sábado, 29 de janeiro de 2011

Fortalecer a zaga:: Míriam Leitão

O ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, está convencido de que seu primeiro papel é fortalecer a defesa comercial brasileira. Não o protecionismo, mas a briga na OMC contra práticas desleais de comércio. Para isso, já se reuniu com o ministro Antonio Patriota, pediu reforços, e escolheu uma diplomata, Andrea Watson, para assessoria internacional.

O Departamento de Defesa Comercial, dentro da Secretaria de Comércio Exterior, tem 44 funcionários ao todo. "E isso contando tudo, o cara do cafezinho e o motorista." Esse setor cuida dos complicados processos antidumping e de salvaguardas de um país que tem quase US$400 bilhões de corrente de comércio. São apenas 12 inspetores comerciais. Ele acha que essa área é a que mais urgentemente precisa ser fortalecida.

Conversei com o ministro e o entrevistei na Globonews sobre os assuntos da pasta. Pimentel tem sido apontado como ministro "da cota pessoal" da presidente. Ele esclarece que é apenas um dos "muitos amigos da presidenta", mas afirma que não foi por isso que foi escolhido.

Pimentel tem mostrado em todas as suas entrevistas preocupação com a China. Admite que a situação tem dois lados: o Brasil tem superávit comercial, mas ao mesmo tempo o comércio estaria desequilibrado:

- A China é nosso maior parceiro comercial, e não tenho qualquer hostilidade em relação ao país, evidentemente, mas o comércio está desequilibrado na composição. O Brasil exporta produtos básicos e importa manufaturados. Minério de ferro e soja são 2/3 das exportações brasileiras. A maioria dos processos antidumping dos últimos anos na OMC foi contra produtos asiáticos. É por isso que temos que qualificar a defesa comercial e defender o setor produtivo brasileiro.

O ministro acha forte a expressão "desindustrialização", não acha que isso está acontecendo com o Brasil. Concorda que produzir matérias-primas e produtos agrícolas é uma das nossas vocações. Só não acha que deva ser a única:

- Não há país que tenha virado potência exportando só commodities. Sem agregar valor à sua cadeia produtiva um país não se torna potência. Nós temos que mudar de patamar e não ser apenas fornecedores de matéria-prima. Minério de ferro foi o que nos garantiu o superávit com a China, sem ele, teríamos déficit.

Lembrei que Estados Unidos, Austrália, Canadá são, como o Brasil, grandes exportadores de commodities. O argumento dele é que é preciso ter uma pauta diversificada. Tanto é - argumenta ele - que os Estados Unidos acabaram de fazer um acordo com a China garantindo espaço para fornecimento de produtos manufaturados para o país asiático. Pimentel admite que tudo está em mudança no mundo atual, e que o grau de componentes importados em cada produto final aumentou muito, porque é difícil fazer um produto integralmente nacional. Segundo o ministro, o Brasil tem que fortalecer outras vocações:

- Se não, vamos ficar à mercê do comércio mundial e de forças que não controlamos. No setor de manufaturados, temos que igualar as condições de competição. Não podemos impor à indústria nacional uma competição em que ela entra enfraquecida.

Entre os fatores que favorecem a China estão alguns que o Brasil não pode querer copiar: salários superbaixos, moeda desvalorizada em um câmbio controlado. Pimentel esclarece que não fala em baixar salários:

- Mas podemos, por exemplo, desonerar a folha salarial. É isso que tem sido pensado. O país não tem boas lembranças de pacotes e reformas, mas o governo pode ir enfrentando aos poucos os gargalos, ir destravando a economia. O Simples e o Super Simples foram mudanças importantes que geraram vários efeitos positivos. Esse mesmo exemplo pode ser reproduzido em outros setores.

O ministro disse que não tem reparos a fazer na atuação do BNDES, acha que o banco está certo em procurar fortalecer grupos nacionais:

- Todos os países do G-8 têm na base da sua economia grandes empresas nacionais estatais e privadas. O Brasil está desde a estabilização da moeda num processo de consolidação de grupos brasileiros para serem players globais. Acho que o BNDES tem de ser uma alavanca.

Perguntei se isso não provoca o oposto do ideário que defendeu na juventude, ou seja, concentra a renda quando se privilegiam grandes grupos com dinheiro subsidiado. Ele admite que excessiva concentração de risco de crédito pode ser perigoso, mas afirma que o BNDES está atento a isso e tem também programas para micro e pequenas empresas. Disse que não tem reparos a fazer à gestão de Luciano Coutinho, que ele permanecerá no cargo, mas acha que o banco, por estar bem avaliado, pode lançar bônus e títulos, para se financiar.

Sobre o delicado tema dos juros, que subiram na primeira reunião do Copom, evitou críticas ao Banco Central:

- Esse assunto não está afeto ao meu ministério. Ninguém gosta de juro alto, principalmente eu, que estou num ministério do setor produtivo. O companheiro Tombini também não gosta de subir juros. Os juros sobem quando a conjuntura exige, empurra e pede. O Copom levou em conta as questões conjunturais, e eu espero que a conjuntura mude para que a gente possa reduzir os juros.

O ministro Pimentel alega que a Petrobras não vai reduzir o índice de nacionalização - ao contrário do que foi noticiado. A empresa estaria apenas "alertando" para o risco de não haver fornecimento no Brasil. Disse também que ela tem um enorme programa de nacionalização e capacitação de empresas fornecedoras. Pimentel defendeu Belo Monte como sendo "uma obra estratégica para o país" e disse que ela será construída.

FONTE: O GLOBO

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