Para cientistas políticos, crise não só desgastou a figura da presidente Dilma como pôs em xeque sua autoridade
Flávio Freire
SÃO PAULO. A crise que resultou na demissão do ministro Antonio Palocci expôs não só a fragilidade interna do governo Dilma Rousseff como pôs em xeque a autoridade política da presidente, segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. A saída de Palocci, segundo eles, está longe de criar uma situação confortável para o governo, que perdeu um dos seus principais interlocutores com o empresariado brasileiro. Além disso, a análise é de que a ministra Gleisi Hoffmann, que assume a Casa Civil, terá de ganhar também maior poder de articulação com o Congresso.
A queda de Palocci foi provocada pelas denúncias de que o seu patrimônio pessoal aumentou em 20 vezes desde 2006. O ex-ministro informou que atuava como consultor, mas negou-se a divulgar os nomes de seus clientes.
Para o historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos Marco Antonio Villa, a crise envolvendo Palocci desgastou a figura de Dilma, que não mostrou autoridade. Ou pior, na análise dele: a crise mostrou que a autoridade dela é frágil.
- A crise se arrastou por muito tempo. Ela mostrou que depende de Lula ou do ministro para tomar decisão - disse Villa, para quem a crise expôs algo muito prejudicial a um governo: a fragilidade interna.
- A Dilma não tinha enfrentado nenhum problema até agora, e logo na primeira crise mostra que não teve autoridade para resolver a situação.
Ainda segundo ele, a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann traz à tona outro problema: a falta de renovação dos quadros do PT.
- Quando o que se sabe da nova ministra é que ela é mulher de alguém, isso é perigoso. O PT mostrou que não tem renovação de seus quadros.
Também para o coordenador do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo, a sobrevida de Palocci nas últimas semanas colocou em xeque a credibilidade do governo. Ele ainda considera que a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário de crise deu ideia de que se trata de um governo sem comando.
- A sobrevida de Palocci custou muito para o governo, principalmente em questão de credibilidade. E a participação de Lula nesse episódio passou a ideia de que o governo de Dilma não tem comando - disse ele, para quem as explicações dadas por Palocci, na entrevista ao "Jornal Nacional" de sexta-feira, são consideradas o "anticlímax" para uma eventual solução da crise. A entrevista criou uma expectativa muito grande e teve uma frustração no mesmo tamanho.
Governo estaria perdendo uma ponte com empresariado
Para o professor de Ética e Filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp) Roberto Romano, a posição de Palocci levou o governo a uma fraqueza muito grande. Mas, para ele, o problema maior está por vir, já que Palocci era a ponte do governo com o empresariado. Talvez por isso, segundo Romano, Palocci resistiu tanto no cargo.
- O Palocci significava no governo a garantia (do apoio) dos empresários, e isso faz um governo petista pensar dez vezes antes de tirar alguém como ele do governo - diz Romano.
Romano também disse que a entrada de Lula na crise é prejudicial demais para Dilma, que mostra ser uma governante tutelada pelo ex-presidente.
- A ajuda imprudente do Lula deixa a suspeita de que a presidente é tutelada. Ou ela é autoridade máxima ou não é.
Para ele, não havia outra alternativa a Palocci senão deixar o governo, já que não conseguiu se explicar na entrevista que deu ao "Jornal Nacional" de sexta passada.
FONTE: O GLOBO
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