Substituto deve ser do PT, mas tanto petistas como peemedebistas temem o desgaste do embate diário com Dilma
Maria Lima
BRASÍLIA. Com a queda do ex-ministro Antonio Palocci, que concentrava todas as decisões políticas do governo, a presidente Dilma Rousseff deve substituir também o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), o petista fluminense Luiz Sérgio, alvo das maiores críticas e reclamações sobre a descoordenação política na Esplanada e no Congresso. O seu substituto pode ser anunciado entre amanhã e sexta-feira. A ministra da Pesca, Ideli Salvatti (PT), é uma das cotadas. O partido não abre mão da indicação, mas até entre petistas há resistência a assumir o cargo, tido como o mais complicado, por ter bater de frente com Dilma.
Não está descartada a hipótese de o substituto ser do PMDB, apesar de peemedebistas afirmarem não querer "esse abacaxi". Na reunião em que Palocci entregou a chefia da Casa Civil a Dilma, os dois discutiram a relação do governo com o Congresso, muito criticada pelos próprios partidos da base aliada.
PT não abre mão da indicação para a pasta
A presidente vai mudar a estrutura da cozinha do Palácio do Palácio, com a Casa Civil voltando a ter suas funções mais focadas para políticas públicas. A articulação política ficará concentrada na Secretaria de Relações Institucionais. Esse era o modelo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando Dilma ocupava justamente a chefia da Casa Civil.
Para petistas, não basta trocar um nome por outro. É preciso que tanto a Casa Civil, com Gleisi Hoffmann, quanto a Secretaria de Relações Institucionais passem por uma reestruturação. Se Gleisi tem perfil técnico, a pasta de Luis Sérgio terá que ser fortalecida e ganhar autonomia para decidir, sem passar sempre pelo crivo da Casa Civil ou da própria Dilma.
- Se mudar o Palocci, muda o Luiz Sérgio. Não abrimos mão da indicação, mas é muito difícil arrumar um perfil para a pasta, por isso não teve ainda a mudança - informou ontem um dirigente petista, algumas horas depois de se reunir com a presidente Dilma.
- Se não mudar as atribuições da SRI, dando-lhe autonomia, quem é que terá coragem de assumir e colocar lá sua cara para ser palhaço ? - completou outro petista.
PMDB não quer assumir Relações Institucionais
O PMDB também torce o nariz para o ministério das Relações Institucionais. Pelas dificuldades de dar respostas e resolver as pendências dos aliados, Luiz Sérgio tem sido alvo de apelidos jocosos e chacota dos próprios aliados. O líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), o apelidou de "garçom que anota os pedidos mas não consegue entregar a encomenda". E, se foi difícil arrumar um substituto para Palocci, mais complicado ainda será encontrar um nome com perfil para enfrentar a convivência diária com Dilma.
As articulações no PMDB visam a ocupar espaços nessa mudança necessária no terceiro andar do Planalto. Mas a ideia de pôr o vice-presidente Michel Temer no comando da articulação política é vista como uma "proposta indecente" para queimá-lo ainda mais no governo. E os peemedebistas, garantem, não têm nome algum com perfil para o cargo.
- Quem no PMDB tem perfil para isso? O cara vai ter que bater de frente com Dilma diariamente! A convivência diária com ela não é fácil. Que o diga o ministro Wagner Rossi! - diz um peemedebista, referindo-se ao ministro da Agricultura, que é do PMDB.
Peemedebistas falam no nome de Miriam Belchior
A avaliação é que a solução é mais complicada no caso de Dilma, porque ela não tem jogo de cintura político: Luiz Sérgio fecha os acordos com a base, mas quando Dilma vai dar o aval acaba vetando tudo. E no governo passado o próprio ex-presidente Lula comandava o jogo político, mas com muita experiência, o que falta a Dilma.
- Passamos! Não dá para o PMDB essa daí não. Bons nomes temos, mas não com esse perfil. Mesmo porque o PT vai partir para cima e ocupar o cargo. Melhor seria botar lá a Belchior, porque uma dá esporro na outra e fica tudo certo - diz outro peemedebista, referindo-se a Miriam Belchior, ministra do Planejamento.
A estratégia dos peemedebistas era apoiar Palocci até o fim para não desgastar Dilma e se diferenciar do PT, que cobrou explicações e até sua demissão.
- Mas esse é o nosso comportamento sempre! Não vamos aproveitar a oportunidade para criar dificuldades para a presidente Dilma e o governo. Se o PT está com esse comportamento, não vamos acompanhar - diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
FONTE: O GLOBO
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