DEU EM O GLOBO
Semblante dos candidatos não correspondeu à sua posição no primeiro turno
José Casado
As imagens são reveladoras. Ao triunfo de domingo nas urnas (46,9% dos votos válidos), a candidata Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB), responderam com um misto de tensão e desencanto. A surpresa com o segundo turno refletiu-se em um discurso protocolar e quase burocrático de agradecimento pelos 47 milhões de votos recebidos na voz de uma candidata visivelmente cansada.
Lula, seu principal cabo eleitoral, recolheu-se ao silêncio. Ele completou ontem 24 horas longe das câmeras e 72 horas sem fazer um único discurso situação incomum para quem há 21 anos participa ativamente de campanhas presidenciais e, volúvel à sedução dos microfones, habituou-se falar em público pelo menos duas vezes por dia.
Em contraste, os derrotados José Serra (PSDB), com 32,6% dos votos, e Marina Silva (PV), com 19,3%, mostraram-se em estado de pura alegria desde o fim da apuração.
Por trás do choque de realidade a que Dilma, Temer e Lula foram submetidos na noite de domingo, estão quase os mesmos fatores que ajudam a entender o motivo do riso franco e permanente com que Serra e Marina atravessaram a segunda-feira.
Um deles é o limite imposto pelo eleitorado na transfusão de prestígio de Lula para Dilma, sob a forma de votos. Pela terceira vez, desde 2002, ele é obrigado a enfrentar um segundo turno.
Outro é que, nesta nova etapa, Dilma será obrigada a expor ideias de forma menos genérica e adotar uma postura conciliatória com valores e convicções de setores conservadores e religiosos em parte responsáveis pelo feito de Marina nas urnas (ela avançou mais no eleitorado com a pregação de valores e convicções pessoais do que com o projeto econômico ecológico do Partido Verde.) Em tese, Dilma precisaria apenas manter os votos que conquistou e adicionar 20% do eleitorado de Marina para chegar ao poder. Nessa conta, Serra dependeria de 85% dos votos dados ao PV.
O problema da matemática com a política é que ambas nunca combinam.
No domingo, isso ficou claro com as pesquisas eleitorais elas estão na raiz do desencanto da nação petista, que apresentou um triunfo com perfume de derrota.
Semblante dos candidatos não correspondeu à sua posição no primeiro turno
José Casado
As imagens são reveladoras. Ao triunfo de domingo nas urnas (46,9% dos votos válidos), a candidata Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB), responderam com um misto de tensão e desencanto. A surpresa com o segundo turno refletiu-se em um discurso protocolar e quase burocrático de agradecimento pelos 47 milhões de votos recebidos na voz de uma candidata visivelmente cansada.
Lula, seu principal cabo eleitoral, recolheu-se ao silêncio. Ele completou ontem 24 horas longe das câmeras e 72 horas sem fazer um único discurso situação incomum para quem há 21 anos participa ativamente de campanhas presidenciais e, volúvel à sedução dos microfones, habituou-se falar em público pelo menos duas vezes por dia.
Em contraste, os derrotados José Serra (PSDB), com 32,6% dos votos, e Marina Silva (PV), com 19,3%, mostraram-se em estado de pura alegria desde o fim da apuração.
Por trás do choque de realidade a que Dilma, Temer e Lula foram submetidos na noite de domingo, estão quase os mesmos fatores que ajudam a entender o motivo do riso franco e permanente com que Serra e Marina atravessaram a segunda-feira.
Um deles é o limite imposto pelo eleitorado na transfusão de prestígio de Lula para Dilma, sob a forma de votos. Pela terceira vez, desde 2002, ele é obrigado a enfrentar um segundo turno.
Outro é que, nesta nova etapa, Dilma será obrigada a expor ideias de forma menos genérica e adotar uma postura conciliatória com valores e convicções de setores conservadores e religiosos em parte responsáveis pelo feito de Marina nas urnas (ela avançou mais no eleitorado com a pregação de valores e convicções pessoais do que com o projeto econômico ecológico do Partido Verde.) Em tese, Dilma precisaria apenas manter os votos que conquistou e adicionar 20% do eleitorado de Marina para chegar ao poder. Nessa conta, Serra dependeria de 85% dos votos dados ao PV.
O problema da matemática com a política é que ambas nunca combinam.
No domingo, isso ficou claro com as pesquisas eleitorais elas estão na raiz do desencanto da nação petista, que apresentou um triunfo com perfume de derrota.
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