Municípios: Rompido com padrinho político, João da Costa ainda busca uma marca para gestão mal avaliada
Murillo Camarotto
Recife - O prefeito do Recife, João da Costa (PT), esteve esta semana em Gutersloh, na Alemanha, onde recebeu das mãos da primeira-ministra Angela Merkel um prêmio pelo programa de Orçamento Participativo do município. Mais do que um reconhecimento, o troféu representa um raro alento para o petista, que vive sob intenso bombardeio, amigo e inimigo, desde que sentou na cadeira, em janeiro de 2009. No Estado do governador mais bem avaliado do país - Eduardo Campos, do PSB -, segundo a última pesquisa do Datafolha, a capital tem um dos prefeitos com pior avaliação.Para João da Costa, a discrepância é parte da "roda-gigante da política", mas para o PT e os partidos aliados o problema é um pouco mais grave. Apesar da hegemonia conquistada em Pernambuco, a chamada Frente Popular, capitaneada por PSB e PT, já acendeu o sinal de alerta para a eleição do ano que vem, considerada fundamental para a sobrevivência de uma oposição duramente castigada pelas urnas em 2010. "Estamos bastante preocupados com a possibilidade de perder a prefeitura. Não quero nem pensar nisso", afirmou um petista graduado.
Com dois anos e meio no cargo, João da Costa é quase uma unanimidade às avessas. Sem realizações de peso, ele segue em busca de uma marca para a sua gestão, criticada sistematicamente por adversários, aliados e pela população. Além disso, o prefeito tenta se livrar do fantasma do antecessor, o hoje deputado federal João Paulo Lima e Silva (PT), que em 2008 peitou a direção do partido para indicar Costa, então secretário de Orçamento Participativo, para sua sucessão. Hoje os dois nem sequer se cumprimentam.
Ocorrida nos primeiros dias do mandato, a briga trouxe prejuízos administrativos e, principalmente, políticos para Costa. Sem o respaldo do antecessor, muito popular no Recife, ele passou a ser visto com maior desconfiança pela população. O queixume se agravou com o passar dos meses, paralelamente aos impactos das medidas tomadas pelo governo federal para combater a crise financeira, que resultaram em cortes nas receitas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Além disso, justifica o prefeito, houve uma redução de 5% no repasse do ICMS, efeito de um acordo com o governo estadual.
"Quando você junta essas coisas, foram dois anos com impacto nas finanças da prefeitura. Isso trouxe dificuldades, além do problema político", afirmou Costa, que admite a falta de uma marca para sua gestão, da qual ficou afastado por cem dias devido a um transplante de rim. Ele acredita, porém, que os dois primeiros anos foram importantes para a captação de financiamentos para algumas obras estruturadoras que começaram a sair do papel neste ano.
A principal é a Via Mangue, projeto viário de R$ 400 milhões que promete desafogar o complicado trânsito da capital pernambucana e que teve suas obras iniciadas na semana passada. Ele destaca ainda outros projetos em andamento, como a urbanização das áreas vizinhas à bacia do rio Capibaribe e a revitalização do centro da cidade, além da expansão dos conjuntos habitacionais e obras de saneamento.
A mobilidade urbana, porém, é a mais forte candidata a calcanhar de Aquiles. Não bastassem os respeitáveis congestionamentos, a precariedade do transporte coletivo e os incontáveis buracos em ruas e calçadas fazem a população, e a oposição, lembrarem todos os dias do prefeito.
"É uma administração totalmente inoperante, ruim em todos os sentidos. Há uma grande sensação de cidade abandonada. Além de não trazer nada de novo, ele não exerce nem o papel do síndico, que é o de fazer a manutenção", disparou o deputado federal Raul Henry (PMDB), um dos prováveis candidatos da oposição à Prefeitura do Recife em 2012.
Pelo menos por enquanto, o discurso oficial na Frente Popular é de que o prefeito tem a preferência para tentar a reeleição, o que não impede que outros nomes já comecem a ser ventilados. Comandado pelo senador Armando Monteiro Neto, o PTB entregou neste ano os cargos na gestão municipal e tem no deputado estadual Silvio Costa Filho um interessado candidato à sucessão de Costa.
Monteiro Neto, porém, apressa-se em negar qualquer pretensão eleitoral. "Saímos porque achamos que nossa participação estava esgotada. Vemos problemas no desempenho da gestão. Então, deixamos os espaços livres para ele tocar. Há momentos em que é comum abrir esse espaço. Continuamos na base e estamos integrados à prefeitura", justificou o senador.
O governador Eduardo Campos ainda observa de longe o imbróglio. Há, no PSB, quem defenda uma candidatura própria no ano quem vem, dado o desempenho insatisfatório do prefeito e a acirrada disputa com o PT pela hegemonia política no Estado. Campos, no entanto, ainda prefere esperar que o PT resolva sozinho a questão, desde que não ponha em risco a permanência da Frente Popular no comando da capital.
Apesar das especulações sobre um possível boicote ao prefeito em 2012, uma das principais lideranças do PT no Estado, o senador Humberto Costa, afirma que o partido segue acreditando em um salto de qualidade da gestão municipal. "Se a administração estiver muito mal, a chance de insucesso é muito grande, independente de quem for o candidato", disse o senador.
Na mesma linha, o deputado federal licenciado Mauricio Rands (PT) afirmou que, apesar das divergências internas, o partido está fazendo todo o possível para ajudar a colocar a administração nos trilhos. Segundo ele, que também é cotado para disputar a prefeitura, além da mobilidade e de outras obras estruturadoras necessárias, João da Costa tem que reforçar a articulação política com a Câmara Municipal e com os 12 partidos da base que o sustenta.
Ciente dessa necessidade, o prefeito se coloca em uma posição parecida com a da presidente Dilma Rousseff: "Quando eu vejo os problemas que ela enfrenta hoje, eu percebo que são semelhantes aos que eu já enfrentei. Se comanda ou não o governo politicamente, por exemplo. A gente sabe qual é a dificuldade de você substituir um governante com popularidade alta. A gente sabe das dificuldades de quem assume um mandato nessas circunstâncias para se afirmar politicamente", disse.
Com mais de R$ 1 bilhão em caixa, o prefeito do Recife espera navegar em águas mais calmas nos próximos meses. Ele acredita que os investimentos em andamento, bem como os que ainda serão anunciados, podem gerar frutos a serem colhidos quando a corrida eleitoral começar a esquentar. Até lá, vai tentar mover o quanto puder a sua roda-gigante.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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