Antonio Palocci caiu cinco dias depois de conceder duas entrevistas -à Folha e ao "JN"- estrategicamente pensadas. Menos para salvá-lo da queda inevitável do que para preservar Dilma Rousseff do escândalo que o atingiu em cheio e anestesiou o governo.
Como disse Michel Temer, na sua sempre discreta maledicência, Palocci foi "leal a seus clientes". Deu uma banana para a opinião pública e selou o seu destino. É provável que caísse do mesmo jeito, provocando danos muito mais graves ao governo, se tivesse lançado um mínimo de luz sobre seus negócios.
O histórico da Casa Civil sob o petismo é bastante peculiar. Se tomarmos em conjunto os governos Lula e Dilma, foram quatro até agora os ministros. Três deles (José Dirceu, Erenice Guerra e Palocci) caíram sob suspeita de corrupção. A quarta é a atual presidente da República.
A escolha da senadora Gleisi Hoffmann para o cargo, de certa forma surpreendente, representa uma mudança na vocação (e no tamanho) da Casa Civil. Mas não é um tiro no escuro em nome da opção tecnocrática, como seria, por exemplo, a indicação de Graça Foster. Gleisi tem perfil executivo, parecido com o da própria presidente, e já antecipou que terá funções de "gestora". Mas vem do Congresso e é um quadro em ascensão no PT, o que certamente conta a seu favor.
Com sua nomeação, Luiz Sérgio, o "garçom" das Relações Institucionais, deve ser substituído por alguém que assuma mais responsabilidades na articulação política.
Restam algumas dúvidas: Gleisi será a "primeira-ministra" do governo, como foi a própria Dilma e, agora, Palocci, o breve? Ou dividirá o poder com outro ministro, como fizeram a contragosto Dirceu e o próprio Palocci no primeiro Lula? E quem seria esse provável "outro"?
Apesar das interrogações, com seu gesto Dilma afasta a crise de si e aproxima o governo de sua própria imagem. Trocando Palocci por Gleisi, parece que deu um passo para se emancipar da tutela de Lula.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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