Quase tão ilusória quanto uma cabeça cortada na comissão de frente da Unidos da Tijuca é a polêmica, sem pé nem cabeça, entre ambientalistas e ruralistas em torno do novo Código Florestal. A agricultura não vive sem o meio ambiente, e o país não sobreviveria hoje sem os recursos do agronegócio. Cerca de 70% de todas as espécies agrícolas dependem da polinização feita por aves e insetos. Culturas como a da maçã, do café e até da soja teriam sérios problemas sem esse singelo serviço ambiental. O mesmo vale para a água, que é usada intensivamente nas plantações.
Portanto, não deveria interessar a ninguém no Brasil, muito menos aos agricultores, ver as florestas destruídas e os rios, poluídos. Com os dois lados tentando segurar os seus radicais, a votação do projeto na Câmara dos Deputados deve acontecer até o fim de março. Os ânimos parecem estar mais serenos, mas ainda existem pontos importantes de divergência.
O principal deles diz respeito à proposta do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto, que isenta propriedades com quatro módulos fiscais (de 20 a 440 hectares) de manter uma reserva legal (RL). Uma RL é a fração de toda propriedade rural que não pode ser desmatada, e vai de 20%, na Mata Atlântica, a 80%, na Amazônia. O problema é que esse artigo beneficia não só os pequenos, mas os grandes fazendeiros, que compensariam apenas a área que excedesse essa medida.
A outra polêmica diz respeito à anistia que o relator propõe para quem desmatou reservas legais ou áreas de proteção ambiental (APPs) até 2008. A área ambiental não concorda com os dois pontos, e, não havendo acordo, serão decididos no voto. PV e PSOL já fecharam questão contra a proposta, mas os demais partidos estão divididos, e o resultado é imprevisível.
O Código Florestal foi criado em 1934 e a sua versão atual existe desde 1965, apesar de ter sofrido alterações ao longo do tempo. Para alguns, é uma lei antiga, para outros, sempre foi atual e moderna. O fato é que só ganhou relevância em 2008, quando o governo decidiu que ela deveria ser cumprida e prometeu multar quem estivesse na ilegalidade. O deputado Aldo Rebelo diz que, se a lei for levada ao pé da letra, 100% dos produtores brasileiros estão na ilegalidade. O governo propõe um prazo de 20 anos para que agricultores e pecuaristas façam o replantio das áreas desmatadas e promete financiamento. Além disso, culturas como a do café, da uva e da maçã, que estão em APPs, nos topos dos morros, poderiam ser regularizadas, desde que não sejam consideradas áreas de risco.
Dois estudos divulgados há 15 dias pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) dizem que o problema da agropecuária no Brasil não está no Código Florestal e, muito menos, na falta de espaço para plantar. Estaria na ausência de crédito, na precária assistência técnica e na baixa produtividade. Principalmente na pecuária, onde hoje criamos um boi por hectare. Um índice muito abaixo das três cabeças de gado que dividem um hectare nos EUA. Segundo os cientistas, se esse número subisse para um boi e meio por hectare, o país teria 50 milhões de hectares a mais para plantar, quase o dobro do que tem hoje. Ou seja, ainda há muito o que se discutir e melhorar antes de por em risco o nosso patrimônio ambiental.
FONTE O GLOBO
Portanto, não deveria interessar a ninguém no Brasil, muito menos aos agricultores, ver as florestas destruídas e os rios, poluídos. Com os dois lados tentando segurar os seus radicais, a votação do projeto na Câmara dos Deputados deve acontecer até o fim de março. Os ânimos parecem estar mais serenos, mas ainda existem pontos importantes de divergência.
O principal deles diz respeito à proposta do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto, que isenta propriedades com quatro módulos fiscais (de 20 a 440 hectares) de manter uma reserva legal (RL). Uma RL é a fração de toda propriedade rural que não pode ser desmatada, e vai de 20%, na Mata Atlântica, a 80%, na Amazônia. O problema é que esse artigo beneficia não só os pequenos, mas os grandes fazendeiros, que compensariam apenas a área que excedesse essa medida.
A outra polêmica diz respeito à anistia que o relator propõe para quem desmatou reservas legais ou áreas de proteção ambiental (APPs) até 2008. A área ambiental não concorda com os dois pontos, e, não havendo acordo, serão decididos no voto. PV e PSOL já fecharam questão contra a proposta, mas os demais partidos estão divididos, e o resultado é imprevisível.
O Código Florestal foi criado em 1934 e a sua versão atual existe desde 1965, apesar de ter sofrido alterações ao longo do tempo. Para alguns, é uma lei antiga, para outros, sempre foi atual e moderna. O fato é que só ganhou relevância em 2008, quando o governo decidiu que ela deveria ser cumprida e prometeu multar quem estivesse na ilegalidade. O deputado Aldo Rebelo diz que, se a lei for levada ao pé da letra, 100% dos produtores brasileiros estão na ilegalidade. O governo propõe um prazo de 20 anos para que agricultores e pecuaristas façam o replantio das áreas desmatadas e promete financiamento. Além disso, culturas como a do café, da uva e da maçã, que estão em APPs, nos topos dos morros, poderiam ser regularizadas, desde que não sejam consideradas áreas de risco.
Dois estudos divulgados há 15 dias pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) dizem que o problema da agropecuária no Brasil não está no Código Florestal e, muito menos, na falta de espaço para plantar. Estaria na ausência de crédito, na precária assistência técnica e na baixa produtividade. Principalmente na pecuária, onde hoje criamos um boi por hectare. Um índice muito abaixo das três cabeças de gado que dividem um hectare nos EUA. Segundo os cientistas, se esse número subisse para um boi e meio por hectare, o país teria 50 milhões de hectares a mais para plantar, quase o dobro do que tem hoje. Ou seja, ainda há muito o que se discutir e melhorar antes de por em risco o nosso patrimônio ambiental.
FONTE O GLOBO
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