DEU EM O GLOBO
Irritada com o governador Sérgio Cabral, que vazou a informação de que ela se decidira pelo secretário Sérgio Côrtes para o Ministério de Saúde, a presidente eleita, Dilma Rousseff, negou ontem que tenha escolhido o titular da pasta. A bancada do PMDB na Câmara também reagiu e disse que não se sentiria representada por Côrtes, nome praticamente descartado.
Ascensão e queda em 24 horas
Contrariada com Cabral, Dilma praticamente descarta escolha de Sérgio Côrtes para a Saúde
Eliane Oliveira, Luiza Damé, Maria Lima e Gerson Camarotti
Azedou a relação da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e a indicação do secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, para o Ministério da Saúde está praticamente enterrada. A própria Dilma e coordenadores da equipe de transição desautorizaram anúncios sobre a escolha de Côrtes e avisaram que o secretário só será ministro se todo o PMDB referendar a indicação, dentro da cota a que terá direito. Além desse problema, o PMDB exige cinco pastas, uma além do que Dilma pretende dar ao partido.
Ao encerrar uma reunião entre especialistas e integrantes da equipe de transição sobre os desafios para a saúde, Dilma tomou a iniciativa de afirmar, quando fotógrafos e cinegrafistas entraram para fazer imagem do encontro, que ainda não havia escolhido o substituto de Temporão:
- Ainda não escolhi meu ministro da Saúde. Mas ele honrará a tradição de Temporão e de Adib Jatene - disse a presidente eleita, reafirmando o perfil de excelência na área médica.
Especulou-se que Côrtes participaria da reunião no CCBB, o que foi negado pelo deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da transição. A declaração de Dilma foi confirmada depois por Cardozo:
- A presidente foi muito clara. Não escolheu ainda o ministro da Saúde - disse Cardozo, reforçando que Dilma quer alguém com experiência, competência e sustentação política.
O PMDB do Rio começou a semana com praticamente com dois ministros no governo de Dilma, mas corre o risco de ficar sem nenhum. A disputa interna no partido enfraqueceu também a indicação do ex-governador Moreira Franco para o Ministério das Cidades.
Houve forte contrariedade no partido com as declarações de Moreira, publicadas ontem pelo GLOBO, com críticas à condução da equipe de transição na formação do Ministério de Dilma. Isso obrigou o vice-presidente eleito, Michel Temer, a recuar da indicação de Moreira, e aceitar a pressão da bancada para nomear deputados para os ministérios peemedebistas.
Petistas contestam versão de Temer
Nos bastidores, interlocutores de Dilma revelaram o recuo em relação a Côrtes. Disseram que Cabral não tinha autorização para anunciar um ministro de Dilma e que a presidente foi clara com ele, ao dizer que admirava o trabalho de Côrtes, mas que ele precisava ser um nome do partido, e não de sua cota pessoal. Seria diferente do que ocorreu com o atual ministro Temporão, uma escolha de Lula apadrinhada por Cabral.
- Se fosse da cota pessoal dela, ela escolheria um petista ou uma pessoa do setor. O Cabral atravessou o samba. Quis dar uma de porreta e viajou na maionese. Não estava autorizado para anunciar nada. Quem tem que anunciar ministro é a presidente eleita. Se ele queria o Côrtes como ministro, prestou uma grande desserviço a ele e ainda criou uma quizumba no PMDB - disse um dos interlocutores de Dilma.
Em meio à confusão, a situação ficou ainda mais delicada para Cabral com a entrevista, pela manhã, de Temer. Sobre a polêmica indicação de Côrtes, Temer contou que Cabral ligou pra ele, ontem cedo, e disse que a indicação do secretário entrou na cota pessoal de Dilma:
- Ele (Cabral) disse: "Temer, não procurei ninguém porque, na verdade, foi na cota pessoal. Ela me chamou, disse que queria um técnico na Saúde, disse que aprecia muito o trabalho do Côrtes. E, portanto, queria um técnico que entraria na cota pessoal dela". Como entrou naturalmente a Defesa, na cota pessoal da presidente - disse Temer.
O vice-presidente eleito fez questão de ressaltar que a cota peemedebista é de cinco ministérios, sem contar Saúde e Defesa.
- O partido está pleiteando cinco, o que é mais ou menos o que existe hoje. Está pleiteando cinco ministérios, mas estamos ajustando esses ponteiros. E, se eu tiver cota pessoal, indico um nome. Está se discutindo cinco precisamente em função disso - disse Temer, confirmando o descontentamento do partido: - O que há é aquele desconforto muitas vezes daqueles que querem um pouco mais, um pouco menos. Mas o PMDB vai ter um espaço compatível com o seu tamanho.
A versão de Temer sobre a escolha de Côrtes foi contestada pela equipe de Dilma. Segundo os petistas, no encontro que Dilma teve com Temer, na manhã seguinte ao encontro dela com Cabral, a presidente eleita disse a seu vice que Côrtes era um bom nome. Porém, sua indicação precisaria ser referendada pelo o PMDB. Assim, Dilma abriu uma brecha para que Fausto Pereira dos Santos, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), ganhe força entre os cotados para a pasta. Filiado ao PT, ele saiu da ANS para trabalhar na campanha de Dilma. Cabral e Côrtes viajaram ontem para Buenos Aires.
Irritada com o governador Sérgio Cabral, que vazou a informação de que ela se decidira pelo secretário Sérgio Côrtes para o Ministério de Saúde, a presidente eleita, Dilma Rousseff, negou ontem que tenha escolhido o titular da pasta. A bancada do PMDB na Câmara também reagiu e disse que não se sentiria representada por Côrtes, nome praticamente descartado.
Ascensão e queda em 24 horas
Contrariada com Cabral, Dilma praticamente descarta escolha de Sérgio Côrtes para a Saúde
Eliane Oliveira, Luiza Damé, Maria Lima e Gerson Camarotti
Azedou a relação da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e a indicação do secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, para o Ministério da Saúde está praticamente enterrada. A própria Dilma e coordenadores da equipe de transição desautorizaram anúncios sobre a escolha de Côrtes e avisaram que o secretário só será ministro se todo o PMDB referendar a indicação, dentro da cota a que terá direito. Além desse problema, o PMDB exige cinco pastas, uma além do que Dilma pretende dar ao partido.
Ao encerrar uma reunião entre especialistas e integrantes da equipe de transição sobre os desafios para a saúde, Dilma tomou a iniciativa de afirmar, quando fotógrafos e cinegrafistas entraram para fazer imagem do encontro, que ainda não havia escolhido o substituto de Temporão:
- Ainda não escolhi meu ministro da Saúde. Mas ele honrará a tradição de Temporão e de Adib Jatene - disse a presidente eleita, reafirmando o perfil de excelência na área médica.
Especulou-se que Côrtes participaria da reunião no CCBB, o que foi negado pelo deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da transição. A declaração de Dilma foi confirmada depois por Cardozo:
- A presidente foi muito clara. Não escolheu ainda o ministro da Saúde - disse Cardozo, reforçando que Dilma quer alguém com experiência, competência e sustentação política.
O PMDB do Rio começou a semana com praticamente com dois ministros no governo de Dilma, mas corre o risco de ficar sem nenhum. A disputa interna no partido enfraqueceu também a indicação do ex-governador Moreira Franco para o Ministério das Cidades.
Houve forte contrariedade no partido com as declarações de Moreira, publicadas ontem pelo GLOBO, com críticas à condução da equipe de transição na formação do Ministério de Dilma. Isso obrigou o vice-presidente eleito, Michel Temer, a recuar da indicação de Moreira, e aceitar a pressão da bancada para nomear deputados para os ministérios peemedebistas.
Petistas contestam versão de Temer
Nos bastidores, interlocutores de Dilma revelaram o recuo em relação a Côrtes. Disseram que Cabral não tinha autorização para anunciar um ministro de Dilma e que a presidente foi clara com ele, ao dizer que admirava o trabalho de Côrtes, mas que ele precisava ser um nome do partido, e não de sua cota pessoal. Seria diferente do que ocorreu com o atual ministro Temporão, uma escolha de Lula apadrinhada por Cabral.
- Se fosse da cota pessoal dela, ela escolheria um petista ou uma pessoa do setor. O Cabral atravessou o samba. Quis dar uma de porreta e viajou na maionese. Não estava autorizado para anunciar nada. Quem tem que anunciar ministro é a presidente eleita. Se ele queria o Côrtes como ministro, prestou uma grande desserviço a ele e ainda criou uma quizumba no PMDB - disse um dos interlocutores de Dilma.
Em meio à confusão, a situação ficou ainda mais delicada para Cabral com a entrevista, pela manhã, de Temer. Sobre a polêmica indicação de Côrtes, Temer contou que Cabral ligou pra ele, ontem cedo, e disse que a indicação do secretário entrou na cota pessoal de Dilma:
- Ele (Cabral) disse: "Temer, não procurei ninguém porque, na verdade, foi na cota pessoal. Ela me chamou, disse que queria um técnico na Saúde, disse que aprecia muito o trabalho do Côrtes. E, portanto, queria um técnico que entraria na cota pessoal dela". Como entrou naturalmente a Defesa, na cota pessoal da presidente - disse Temer.
O vice-presidente eleito fez questão de ressaltar que a cota peemedebista é de cinco ministérios, sem contar Saúde e Defesa.
- O partido está pleiteando cinco, o que é mais ou menos o que existe hoje. Está pleiteando cinco ministérios, mas estamos ajustando esses ponteiros. E, se eu tiver cota pessoal, indico um nome. Está se discutindo cinco precisamente em função disso - disse Temer, confirmando o descontentamento do partido: - O que há é aquele desconforto muitas vezes daqueles que querem um pouco mais, um pouco menos. Mas o PMDB vai ter um espaço compatível com o seu tamanho.
A versão de Temer sobre a escolha de Côrtes foi contestada pela equipe de Dilma. Segundo os petistas, no encontro que Dilma teve com Temer, na manhã seguinte ao encontro dela com Cabral, a presidente eleita disse a seu vice que Côrtes era um bom nome. Porém, sua indicação precisaria ser referendada pelo o PMDB. Assim, Dilma abriu uma brecha para que Fausto Pereira dos Santos, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), ganhe força entre os cotados para a pasta. Filiado ao PT, ele saiu da ANS para trabalhar na campanha de Dilma. Cabral e Côrtes viajaram ontem para Buenos Aires.
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