DEU NO JORNAL DO BRASIL
O exercício de falar todos os dias, o ano inteiro, tantas vezes quantas fossem necessárias, ou lhe parecessem convenientes aos fins dos quais não abdicaria por nada neste mundo, levou Luiz Inácio Lula da Silva a ser o supremo locutor da sucessão presidencial. Ocupou-se da função tanto por não poder candidatar- se quanto pelo narcisismo de intrometer-se, ostensiva e abusivamente, em sucessões estaduais e atender a uma carência compulsiva de provocar o espírito federativo. Não lhe faltou fôlego na campanha para soprar brasas e lançar fumaça nos olhos alheios. Cedeu à tentação e fez o oposto do que o levou, finalmente, ao poder. Deu-se mal, porém, na própria sucessão. Com a soberba das pesquisas, expôs ao risco gratuito do segundo turno a candidatura Dilma Rousseff. Ficou mais dramática a contagem regressiva para o fim dos dois mandatos presidenciais, dos quais Lula não quis aproveitar a oportunidade para se despedir. E se fazer lembrar, daqui a quatro anos.
Nunca o espírito de desforra terá sido tão bem acondicionado e encaminhado na aparência, pela perda da oportunidade do terceiro mandato, do que no episódio vivido pelo avesso: uma vitória com sabor de derrota. Na margem de erro pessoal, para mais ou para menos. Pode não ser assim visto por todos, mas a insistência de Lula em focalizar, de ângulo crítico, a liberdade de imprensa, como fez na despedida da campanha, revela amargura que extravasa em hora imprópria. Vitória e ressentimento não se dão bem.
Ao celebrar seu triunfo político, por encaminhar sozinho e, principalmente, apostar numa candidatura sem atributos notórios para o desafio de sucedê-lo, Lula não revela júbilo de vencedor, antes confirma a mágoa subir-lhe à garganta para acertar com a imprensa a conta de não reconhecê-lo como se vê e gostaria de ser visto. Antes de sair, o presidente cobra da imprensa, a prestações, a dívida de que se considera credor por tê-la reconhecido, em mais de uma oportunidade, como decisiva à sua vitória. Não é agradecimento, nem reconhecimento. Um equívoco não se paga com outro: Lula não deve à imprensa qualquer favor por eleger-se duas vezes, nem ela se sente credora de qualquer retribuição, pois não houve nem caberia favorecimento, por parte dela. A vitória de Lula em 2002 se deveu à sensatez da assinatura dele na carta aos brasileiros, com o compromisso de não agredir o passado que recebia das mãos do seu antecessor e lhe valeu como herança proveitosa. Para não dizer bendita.
A imprensa nada lhe deve por ter exercido a obrigação de informar e o direito de divergir de seus atos. Não precisa agradecer o que a liberdade de imprensa, da mesma forma, lhe garante pelo princípio sem o qual a democracia deixa de existir.
Na véspera da eleição, a pausa para separar o debate e a opção da cidadania pelos governantes, mais uma vez Lula voltou ao tema do seu ressentimento incurável ao acusar a existência de um mal explicado autoritarismo da imprensa, que fica devendo para pagar quando a poeira eleitoral baixar.
O presidente foi o vencedor de uma aposta com o destino e se tornou credor de um feito memorável, e nem por isso sobrenatural: graças aos seus recursos políticos intransferíveis, criou uma candidata sem os dotes apropriados à habilitação, mas não deixa de ser também o grande derrotado da temporada. Continua inconsolável com a perda da oportunidade do terceiro mandato ao alcance da mão esquerda o cobiçado fruto proibido no paraíso continental. Daqui por diante, os fatos tendem a fugir ao seu alcance pessoal. E a hipótese de ser obrigado a dar-lhe adeus exerce efeito perturbador em seus cálculos. Lula não é de viver e se celebrar no passado.
Há, em relação aos fatos e a Lula, uma contagem regressiva em curso, pois o tempo não depende dos meios de mensurá-lo, nem da posição em que os astros se apresentem. Pode ser que, ao contrário do que Lula imagina, seu reinado e sua fortuna não terão sido o começo de uma nova era, mas o fim do período do qual ele foi o produto natural. A História poderá poupá-lo de culpas veniais, mas não irá ressarci-lo das perdas das quais o tempo lhe dará a relação completa. E, antes dela, a concorrência se encarregará de trazer à luz do dia o que se perdeu mas será encontrado, reunido, documentado e apresentado.
O exercício de falar todos os dias, o ano inteiro, tantas vezes quantas fossem necessárias, ou lhe parecessem convenientes aos fins dos quais não abdicaria por nada neste mundo, levou Luiz Inácio Lula da Silva a ser o supremo locutor da sucessão presidencial. Ocupou-se da função tanto por não poder candidatar- se quanto pelo narcisismo de intrometer-se, ostensiva e abusivamente, em sucessões estaduais e atender a uma carência compulsiva de provocar o espírito federativo. Não lhe faltou fôlego na campanha para soprar brasas e lançar fumaça nos olhos alheios. Cedeu à tentação e fez o oposto do que o levou, finalmente, ao poder. Deu-se mal, porém, na própria sucessão. Com a soberba das pesquisas, expôs ao risco gratuito do segundo turno a candidatura Dilma Rousseff. Ficou mais dramática a contagem regressiva para o fim dos dois mandatos presidenciais, dos quais Lula não quis aproveitar a oportunidade para se despedir. E se fazer lembrar, daqui a quatro anos.
Nunca o espírito de desforra terá sido tão bem acondicionado e encaminhado na aparência, pela perda da oportunidade do terceiro mandato, do que no episódio vivido pelo avesso: uma vitória com sabor de derrota. Na margem de erro pessoal, para mais ou para menos. Pode não ser assim visto por todos, mas a insistência de Lula em focalizar, de ângulo crítico, a liberdade de imprensa, como fez na despedida da campanha, revela amargura que extravasa em hora imprópria. Vitória e ressentimento não se dão bem.
Ao celebrar seu triunfo político, por encaminhar sozinho e, principalmente, apostar numa candidatura sem atributos notórios para o desafio de sucedê-lo, Lula não revela júbilo de vencedor, antes confirma a mágoa subir-lhe à garganta para acertar com a imprensa a conta de não reconhecê-lo como se vê e gostaria de ser visto. Antes de sair, o presidente cobra da imprensa, a prestações, a dívida de que se considera credor por tê-la reconhecido, em mais de uma oportunidade, como decisiva à sua vitória. Não é agradecimento, nem reconhecimento. Um equívoco não se paga com outro: Lula não deve à imprensa qualquer favor por eleger-se duas vezes, nem ela se sente credora de qualquer retribuição, pois não houve nem caberia favorecimento, por parte dela. A vitória de Lula em 2002 se deveu à sensatez da assinatura dele na carta aos brasileiros, com o compromisso de não agredir o passado que recebia das mãos do seu antecessor e lhe valeu como herança proveitosa. Para não dizer bendita.
A imprensa nada lhe deve por ter exercido a obrigação de informar e o direito de divergir de seus atos. Não precisa agradecer o que a liberdade de imprensa, da mesma forma, lhe garante pelo princípio sem o qual a democracia deixa de existir.
Na véspera da eleição, a pausa para separar o debate e a opção da cidadania pelos governantes, mais uma vez Lula voltou ao tema do seu ressentimento incurável ao acusar a existência de um mal explicado autoritarismo da imprensa, que fica devendo para pagar quando a poeira eleitoral baixar.
O presidente foi o vencedor de uma aposta com o destino e se tornou credor de um feito memorável, e nem por isso sobrenatural: graças aos seus recursos políticos intransferíveis, criou uma candidata sem os dotes apropriados à habilitação, mas não deixa de ser também o grande derrotado da temporada. Continua inconsolável com a perda da oportunidade do terceiro mandato ao alcance da mão esquerda o cobiçado fruto proibido no paraíso continental. Daqui por diante, os fatos tendem a fugir ao seu alcance pessoal. E a hipótese de ser obrigado a dar-lhe adeus exerce efeito perturbador em seus cálculos. Lula não é de viver e se celebrar no passado.
Há, em relação aos fatos e a Lula, uma contagem regressiva em curso, pois o tempo não depende dos meios de mensurá-lo, nem da posição em que os astros se apresentem. Pode ser que, ao contrário do que Lula imagina, seu reinado e sua fortuna não terão sido o começo de uma nova era, mas o fim do período do qual ele foi o produto natural. A História poderá poupá-lo de culpas veniais, mas não irá ressarci-lo das perdas das quais o tempo lhe dará a relação completa. E, antes dela, a concorrência se encarregará de trazer à luz do dia o que se perdeu mas será encontrado, reunido, documentado e apresentado.
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