Os cientistas podem arrolar as causas das tragédias que se repetem pelo mundo afora, mas, independentemente das explicações ou suposições apresentadas, elas impressionam o mais frio dos observadores pelo caráter proteiforme com que se têm apresentado.
Ontem, geleiras eternas foram se despedindo da eternidade em que dormiam e entraram a liquefazerem-se em blocos imensos para desaparecerem no oceano.
Agora, o que sucede nas duas maiores cidades do país é de desnortear. As chuvas, em regra benfazejas, converteram-se em horrores diá-rios. Insatisfeito com os desequilíbrios causados na orla marítima, o fenômeno subiu a serra que era o alívio do carioca desde o tempo de Dom Pedro, para estender o flagelo a Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo com o inacreditável desmonte de morros, desfeitos em lama, para sepultar populações de maneira e em proporções nunca vistas.
E ninguém pode dizer que o flagelo infernal tenha acabado. Longe da catástrofe, a minha situação é de comiseração e perplexidade, sem apetite para ocupar-me de coisas mais correntes. E assim, com lenço ao nariz, limitar-me-ei a reproduzir uma pergunta que me tenho feito.
Passado o alarido das festas, quase nada se pode dizer do novo governo, a não ser que houve uma visível mudança no estilo. O parlapatão de ontem, que se endeusava com uma campanha publicitária própria dos césares da decadência, foi sucedido, até agora, pela discrição. Não opino, limito-me a registrar o dado objetivo. E me pergunto: quem elabora a opinião pública no Brasil e qual seu valor?
Não faz muito, eminente professor paulista, participando de melhor programa de entrevistas na televisão, a meu juízo, declarou que a mais importante figura do governo findo era a do marqueteiro João não sei do quê. Tudo era feito conforme seu ditado soberano. O resultado é que o saldo negativo, querendo ou não, passou à sucessora do maior e melhor de todos os governos do Brasil em todos os tempos!
A inflação levantou a cabeça (5,9% não é desprezível) e coincidiu com a orgia de gastos federais precipuamente no segundo semestre do ano passado. Os saldos a pagar, dizem fontes oficiais, somam R$ 137 bilhões(!), dos quais, R$ 57 bilhões referentes a investimentos. Não era novidade o expediente, pois de 2005 a 2009 as contas a pagar aumentaram 195%, praticamente triplicando em cinco anos, e em 2011 o total dos restos a pagar foi estimado em 252% maior do que 2005.
É inegável o abandono das fronteiras, com 15.719 quilômetros e, a despeito do heroico esforço do minúsculo segmento militar, os oito anos do governo findo resumiram-se num imenso nihil, nada de nada. No momento em que escrevo (dia 14) leio em jornal de São Paulo que “Fazenda sugere a Dilma que cortes cheguem a R$ 50 bilhões”. E, segundo foi publicado, a missão a que se reservou o ilustre ex-presidente foi demonstrar agora que o mensalão... não existiu!!! Fico por aqui, deixando em silêncio chagas e chagas graves, como o arbitrário remanejo de recursos para ludibriar as contas públicas, da ordem de bilhões.
Para terminar, volto à pergunta que me tenho feito, quem e como se formula entre nós a opinião pública, sem a qual a vida nacional não passa de uma fantasmagoria monumental?
*Jurista, ministro aposentado do STF
FONTE: ZERO HORA (RS)
Ontem, geleiras eternas foram se despedindo da eternidade em que dormiam e entraram a liquefazerem-se em blocos imensos para desaparecerem no oceano.
Agora, o que sucede nas duas maiores cidades do país é de desnortear. As chuvas, em regra benfazejas, converteram-se em horrores diá-rios. Insatisfeito com os desequilíbrios causados na orla marítima, o fenômeno subiu a serra que era o alívio do carioca desde o tempo de Dom Pedro, para estender o flagelo a Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo com o inacreditável desmonte de morros, desfeitos em lama, para sepultar populações de maneira e em proporções nunca vistas.
E ninguém pode dizer que o flagelo infernal tenha acabado. Longe da catástrofe, a minha situação é de comiseração e perplexidade, sem apetite para ocupar-me de coisas mais correntes. E assim, com lenço ao nariz, limitar-me-ei a reproduzir uma pergunta que me tenho feito.
Passado o alarido das festas, quase nada se pode dizer do novo governo, a não ser que houve uma visível mudança no estilo. O parlapatão de ontem, que se endeusava com uma campanha publicitária própria dos césares da decadência, foi sucedido, até agora, pela discrição. Não opino, limito-me a registrar o dado objetivo. E me pergunto: quem elabora a opinião pública no Brasil e qual seu valor?
Não faz muito, eminente professor paulista, participando de melhor programa de entrevistas na televisão, a meu juízo, declarou que a mais importante figura do governo findo era a do marqueteiro João não sei do quê. Tudo era feito conforme seu ditado soberano. O resultado é que o saldo negativo, querendo ou não, passou à sucessora do maior e melhor de todos os governos do Brasil em todos os tempos!
A inflação levantou a cabeça (5,9% não é desprezível) e coincidiu com a orgia de gastos federais precipuamente no segundo semestre do ano passado. Os saldos a pagar, dizem fontes oficiais, somam R$ 137 bilhões(!), dos quais, R$ 57 bilhões referentes a investimentos. Não era novidade o expediente, pois de 2005 a 2009 as contas a pagar aumentaram 195%, praticamente triplicando em cinco anos, e em 2011 o total dos restos a pagar foi estimado em 252% maior do que 2005.
É inegável o abandono das fronteiras, com 15.719 quilômetros e, a despeito do heroico esforço do minúsculo segmento militar, os oito anos do governo findo resumiram-se num imenso nihil, nada de nada. No momento em que escrevo (dia 14) leio em jornal de São Paulo que “Fazenda sugere a Dilma que cortes cheguem a R$ 50 bilhões”. E, segundo foi publicado, a missão a que se reservou o ilustre ex-presidente foi demonstrar agora que o mensalão... não existiu!!! Fico por aqui, deixando em silêncio chagas e chagas graves, como o arbitrário remanejo de recursos para ludibriar as contas públicas, da ordem de bilhões.
Para terminar, volto à pergunta que me tenho feito, quem e como se formula entre nós a opinião pública, sem a qual a vida nacional não passa de uma fantasmagoria monumental?
*Jurista, ministro aposentado do STF
FONTE: ZERO HORA (RS)
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