Jarbas de Holanda
Os efeitos imediatos da repercussão das denúncias e suspeitas que envolvem o ministro Antonio Palocci estão tendo sensíveis implicações negativas para o Palácio do Planalto, mas poderão ser bem mais graves para a sequência do mandato da presidente Dilma Rousseff as consequências de uma erosão do papel dele na chefia da Casa Civil ou de seu afastamento do governo. Por causa da dupla relevância desse papel – na condução das ações político-administrativas e como fator de moderação das fortes tendências estatizantes dela própria e de sua equipe econômica, ou até como alternativa ao comando de tal equipe num cenário, possível, de deterioração dos fundamentos da estabilidade pós-Plano Real a partir da negligência e das contradições nas respostas à pressão inflacionária.
A fragilização do chefe da Casa Civil – após eclodirem as denúncias de um rápido salto patrimonial associado à prática de tráfico de influência – refletiu-se de pronto na perda do controle que lhe cabia das relações entre o Executivo e as lideranças dos partidos e os parlamentares da heterogênea base governista. Na divisão de cargos da máquina governamental e nas negociações de temas delicados, como o projeto do Novo Código Florestal, em cuja fase decisiva de deliberação na Câmara o governo surpreendeu-se privado de maioria, tentando bloquear a decisão do plenário e lançando ameaças de veto presidencial. Essa perda se manifesta também – na conjuntura de grande desgaste de Palocci – na redução de sua influência junto à presidente e em articulações e decisões do Planalto nas quais vinha tendo peso crescente.
Bem mais significativos, porém, serão os efeitos da permanência na Casa Civil ou em outro ministério de um Palocci muito fragilizado – se não conseguir superar e reverter o enorme desgaste que está sofrendo ou se tiver que ser demitido. Não apenas para a presidente Dilma, como avaliou a revista Veja, em artigo editorializado desta semana: “Na versão solução, ele (Palocci) é um bálsamo para o governo e para o país. Na versão encrenca, ele deixa muita gente assustada”. Avaliação semelhante do Palocci “solução” foi feita pelo ex-ministro das Comunicações do governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros, numa entrevista à Folha de S. Paulo, de domingo último, em reportagem intitulada “Política econômica põe governo Dilma à esquerda de Lula”. Trecho do lead da matéria: “Para Mendonça, as finanças vão ficar menos confiantes no governo se o ministro Antonio Palocci cair”. Mais adiante, entre as declarações do entrevistado: “O governo Dilma – e daí a importância da questão Palocci – tem uma irracionalidade. Tem um lado que aparentemente é dominante e que tem uma leitura diferente da de Lula (de continuidade do equilíbrio macroeconômico recebido de FHC). E o Palocci é (tem sido) um sinal de que a racionalidade anterior não está abandonada”.
Mas o papel que Palocci desempenhou na Casa Civil até há pouco, ademais de decisivo para um bom relacionamento do governo com o empresariado – reduzindo preocupações deste diante dos sinais de negligência com o controle inflacionário e de manifestações e atos de caráter estatizante, bem como conseguindo manter a confiança das lideranças da iniciativa privada na prevalência das regras básicas da economia de mercado -, ademais disso tem sido importante para duas dimensões da imagem da presidente Dilma e de sua gestão. A de eficiência administrativa e a de um estilo sóbrio (distinto do palanquismo agressivo e partidarizado de Lula). Ambas com boa acolhida nos segmentos melhor informados da sociedade. Mas que dificilmente serão mantidas com um novo escândalo de corrupção de grande impacto e com outra provável consequência da fragilização ou do afastamento de Palocci: o crescimento da influência na operação e nas decisões do governo Dilma de uma direção nacional do PT reestruturada (sob a hegemonia do grupo de José Dirceu) tendo em vista sobretudo ampliar essa influência.
Jarbas de Holanda é jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário