A economia americana pode crescer até 4% este ano, mas ainda respira com a ajuda de aparelhos: juros zero e gasto público. O desemprego caiu de 9,8% para 8,8% em cinco meses. A alta do petróleo tira renda das famílias e pode afetar o consumo. A alta da bolsa recupera patrimônio das famílias. A dívida pública ultrapassará o teto de US$14 trilhões, mas as empresas voltaram a ter lucro.
A briga política de 2012 foi oficializada com o lançamento da candidatura de Barack Obama, e isso elevou o impasse no Congresso americano. A economia pode ajudar Obama, dependendo da intensidade da recuperação. Os economistas têm projeções variadas para 2011. Quanto mais forte for a recuperação, mais chance tem Obama. O quadro político tem vantagens e desvantagens para o presidente. Os republicanos estão divididos, mas nas disputas por cadeiras no Senado em 2012 eles estão em situação confortável. Os democratas precisam defender 23 das 33 cadeiras em disputa. Os republicanos precisam ganhar apenas quatro para ter a maioria na Casa, e em cinco dos estados onde haverá eleição para o Senado, o candidato republicano John McCain ganhou na última eleição.
Bill Clinton deixou superávit orçamentário para George Bush, que entregou a Obama um megadéficit e a economia em frangalhos. Só agora aparecem os primeiros sinais bons no mercado de trabalho. A taxa de desemprego nos EUA cai há cinco meses. Mas 8,8% ainda é alto. A duração média no emprego subiu, mas o percentual de pessoas que ficam desempregadas por mais de seis meses aumentou um pouco. Há contradições, mas o mercado de trabalho é o último a se normalizar numa crise. Primeiro, as empresas recuperam lucros e confiança, para depois voltar a contratar. O rendimento do trabalhador também está baixo: enquanto a renda média em 2005 era US$4,00 a hora, este ano caiu para US$2,07.
José Roberto Mendonça de Barros diz que nos Estados Unidos quando é para fazer um ajuste eles fazem. A legislação trabalhista é flexível. Os salários caíram fortemente. Mas agora o nível de emprego começa a se recuperar, ainda que alguns pensem que é lentamente:
- Se o ritmo de criação de vagas dos últimos três meses for mantido, de 160 mil postos, só daqui a seis anos os EUA voltarão a ter a taxa de desemprego que tinham antes da crise, na faixa de 5% a 6% - explicou a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
A inflação em 12 meses ultrapassou a meta informal do Fed, de 2%. A alta do preço do petróleo fez com que o CPI, a inflação ao consumidor americano, ficasse por três meses acima de 0,5%. Esse aumento já está tirando renda das famílias porque lá o repasse ao preço na bomba é automático. O Bank of America reviu para baixo a projeção de crescimento do PIB do primeiro trimestre pelo aumento do preço do petróleo. As famílias gastam mais para abastecer os carros, deixando de consumir outros bens.
O mercado imobiliário continua deprimido, sob qualquer ponto de vista: venda de casas novas; de casas usadas; preço de imóveis; autorização para construções; estoque de residências. Segundo o Bank of America, o preço nacional de imóveis está 30% menor que o pico de 2006.
O déficit público americano deve bater em 11% este ano e isso quer dizer que a dívida pública, que fechou 2010 em 95,7% do PIB, ficará ainda maior. Para o economista José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, rolar essa dívida será pesado, se o Banco Central tiver que subir juros.
- Uma coisa é rolar US$14 trilhões com juros zero. Outra coisa é rolar esse estoque de dívida com juros de 1%. É um gasto considerável até mesmo para o governo americano, principalmente em um contexto de recuperação - afirmou.
Há boas notícias das bolsas. O índice Dow Jones registra alta de 89% em pouco mais de dois anos. Ou seja, quase dobrou. Segundo Monica de Bolle, essa melhora reflete a forte recuperação das empresas, mas também é fruto da alta liquidez mundial. De Bolle acredita que o setor financeiro é um ponto positivo, porque voltou a ter lucros fortes, após a crise sistêmica de 2008:
- As empresas estão muito bem. O setor bancário também dá sinais consideráveis de melhora, com lucros que começaram a partir do suporte do governo. A rentabilidade dos bancos aumentou muito e os dados de crédito estão muito bons. As exportações também cresceram por causa do dólar mais fraco.
Como as famílias sempre pouparam bastante no mercado de ações, a alta da bolsa recuperou patrimônio que parecia perdido, elevando a sensação de segurança que pode afetar positivamente o consumo.
Mas conversar com vários economistas é ver ângulos diferentes da maior economia do planeta. O economista André Sacconato, diretor de pesquisas da Brasil Investimentos & Negócios, explica que os sinais ainda são contraditórios e por isso as projeções de crescimento estão oscilando entre 2,7% a 4% este ano.
- Há muita disparidade entre as análises dos economistas. A economia americana vai ter que se recuperar sem o mercado imobiliário e também, em algum momento, sem os incentivos do governo porque o déficit já está muito alto - afirmou.
O crescimento da economia dos Estados Unidos interessa a todos. O baque desta vez foi mais forte, mas há sinais de que o tradicional dinamismo da economia, a capacidade de se levantar depois da queda através da inovação, alta tecnologia, mercado de trabalho flexível estão voltando. Se o melhor cenário acontecer ao longo dos próximos 17 meses, o presidente Barack Obama tem chances de mais um mandato. Política e economia, aqui como lá, andando juntas.
FONTE: O GLOBO
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