sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um gol contra às vésperas da Copa:: Roberto Freire

O jornal Folha de São Paulo da última segunda-feira trouxe mais uma revelação escandalosa envolvendo o governo Dilma: a Fifa está constrangendo as cidades-sede da Copa do Mundo com e-mails nos quais as pressiona a "cooperar" nas licitações e contratar empresas patrocinadoras da entidade.

A medida provisória nº 527 que trata, entre outras coisas, do Regime Diferenciado de Contratação (RDC), aprovada na madrugada de quinta, nos apresenta a dura realidade de que os preparativos da Copa no Brasil colaboram para isso e trazem a marca do lobby - com o explícito endosso do Palácio do Planalto - na criação de uma legislação cheia de brechas para a corrupção e do sigilo de gastos, o que é inconstitucional.

A MP foi criada para facilitar negociatas e tornar legais as indecorosas investidas da Fifa, ao acabar com os limites de gastos em obras e serviços para o grande evento e ainda garantir o sigilo sobre eles.

Os e-mails da entidade revelam a forma insidiosa de conduzir licitações, ao pedir que as cidades-sede encontrem "uma forma de garantir" que determinada empresa de interesse da federação faça parte do processo.

Eu apresentei requerimento que foi subscrito e encaminhado pelo líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), que faz parte da Comissão de Turismo e Desporto, de convite aos diretores de marketing da Fifa no Brasil, senhores Jay Neuhaus e Thierry Weil e também ao senhor Carlos De la Corte, consultor do Comitê Organizador Local, para prestar esclarecimentos na referida Comissão.

O jornal conseguiu documentos - entre eles um e-mail e uma apresentação de PowerPoint - em que a Fifa pressiona as cidades da Copa a contratarem a empresa ADM, que fabrica brindes, como bonés e chaveiros. Neuhaus assina os documentos que trazem um aviso: ou a cidade contrata a ADM ou paga 17% de taxa de licenciamento, se escolher outra empresa.

Já Carlos De la Corte faz o lobby da empresa chinesa de energia Yingli, cujos serviços, escreve ele, estão "alinhados" com a Fifa.

Weil reforça a pressão, ao afirmar que a Fifa "considera que os produtos da Yingli Solar podem ser a melhor solução para a eficiência energética para a Copa". A seguradora Liberty é outra empresa a receber a chancela da Fifa em seus e-mails às cidades-sede.

O preposto da Fifa no Brasil dispensa apresentações. É o presidente do COL (Comitê Organizador Local), Ricardo Teixeira, que também preside a CBF e que vive sob reiteradas denúncias de corrupção.

Não devemos nos esquecer que a reeleição do presidente da entidade, Joseph Blatter, ocorreu após diversas acusações de corrupção feitas pelos dirigentes ingleses aos membros do comitê executivo da entidade.

A oportunidade de trazer para os brasileiros a alegria de uma Copa do Mundo deveria envolver atitudes mais nobres dos responsáveis pelo evento. O respeito às leis em vigor no Brasil seria um bom começo. Se a Fifa não tem essa preocupação em constranger as cidades-sede com seu assédio indecente, diferente deveria ser a atitude do governo brasileiro.

Desde 2007 sabíamos que o Brasil sediaria a Copa. No entanto, o governo propositadamente deixou para o último momento as obras necessárias, para realizá-las a toque de caixa. A correria é uma justificativa para rasgar a Lei de Licitações (8666/93).

O jogo não começou, mas o torcedor e todos os brasileiros vão pagar uma conta muito mais cara e as empreiteiras e empresas prestadoras de serviço contratadas no evento já marcam seus gols.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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