Ninguém percebeu, mas há uma outra guinada importante, apesar de sutil, na política externa brasileira. O primeiro turno da eleição no Peru passou e não houve fotos, reuniões e salamaleques nem de Dilma em Lima nem de um dos candidatos aqui.
Concorriam Alejandro Toledo, de centro-direita, e os dois que estão no segundo turno: Ollanta Humala, de esquerda, e a filha do ex-presidente Alberto Fujimori (arg!), Keiko, evidentemente de direita. Dilma não se mexeu, ao menos publicamente e ao que se saiba. A eleição no Peru ao Peru pertence.
Com Lula, o Brasil correria a apoiar descaradamente um deles, como fez com os Kirchner (Argentina), Chávez (Venezuela), Morales (Peru), Mujica (Uruguai). E isso caracteriza ingerência em assuntos internos, proibição número um dos manuais de diplomacia.
FHC ensina: "Não tem de se meter com os de fora. Acho que Lula, Chávez, Morales vão além do limite, um apoia o candidato do outro, depois apoia a política interna do outro. É um erro".
Por quê? "O Estado é uma coisa, o governo é outra e o partido é uma outra. Política internacional é de Estado, porque o governo hoje é de uma cor, amanhã é de outra, mas as políticas de Estado vão além do interesse pessoal ou partidário".
O próprio Lula, que se metia tanto na política dos vizinhos, recorreu ao pragmatismo de Estado com George W. Bush. Ele não tem nada a ver com o Partido Republicano nem com Bush, mas se esforçou tanto que a "química" foi ótima.
Para uns países, prevaleceram os laços do PT; para outros, o pragmatismo diplomático. E faça-se justiça: nessa, Celso Amorim não tem culpa. Quem assumia a América Latina eram os assessores petistas de Lula, em especial Marco Aurélio Garcia. Dilma herdou Garcia e Gilberto Carvalho de Lula. Mas nem eles estão com a bola toda nem ela é boba de fazer política externa pensando mais no PT do que no país.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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