DEU NO ESTADO DE MINAS
Ali mesmo, naquele palco, mas diante de JK, então presidente da República, essa obra de Portinari foi exposta pela primeira vez
Repete-se assim a cena de 1956, quando ali mesmo, naquele palco, mas diante de Juscelino Kubitschek, então presidente da República, essa obra de Portinari foi exposta pela primeira vez.
Volto no tempo, estou em duas épocas. Já no hall do teatro converso com Maristela, filha de JK. E lhe digo: “Você sabe que te vi meio menina, meio adolescente, lá no Palácio da Alvorada, correndo naqueles salões, quando lá ia cantar com o Madrigal Renascentista?”.
Ela se emociona, e eu também. Agora está ali no camarote assistindo, como eu, à história ser reencenada. Já mostraram um filme rápido sobre os horrores da guerra. Milton Nascimento e seu grupo já cantaram, Ana Botafogo já dançou a coreografia que tematiza figuras pintadas por Portinari. Fernanda Montenegro já fez sua fala e os painéis (estupendos) estão ali no palco. Falou Luciano Coutinho, do BNDES, falou o chanceler Celso Amorim, historiando o esforço que o Brasil faz em favor do diálogo, e não da guerra. Até arriscou um comentário estético, indicando a possível influência de Paolo Ucello e ressaltando que o azul, que geralmente lembra a paz, foi posto ousadamente no quadro da guerra, e na parte da paz estão o vermelho e o laranja.
Agora é a vez de João Portinari, filho do pintor, falar e agradecer. Ele menciona várias pessoas em seu discurso. Duas delas estão presentes e ajudaram Portinari a fazer os painéis: os pintores Enrico Bianco, de 94 anos, e Maria Luiza Leão. Ambos fazem parte da história da pintura brasileira. Ao final, o público foi convidado, em grupos de oito, a subir ao palco e ver de perto a obra monumental do pintor, que viveu para a pintura e morreu envenenado pelas tintas que usava em suas obras. Entre tantos artistas presentes, Carlos Bracher me diz que vai para a fila, pois tem que tocar e ver de perto a obra do mestre.
Esse João Portinari é uma pessoa excepcional. Conheci-o na PUC Rio, em 1970. Ele havia regressado dos Estados Unidos com doutorado em matemática, mas jogou tudo para o alto e resolveu dedicar a vida à preservação da pintura e da memória do pai. Dentro daquela universidade, criou o Projeto Portinari, um modelo. Se todo descendente de artista tivesse esse desvelo pelas obras herdadas, o Brasil seria melhor e mais nosso.
Esses dois painéis, por exemplo, vieram da ONU para serem restaurados aqui. Estarão expostos, durante o restauro, no famoso prédio do Ministério da Educação, que já reunia os talentos de Corbusier, Niemeyer, Lucio Costa, Portinari e outros. Depois percorrerá o mundo, pedagogicamente, expondo a arte brasileira. Inclusive acompanhado dos extraordinários tapetes feitos a partir do Guerra e paz pela família Dumont. Vocês sabem, são a mãe e os cinco filhos, originários lá de Pirapora, fazendo uma obra sem paralelo em nossa cultura.
Essa obra de Portinari foi feita no pós-guerra, no tempo da Guerra Fria. Em nossa memória estava ainda vivo o horror do nazismo, do fascismo e das explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Mas surgia o sonho de conter a guerra e gerar a paz.
Conseguimos?
A obra de arte registra nossas perplexidades e anseios.
Ali mesmo, naquele palco, mas diante de JK, então presidente da República, essa obra de Portinari foi exposta pela primeira vez
Repete-se assim a cena de 1956, quando ali mesmo, naquele palco, mas diante de Juscelino Kubitschek, então presidente da República, essa obra de Portinari foi exposta pela primeira vez.
Volto no tempo, estou em duas épocas. Já no hall do teatro converso com Maristela, filha de JK. E lhe digo: “Você sabe que te vi meio menina, meio adolescente, lá no Palácio da Alvorada, correndo naqueles salões, quando lá ia cantar com o Madrigal Renascentista?”.
Ela se emociona, e eu também. Agora está ali no camarote assistindo, como eu, à história ser reencenada. Já mostraram um filme rápido sobre os horrores da guerra. Milton Nascimento e seu grupo já cantaram, Ana Botafogo já dançou a coreografia que tematiza figuras pintadas por Portinari. Fernanda Montenegro já fez sua fala e os painéis (estupendos) estão ali no palco. Falou Luciano Coutinho, do BNDES, falou o chanceler Celso Amorim, historiando o esforço que o Brasil faz em favor do diálogo, e não da guerra. Até arriscou um comentário estético, indicando a possível influência de Paolo Ucello e ressaltando que o azul, que geralmente lembra a paz, foi posto ousadamente no quadro da guerra, e na parte da paz estão o vermelho e o laranja.
Agora é a vez de João Portinari, filho do pintor, falar e agradecer. Ele menciona várias pessoas em seu discurso. Duas delas estão presentes e ajudaram Portinari a fazer os painéis: os pintores Enrico Bianco, de 94 anos, e Maria Luiza Leão. Ambos fazem parte da história da pintura brasileira. Ao final, o público foi convidado, em grupos de oito, a subir ao palco e ver de perto a obra monumental do pintor, que viveu para a pintura e morreu envenenado pelas tintas que usava em suas obras. Entre tantos artistas presentes, Carlos Bracher me diz que vai para a fila, pois tem que tocar e ver de perto a obra do mestre.
Esse João Portinari é uma pessoa excepcional. Conheci-o na PUC Rio, em 1970. Ele havia regressado dos Estados Unidos com doutorado em matemática, mas jogou tudo para o alto e resolveu dedicar a vida à preservação da pintura e da memória do pai. Dentro daquela universidade, criou o Projeto Portinari, um modelo. Se todo descendente de artista tivesse esse desvelo pelas obras herdadas, o Brasil seria melhor e mais nosso.
Esses dois painéis, por exemplo, vieram da ONU para serem restaurados aqui. Estarão expostos, durante o restauro, no famoso prédio do Ministério da Educação, que já reunia os talentos de Corbusier, Niemeyer, Lucio Costa, Portinari e outros. Depois percorrerá o mundo, pedagogicamente, expondo a arte brasileira. Inclusive acompanhado dos extraordinários tapetes feitos a partir do Guerra e paz pela família Dumont. Vocês sabem, são a mãe e os cinco filhos, originários lá de Pirapora, fazendo uma obra sem paralelo em nossa cultura.
Essa obra de Portinari foi feita no pós-guerra, no tempo da Guerra Fria. Em nossa memória estava ainda vivo o horror do nazismo, do fascismo e das explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Mas surgia o sonho de conter a guerra e gerar a paz.
Conseguimos?
A obra de arte registra nossas perplexidades e anseios.
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