito: “eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque sou a favor”. E, mal pronunciara a ultima palavra, se deu conta da barbeiragem e do rombo previsível no seu estoque de votos. Tratou de voltar atrás para salvar uma parte da colheita de intenções de votos: “eu nunca disse que sou a favor, até porque sou contra o aborto”. Como não há saída de emergência nesses casos, nada a explicar.
Qualquer retificação mal alcança uns dez por cento de credibilidade, contra 90 de certeza. Quanto mais se explica um engano, mais desfavorável será o efeito. Já era assim e piorou desde que Sigmund Freud se serviu dessa parte oculta do ser humano, que se chama inconsciente, e não deixa ninguém mentir com proveito. Falar a verdade a contragosto talvez seja a última oportunidade para o ser humano recorrer, mesmo por descuido, à verdade que não lhe convenha, ainda que seja a única.
O segundo turno desta sucessão presidencial, tão cheia de curvas, pode gerar uma versão científica e decifrar o que se passou com dona Dilma, suspeita de pecar ostensivamente contra Freud, ao faltar à verdade em proveito alheio. O mal que a questão do aborto fez à candidata oficial, quando ainda aproveitava sua estréia como avó, mostra que o marketing eleitoral, mesmo em português, não pode fazer pouco de Freud sem macular a sucessão. Dona Dilma corre o risco de ser apontada, quando as conseqüências se apresentarem no próximo ato, como emissária do espírito enganador que orienta os candidatos ao se dirigirem ao eleitor. E que o eleitor é mais do que alguém chamado, de quatro em quatro anos, para escolher o menos credenciado dentre nomes que se consideram superiores aos eleitores, a ponto de querer enganá-los o tempo todo.
Em jogo de palavras tanto se ganha quanto se perde, como ocorre em qualquer modalidade (que se preze) de apostar no acaso. O exemplo, registrado eletronicamente nesta eleição, já pode ser considerado clássico e assim passar aos anais das campanhas eleitorais e do marketing político, onde Freud se fez presente pela mão da candidata oficial Dilma Rousseff, quando quis passar de defensora a desafeta do aborto.
Com a preferência das pesquisas de opinião no primeiro turno, dona Dilma Rousseff proclamou já no segundo, escandindo as sílabas como de hábito: “eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque sou a favor”. E, mal pronunciara a ultima palavra, se deu conta da barbeiragem e do rombo previsível no seu estoque de votos. Tratou de voltar atrás para salvar uma parte da colheita de intenções de votos: “eu nunca disse que sou a favor, até porque sou contra o aborto”. Como não há saída de emergência nesses casos, nada a explicar.
Qualquer retificação mal alcança uns dez por cento de credibilidade, contra 90 de certeza. Quanto mais se explica um engano, mais desfavorável será o efeito. Já era assim e piorou desde que Sigmund Freud se serviu dessa parte oculta do ser humano, que se chama inconsciente, e não deixa ninguém mentir com proveito. Falar a verdade a contragosto talvez seja a última oportunidade para o ser humano recorrer, mesmo por descuido, à verdade que não lhe convenha, ainda que seja a única.
O segundo turno desta sucessão presidencial, tão cheia de curvas, pode gerar uma versão científica e decifrar o que se passou com dona Dilma, suspeita de pecar ostensivamente contra Freud, ao faltar à verdade em proveito alheio. O mal que a questão do aborto fez à candidata oficial, quando ainda aproveitava sua estréia como avó, mostra que o marketing eleitoral, mesmo em português, não pode fazer pouco de Freud sem macular a sucessão. Dona Dilma corre o risco de ser apontada, quando as conseqüências se apresentarem no próximo ato, como emissária do espírito enganador que orienta os candidatos ao se dirigirem ao eleitor. E que o eleitor é mais do que alguém chamado, de quatro em quatro anos, para escolher o menos credenciado dentre nomes que se consideram superiores aos eleitores, a ponto de querer enganá-los o tempo todo.
Fica evidente que o conceito de melhor saiu de circulação desde que o presidente Lula fechou a História do Brasil para ficar sozinho em cena.
O presidente JK encaminhou ao eleitorado, desde o começo da campanha presidencial de 1955, o compromisso de entregar 50 anos de progresso num mandato de cinco anos, com uma relação de duas centenas de obras – grandes, médias e pequenas – começadas e concluídas no período. Sem sofismar e sem tergiversar, num único mandato, como insistiam os fundadores da República, que não deram ouvidos aos apologistas da reeleição.
Eleição presidencial não é mais tão simples como no tempo em que se entendiam, como meios de comunicação, apenas os jornais que saím à rua pela manhã, ao meio dia e ao cair da noite. Só na década de 50 o rádio se adiantou à mobilização política, estimulou o processo eleitoral e passou a ter peso político.E, na confusão, elegia de cambulhada locutores, cantores e humoristas.
A televisão chegou mais tarde e demorou a encontrar espaço criativo próprio. Cerceada por limitações legais, em nome de uma igualdade apenas restritiva, continua confinada à responsabilidade asfixiante de informar com equidade candidatos desiguais. Só a internet iria compensar a exploração da difícil e inquietante liberdade de manter informado o público ávido de romper as fronteiras da conveniência.
Os debates ao vivo perderam em substância o que compensam com agressividade pessoal, pela qual candidatos não respondem. Não há acesso a providências legais para cobrar respeito, na falta de razões que a razão não desconhece (inclusive as clássicas figuras da difamação, da injúria e da calúnia, das quais se isentam) .Ninguém se lembrou de dizer à candidata oficial que é menos suspeito assumir a verdade do que retificar o engano cometido numa circunstância eleitoral. Pelo menos, até a eleição.
***
PS: domingo à noite, em debate com José Serra, Dilma nem se deu conta do engano, ao perder o rumo e proclamar pelo avesso que “o Brasil foi o primeiro a entrar na última crise internacional e o último a sair”, quando foi exatamente o oposto, pois entrou por último e saiu na frente.
O presidente JK encaminhou ao eleitorado, desde o começo da campanha presidencial de 1955, o compromisso de entregar 50 anos de progresso num mandato de cinco anos, com uma relação de duas centenas de obras – grandes, médias e pequenas – começadas e concluídas no período. Sem sofismar e sem tergiversar, num único mandato, como insistiam os fundadores da República, que não deram ouvidos aos apologistas da reeleição.
Eleição presidencial não é mais tão simples como no tempo em que se entendiam, como meios de comunicação, apenas os jornais que saím à rua pela manhã, ao meio dia e ao cair da noite. Só na década de 50 o rádio se adiantou à mobilização política, estimulou o processo eleitoral e passou a ter peso político.E, na confusão, elegia de cambulhada locutores, cantores e humoristas.
A televisão chegou mais tarde e demorou a encontrar espaço criativo próprio. Cerceada por limitações legais, em nome de uma igualdade apenas restritiva, continua confinada à responsabilidade asfixiante de informar com equidade candidatos desiguais. Só a internet iria compensar a exploração da difícil e inquietante liberdade de manter informado o público ávido de romper as fronteiras da conveniência.
Os debates ao vivo perderam em substância o que compensam com agressividade pessoal, pela qual candidatos não respondem. Não há acesso a providências legais para cobrar respeito, na falta de razões que a razão não desconhece (inclusive as clássicas figuras da difamação, da injúria e da calúnia, das quais se isentam) .Ninguém se lembrou de dizer à candidata oficial que é menos suspeito assumir a verdade do que retificar o engano cometido numa circunstância eleitoral. Pelo menos, até a eleição.
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PS: domingo à noite, em debate com José Serra, Dilma nem se deu conta do engano, ao perder o rumo e proclamar pelo avesso que “o Brasil foi o primeiro a entrar na última crise internacional e o último a sair”, quando foi exatamente o oposto, pois entrou por último e saiu na frente.
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