segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A vanguarda do atraso – II:: Paulo Guedes

Marcos Nobre, pesquisador do Cebrap e da Unicamp, atribui ao "peemedebismo" toda a acomodação, o fisiologismo e a continuidade das más práticas políticas brasileiras que persistem desde a redemocratização. Em artigo publicado na revista "Piauí", registra que nem o Plano Real dos tucanos nem agora o "lulismo" teriam permitido a superação dessa cultura nefasta, cujo símbolo seria o presidente do Senado, José Sarney, "com doutorado, livre-docência e titularidade sobre seu funcionamento". Pouco mais restaria à "vanguarda progressista", as elites políticas do PSDB e do PT, do que o "cortejo ao atraso".

A argumentação tem méritos, mas também sérias deficiências. O PSDB e o PT se revezam no poder há cinco eleições presidenciais com alianças que consideram oportunistas, retrógradas e, conforme acusações recíprocas, visceralmente corruptas. Por que não houve uma proposta de reforma política? Por que não se uniram contra tudo isso? Por que as batalhas partidárias têm se limitado à tomada de poder? Por que prossegue ininterrupta a sequência de escândalos de corrupção envolvendo o uso de recursos públicos?

Nunca houve uma agenda positiva de reformas. Foi sempre uma guerra de extermínio entre espécies semelhantes (tucanos e petistas) pelo domínio de um nicho ecológico: a hegemonia social-democrata. E, uma vez no poder, aí sim, o "cortejo ao atraso" para manter o vazio de sua agenda, para explicar sua omissão quanto às reformas necessárias, principalmente a reforma política.

Estamos diante de uma transição incompleta. É no apoio à inoperância, à blindagem contra escândalos, à manutenção do muito que há do Antigo Regime que se destaca e ganha relevo o "peemedebismo". O fascinante é que o filósofo se ressente da falta de polarização necessária ao funcionamento da democracia, sem sequer perceber que o problema está exatamente na ausência de alternativas aos partidos social-democratas e seus programas obsoletos, preferindo culpar atores secundários que emergiram no vazio das "vanguardas progressistas".

"Cedo ou tarde Dilma terá de entregar ao PMDB o que ele pede", prevê Nobre. "É a presidente com possibilidades mais restritas que já assumiu. Suas mãos estão acorrentadas." Discordo novamente. Dilma Rousseff pode escapar desse arranjo que atrasa a modernização do país. De novo, é uma questão de liderança e agenda de reformas.

FONTE: O GLOBO

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