Reduzir número de parcelas e exigir entrada maior estão entre medidas em estudo
Geralda Doca e Eliane Oliveira
BRASÍLIA. O Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) deverão ampliar as medidas macroprudenciais para segurar o processo inflacionário, avaliado pelo governo, neste momento, como indefinido e heterogêneo (com vários fatores de pressão, como alimentos e serviços). A despeito do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos para pessoas físicas, anunciada anteontem, defende-se, na equipe econômica, que este tipo de medida não é suficiente para desestimular o consumo. Ou seja, o custo maior é diluído entre os meses e a parcela acabará cabendo no bolso do consumidor.
Outras ações - como redução no número de parcelas, exigência de entrada maior e até teto para financiamento de acordo com a renda do tomador - estão sendo avaliadas. A ideia é penalizar bancos e agentes financeiros que continuarem emprestando nos mesmos patamares, exigindo uma reserva de capital maior.
Demanda por crédito está "insaciável", diz técnico
Seriam atingidas diversas modalidades de crédito a pessoas físicas, como crediário de loja, consignado e empréstimo pessoal, conforme fez o BC em dezembro com automóveis.
- O que couber no orçamento do consumidor, ele paga - disse uma fonte de Brasília, lembrando que, para combater a inflação, o governo também depende das pessoas físicas, e não apenas do sistema financeiro e das empresas.
Segundo um técnico, apesar das medidas já adotadas, a demanda pelo crédito continua "insaciável" e a alta nos juros não está fazendo o efeito esperado. Ou seja, as pessoas continuam se endividando, mesmo pagando uma taxa maior. Por isso, a orientação é ampliar as medidas macroprudenciais, até porque o efeito da taxa de juros estaria sendo limitado sobre a expansão dos financiamentos. Além disso, puxar mais a Selic do que o programado causaria um efeito colateral para a economia como um todo, sacrificando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país).
Dados parciais do BC (até o dia 17 de março) mostraram persistência da expansão do crédito, com alta de 0,6% em termos de estoque e de 4,5% considerando a média diária das concessões. O aumento veio com elevação de 1,5 ponto percentual nos juros para pessoas físicas e jurídicas. Em fevereiro, a taxa geral estava em 38,1% ao ano, com ampliação de 4% no prazo médio de financiamento a pessoas físicas.
Segundo o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, diminuir o número de parcelas e exigir entrada maior nos financiamentos é a forma mais eficaz para reduzir o consumo e, assim, a inflação.
Para o governo, o mercado só não vê com simpatia a adoção das medidas macroprudenciais por causa do impacto direto no custo dos bancos - embora sejam mais efetivas, no sentido de segurar o crédito.
Em outra ponta, para evitar uma queda ainda acentuada no dólar, analistas de mercado já dão como certo que a Fazenda elevará mais uma vez o IOF sobre investimentos de estrangeiros em renda fixa, de 4% para 6%, ou até 10%.
FONTE: O GLOBO
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