Fernando Henrique terminou seu período com 26 órgãos de primeiro escalão, entre ministérios e secretarias especiais. Para mim uma demasia, pois 20 repartições desse porte significariam máquina enxuta e funcional, sem ser mínima.
Lula deixa o governo com 37 ministérios, muitos deles inócuos, abrigos de sindicalistas, cabides de companheiros e aliados dessa esquisita governabilidade. Lembremo-nos de que cada unidade dá origem a uma infinidade de cargos de confiança que, faz tempo, deixaram de ser preenchidos pelo critério da competência e da experiência administrativas.
Montaram formidável base de apoio parlamentar e, paradoxalmente, não têm projeto estratégico a executar. Nada que exija maioria tão acachapante. Nenhuma reforma estrutural que exija mexida constitucional e, portanto, apoio de três quintos em cada Casa.
O que se vê é o vale-tudo entre as inúmeras legendas na busca de cargos, agora os de segundo escalão: presidências e diretorias de poderosas empresas estatais e espaços que garantam boas dotações orçamentárias.
Fico sem entender. Se Dilma não tenciona propor ao Congresso leque arrojado de reformas, por que o ajuntamento variado, complicador e desnecessário? Medo de CPIs? Mas se Lula, após o susto do mensalão, cuidou de desmoralizar esse instituto secular dos parlamentos ocidentais.
Seria, porventura, desejo de impor projeto de poder à nação, talvez castrador de liberdades, relegando as vozes da oposição ao limite do esperneio? Ora, não posso e não devo crer nisso. Nossos governantes, certamente, leram Barbara Tuchman e seu imortal A marcha da insensatez: nada vingará no Brasil se for contra a democracia, já tão testada, que nos rege.
O ministério é medíocre. Tenho esperanças, por exemplo, no jovem ministro da Justiça, que é talentoso e sempre me pareceu correto e amplo. Não o imagino coordenando perseguições ou dossiês falsos contra adversários políticos.
Recebi, porém, com estupefação o episódio bizarro envolvendo Pedro Novais, de 80 anos de idade, em peripécias pagas com recursos da verba indenizatória da Câmara dos Deputados. À época indicado para o Ministério do Turismo, tudo se passou como se nada estranho tivesse acontecido no reino da Dinamarca. Os líderes do seu partido minimizaram o fato, sob o mantra de que “ele é da cota do Maranhão”, Dilma o confirmou e ei-lo guapo e disposto a revolucionar a indústria do turismo.
A presidente pode não se ter dado conta da gravidade do incidente: para a imprensa e parte da opinião pública, o padrão ético do governo está, infelizmente, balizado. A política das “cotas” ganhou novas nuances: cotas partidárias, estaduais, grupais, que dão imunidade extra aos beneficiários dessa visão política canhestra e caolha. Unem-se em torno de nada, a não ser o desejo governamental de preferir a chantagem diária de aliados de ocasião ao diálogo saudável com oposição que representou 43 milhões de votos no último pleito.
Tempos difíceis virão. A economia internacional mostra-se instável. O quadro fiscal interno, fruto da gastança desenfreada recente, não é confortável. O crédito já sofre restrições. Juros subirão. O ministro da Fazenda fala em cortes no Orçamento que, sem a retomada das reformas, significarão economia de palitos.
Lula tem tido sorte. O terceiro mandato, que intimamente tanto almejou, começaria velho. Dilma terá de se reinventar para não iniciar gerenciando os nanismos de um governo que poderá caducar antes do fim. Com a fisiologia correndo solta desse jeito, dá para pensar numa reforma que ordene e moralize a política brasileira?
É Senador
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Lula deixa o governo com 37 ministérios, muitos deles inócuos, abrigos de sindicalistas, cabides de companheiros e aliados dessa esquisita governabilidade. Lembremo-nos de que cada unidade dá origem a uma infinidade de cargos de confiança que, faz tempo, deixaram de ser preenchidos pelo critério da competência e da experiência administrativas.
Montaram formidável base de apoio parlamentar e, paradoxalmente, não têm projeto estratégico a executar. Nada que exija maioria tão acachapante. Nenhuma reforma estrutural que exija mexida constitucional e, portanto, apoio de três quintos em cada Casa.
O que se vê é o vale-tudo entre as inúmeras legendas na busca de cargos, agora os de segundo escalão: presidências e diretorias de poderosas empresas estatais e espaços que garantam boas dotações orçamentárias.
Fico sem entender. Se Dilma não tenciona propor ao Congresso leque arrojado de reformas, por que o ajuntamento variado, complicador e desnecessário? Medo de CPIs? Mas se Lula, após o susto do mensalão, cuidou de desmoralizar esse instituto secular dos parlamentos ocidentais.
Seria, porventura, desejo de impor projeto de poder à nação, talvez castrador de liberdades, relegando as vozes da oposição ao limite do esperneio? Ora, não posso e não devo crer nisso. Nossos governantes, certamente, leram Barbara Tuchman e seu imortal A marcha da insensatez: nada vingará no Brasil se for contra a democracia, já tão testada, que nos rege.
O ministério é medíocre. Tenho esperanças, por exemplo, no jovem ministro da Justiça, que é talentoso e sempre me pareceu correto e amplo. Não o imagino coordenando perseguições ou dossiês falsos contra adversários políticos.
Recebi, porém, com estupefação o episódio bizarro envolvendo Pedro Novais, de 80 anos de idade, em peripécias pagas com recursos da verba indenizatória da Câmara dos Deputados. À época indicado para o Ministério do Turismo, tudo se passou como se nada estranho tivesse acontecido no reino da Dinamarca. Os líderes do seu partido minimizaram o fato, sob o mantra de que “ele é da cota do Maranhão”, Dilma o confirmou e ei-lo guapo e disposto a revolucionar a indústria do turismo.
A presidente pode não se ter dado conta da gravidade do incidente: para a imprensa e parte da opinião pública, o padrão ético do governo está, infelizmente, balizado. A política das “cotas” ganhou novas nuances: cotas partidárias, estaduais, grupais, que dão imunidade extra aos beneficiários dessa visão política canhestra e caolha. Unem-se em torno de nada, a não ser o desejo governamental de preferir a chantagem diária de aliados de ocasião ao diálogo saudável com oposição que representou 43 milhões de votos no último pleito.
Tempos difíceis virão. A economia internacional mostra-se instável. O quadro fiscal interno, fruto da gastança desenfreada recente, não é confortável. O crédito já sofre restrições. Juros subirão. O ministro da Fazenda fala em cortes no Orçamento que, sem a retomada das reformas, significarão economia de palitos.
Lula tem tido sorte. O terceiro mandato, que intimamente tanto almejou, começaria velho. Dilma terá de se reinventar para não iniciar gerenciando os nanismos de um governo que poderá caducar antes do fim. Com a fisiologia correndo solta desse jeito, dá para pensar numa reforma que ordene e moralize a política brasileira?
É Senador
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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