DEU NO VALOR ECONÔMICO
PT teme fatos novos sobre ex-ministra às vésperas da eleição
Erenice Guerra é o fantasma que assombra o PT na reta final das eleições presidenciais. Em condições normais de pressão e temperatura, a campanha de Dilma Rousseff avalia que a candidata pode ainda perder alguns votos, o candidato do PSDB, José Serra, ganhar outros tantos, mas ela vence a eleição do dia 31 por uma diferença considerável, inquestionável. A menos que ocorra um fato novo. Este fato, imagina-se no arraial petista, tem tudo para ser de novo Erenice.
Se a diferença entre os dois candidatos cair para algo entre três ou quatro pontos, entre os dois candidatos, a expectativa do comitê de Dilma é que o PSDB lance mãos de todas as cartas de que dispuser para ganhar a eleição. Até por entender que esta é a última disputa presidencial de José Serra, muito mais pelas questões internas do PSDB que pela idade do tucano, que está com 68 anos, boa forma física e terá 72 anos em 2014. Serra, no entendimento petista, estaria jogando sua última cartada para conquistar um objetivo fixado desde a infância, segundo reza a lenda.
O PT já sabe que, se o PSDB for atrás, acha mais informações sobre a prática de tráfico de influência por Erenice e seus parentes e amigos. Seria só uma questão de tempo. O partido e o próprio governo fizeram um rastreamento. Descobriram o dedo da sucessora de Dilma na Casa Civil e de seu aldeamento familiar em mais de uma área. Especialmente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e na Petrobras. O levantamento mais detalhado ocorreu depois das especulações segundo as quais a queda no preço das ações da Petrobras ocorreu em função de supostas novas denúncias que seriam publicadas contra Erenice.
Mas o PT sabe também que o PSDB está realmente atrás de Erenice - ou de qualquer coisa que vincule a candidata a irregularidades. Mas o alvo é mesmo Erenice e os seus. Os tucanos teriam deixado impressões digitais. Uma delas, numa investigação sobre o pagamento das despesas da festa de casamento da filha de Dilma, celebrado em abril de 2008, a qual compareceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nove ministros de Estado e nove governadores, em Porto Alegre (RS). A investigação se destinava a apurar se empresas ou empresários com negócios com o governo federal pagaram alguma conta da festa. Nada digno de registro teria sido encontrado.
Em conversas reservadas, petistas com acesso a esse tipo de informação de campanha reconhecem que Erenice é uma "bomba ambulante", problema capaz de causar ansiedade à candidata, ao governo e ao partido como um todo até o dia 31 de outubro. Mas eles também se dizem convencidos de que nada sobre as atividades de Erenice e seu núcleo familiar surgiu do acaso. Tudo teria sido planejado com o fim de obter um resultado nas eleições. Outra digital que o PT assegura ter recolhido foram reuniões que o empresário Rubnei Quícoli teria feito com tucanos antes de acusar assessores da Casa Civil de cobrar propina pela aprovação de um projeto (a construção de uma central de energia solar no Nordeste) no BNDES.
Dilma e Erenice conheceram-se no final de 2002, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde funcionou o governo de transição do presidente Lula, após as eleições daquele ano. Erenice era assessora da bancada do PT na Câmara. No governo de transição foi ela quem "secretariou" a área de Minas e Energia Minas e Energia. Dilma era a encarregada da área. Erenice recebia as demandas, as propostas para o programa de governo e os currículos. Dilma não ficava a semana inteira em Brasília. Ia na segunda e geralmente voltava na quarta-feira para Porto Alegre. Quem ficava tocando as coisas era Erenice.
Quando virou ministra das Minas e Energia de Lula, a candidata do PT levou Erenice para cuidar do departamento jurídico do MME. Entre agosto e setembro de 2003, Dilma recebeu uma denúncia anônima contra Erenice. Dizia que ela estava arrumando emprego para o ex-marido e os filhos. Conta-se hoje, no PT, que Dilma pensou em demitir Erenice. A ex-assessora da bancada na Câmara procurou os deputados petistas, em busca de apoio para permanecer no cargo. Até presidentes de comissões falaram com Dilma.
A então ministra das Minas e Energia teria se dobrado a um argumento comum aos apoiadores da permanência de Erenice: tratava-se de uma carta anônima. Se ela começasse a demitir pessoal por conta de acusações feitas anonimamente, logo haveria uma central de cartas com denúncias sem assinatura . Um dos interlocutores desta mediação conta: "Ela (Dilma) sossegou, acabou se recompondo com a Erenice e a levou depois para a Casa Civil".
Erenice já estava na Casa Civil - e na mira da oposição por causa do dossiê sobre gastos com cartões de crédito do governo Fernando Henrique Cardoso - quando começou a chegar à bancada do PT na Câmara o "zunzunzum" de que ela fora vista, por mais de uma vez, em "más companhias". Deputados do PT viram Erenice num almoço com empresários de péssima reputação, no restaurante do Clube de Golfe de Brasília, localizado a algumas centenas de metros do CCBB, local onde funcionou o governo de transição, em 2002, e para o qual Lula transferira a sede do governo, durante as obras de reforma do Palácio do Planalto
Na reunião de avaliação do primeiro turno realizada entre Lula e os integrantes da campanha de Dilma, o presidente reclamou do "salto alto" dos integrantes do comitê da campanha de Dilma. Disse que ele percebera o risco Erenice e decidiu demitir a ministra da Casa Civil. Se fosse pela campanha, ela teria permanecido no governo. Dilma deixou Erenice ferida na estrada.
O governo agora operou para Erenice não depor antes das eleições. A Polícia Federal, como se sabe, pediu prorrogação das investigações. Definitivamente, não há como descolar Dilma de Erenice Guerra. O PT sabe disto e se pinta para a guerra. Não diz, mas não há dúvida de que também procura uma bala de prata para liquidar de vez a fatura no dia 31de outubro. Neste jogo, não há bala perdida. Já dizia um tucano - denúncia é como pênalti no futebol: errou, perdeu.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
PT teme fatos novos sobre ex-ministra às vésperas da eleição
Erenice Guerra é o fantasma que assombra o PT na reta final das eleições presidenciais. Em condições normais de pressão e temperatura, a campanha de Dilma Rousseff avalia que a candidata pode ainda perder alguns votos, o candidato do PSDB, José Serra, ganhar outros tantos, mas ela vence a eleição do dia 31 por uma diferença considerável, inquestionável. A menos que ocorra um fato novo. Este fato, imagina-se no arraial petista, tem tudo para ser de novo Erenice.
Se a diferença entre os dois candidatos cair para algo entre três ou quatro pontos, entre os dois candidatos, a expectativa do comitê de Dilma é que o PSDB lance mãos de todas as cartas de que dispuser para ganhar a eleição. Até por entender que esta é a última disputa presidencial de José Serra, muito mais pelas questões internas do PSDB que pela idade do tucano, que está com 68 anos, boa forma física e terá 72 anos em 2014. Serra, no entendimento petista, estaria jogando sua última cartada para conquistar um objetivo fixado desde a infância, segundo reza a lenda.
O PT já sabe que, se o PSDB for atrás, acha mais informações sobre a prática de tráfico de influência por Erenice e seus parentes e amigos. Seria só uma questão de tempo. O partido e o próprio governo fizeram um rastreamento. Descobriram o dedo da sucessora de Dilma na Casa Civil e de seu aldeamento familiar em mais de uma área. Especialmente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e na Petrobras. O levantamento mais detalhado ocorreu depois das especulações segundo as quais a queda no preço das ações da Petrobras ocorreu em função de supostas novas denúncias que seriam publicadas contra Erenice.
Mas o PT sabe também que o PSDB está realmente atrás de Erenice - ou de qualquer coisa que vincule a candidata a irregularidades. Mas o alvo é mesmo Erenice e os seus. Os tucanos teriam deixado impressões digitais. Uma delas, numa investigação sobre o pagamento das despesas da festa de casamento da filha de Dilma, celebrado em abril de 2008, a qual compareceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nove ministros de Estado e nove governadores, em Porto Alegre (RS). A investigação se destinava a apurar se empresas ou empresários com negócios com o governo federal pagaram alguma conta da festa. Nada digno de registro teria sido encontrado.
Em conversas reservadas, petistas com acesso a esse tipo de informação de campanha reconhecem que Erenice é uma "bomba ambulante", problema capaz de causar ansiedade à candidata, ao governo e ao partido como um todo até o dia 31 de outubro. Mas eles também se dizem convencidos de que nada sobre as atividades de Erenice e seu núcleo familiar surgiu do acaso. Tudo teria sido planejado com o fim de obter um resultado nas eleições. Outra digital que o PT assegura ter recolhido foram reuniões que o empresário Rubnei Quícoli teria feito com tucanos antes de acusar assessores da Casa Civil de cobrar propina pela aprovação de um projeto (a construção de uma central de energia solar no Nordeste) no BNDES.
Dilma e Erenice conheceram-se no final de 2002, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde funcionou o governo de transição do presidente Lula, após as eleições daquele ano. Erenice era assessora da bancada do PT na Câmara. No governo de transição foi ela quem "secretariou" a área de Minas e Energia Minas e Energia. Dilma era a encarregada da área. Erenice recebia as demandas, as propostas para o programa de governo e os currículos. Dilma não ficava a semana inteira em Brasília. Ia na segunda e geralmente voltava na quarta-feira para Porto Alegre. Quem ficava tocando as coisas era Erenice.
Quando virou ministra das Minas e Energia de Lula, a candidata do PT levou Erenice para cuidar do departamento jurídico do MME. Entre agosto e setembro de 2003, Dilma recebeu uma denúncia anônima contra Erenice. Dizia que ela estava arrumando emprego para o ex-marido e os filhos. Conta-se hoje, no PT, que Dilma pensou em demitir Erenice. A ex-assessora da bancada na Câmara procurou os deputados petistas, em busca de apoio para permanecer no cargo. Até presidentes de comissões falaram com Dilma.
A então ministra das Minas e Energia teria se dobrado a um argumento comum aos apoiadores da permanência de Erenice: tratava-se de uma carta anônima. Se ela começasse a demitir pessoal por conta de acusações feitas anonimamente, logo haveria uma central de cartas com denúncias sem assinatura . Um dos interlocutores desta mediação conta: "Ela (Dilma) sossegou, acabou se recompondo com a Erenice e a levou depois para a Casa Civil".
Erenice já estava na Casa Civil - e na mira da oposição por causa do dossiê sobre gastos com cartões de crédito do governo Fernando Henrique Cardoso - quando começou a chegar à bancada do PT na Câmara o "zunzunzum" de que ela fora vista, por mais de uma vez, em "más companhias". Deputados do PT viram Erenice num almoço com empresários de péssima reputação, no restaurante do Clube de Golfe de Brasília, localizado a algumas centenas de metros do CCBB, local onde funcionou o governo de transição, em 2002, e para o qual Lula transferira a sede do governo, durante as obras de reforma do Palácio do Planalto
Na reunião de avaliação do primeiro turno realizada entre Lula e os integrantes da campanha de Dilma, o presidente reclamou do "salto alto" dos integrantes do comitê da campanha de Dilma. Disse que ele percebera o risco Erenice e decidiu demitir a ministra da Casa Civil. Se fosse pela campanha, ela teria permanecido no governo. Dilma deixou Erenice ferida na estrada.
O governo agora operou para Erenice não depor antes das eleições. A Polícia Federal, como se sabe, pediu prorrogação das investigações. Definitivamente, não há como descolar Dilma de Erenice Guerra. O PT sabe disto e se pinta para a guerra. Não diz, mas não há dúvida de que também procura uma bala de prata para liquidar de vez a fatura no dia 31de outubro. Neste jogo, não há bala perdida. Já dizia um tucano - denúncia é como pênalti no futebol: errou, perdeu.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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