Na maior crise do governo Dilma, Antonio Palocci foi demitido da Casa Civil repetindo a própria história: de homem mais poderoso do governo, tornou-se o pivô de um escândalo que culminou com sua saída, sob suspeição, do cargo. A segunda queda de Palocci, cinco anos após perder o Ministério da Fazenda no governo Lula, enfraqueceu a presidente Dilma, antes mesmo de completar um semestre no cargo. Palocci acreditava que poderia ficar depois que a Procuradoria Geral da República arquivou os pedidos de investigação por suspeita de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. O ex-presidente Lula sugeriu que Dilma esperasse mais, porém ela decidiu demitir Palocci diante do desgaste político provocado pelo caso. Para o lugar dele, convidou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), pedindo que ela assuma o papel de gestora dos projetos do governo. Sem Palocci para negociar com o Congresso, resta a Dilma agora o problema da Articulação Política. O ministro Luiz Sérgio também deve sair. Na crise, o PMDB se fortaleceu
Todo-poderoso em 2 governos, Palocci cai pela segunda vez
Após 24 dias de crise, Dilma escolhe Gleisi para a Casa Civil e procura articulador político
Chico de Gois e Luiza Damé
Apenas cinco meses após a posse, e depois de 24 dias de desgaste na maior crise política do governo Dilma Rousseff, Antonio Palocci perdeu ontem o posto de topo-poderoso chefe da Casa Civil, criando duas situações inéditas: foi duas vezes desalojado do cargo de ministro sob suspeição e o mais breve ocupante do cargo no Palácio do Planalto. Para seu lugar, a presidente Dilma escolheu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT-PR), também um fato inédito na República.
Depois de se recusar a dizer, em entrevista ao "Jornal Nacional" na sexta-feira, para quais clientes trabalhou como consultor no período em que era deputado, a saída de Palocci do governo já era dada como certa desde anteontem, quando ele ainda acreditava que poderia se segurar no cargo. Sua esperança foi alimentada pela decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de arquivar o pedido de investigação contra ele por supostos enriquecimento ilícito e tráfico de influência como consultor. Dilma, porém, já estava decidida a tirar Palocci e a convidar Gleisi.
Dilma decidiu que Palocci deveria sair depois de ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a lhe sugerir para aguentar mais um pouco. Mas Dilma avaliou que não era mais possível e que, ao optar pela demissão, daria sinais de que tinha independência - no fim de semana, pegou muito mal para o governo a informação de que Lula se encontraria com ela para discutir o caso Palocci.
Ela própria pediu para ele não ir a Brasília, mas manteve os contatos por telefone. Nesses contatos, o ex-presidente emitiu sinais contraditórios a Dilma. Num primeiro momento, achava que era melhor o então ministro pedir para sair. Depois, avaliava que seria melhor segurá-lo para não dar mais pontos para a oposição.
A decisão da demissão foi comunicada publicamente no fim da tarde de ontem, após uma última conversa de Palocci com Dilma no Planalto. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) foi um dos primeiros a serem informados oficialmente, mas ele já tinha conhecimento do desfecho. O presidente do PT, Rui Falcão, foi o primeiro a receber o telefonema de Palocci. Falcão também já sabia, desde a hora do almoço, que a substituição na Casa Civil seria anunciada ainda ontem, embora mantivesse o discurso público de que continuava apoiando a permanência de Palocci.
Em nota oficial, Dilma disse lamentar a perda "de tão importante colaborador". De modo formal, o texto distribuído pelo Planalto diz que a presidente "destacou a valiosa participação de Antonio Palocci em seu governo e agradece os inestimáveis serviços que prestou ao governo e ao país". A Casa Civil, com Gleisi, volta a ter o perfil técnico, com a responsabilidade de gestão pelos programas do governo.
A escolha de Gleisi para a Casa Civil não se deu só por questão de gênero, embora esse quesito tenha pesado. Dilma conhece Gleisi desde quando era ministra de Minas e Energia e a agora senadora era diretora financeira de Itaipu. Mais recentemente, ficou impressionada com a atuação da senadora na relatoria do projeto que triplicou o valor pago pelo Brasil pela energia excedente do Paraguai, no tratado de Itaipu, e também com sua condução na defesa do governo no Senado. Dilma tem apreço pessoal por sua futura colaboradora. Em 2008, uma das poucas agraciadas com a participação de Dilma em palanques foi Gleisi, que concorria à Prefeitura de Curitiba.
Quando começou a cogitar a saída de Palocci, Dilma já pensava em nomear uma mulher. Tanto que também estava cotada para o cargo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que conhece bem a Casa Civil, onde trabalhou com Dilma. Além disso, ao optar por uma paranaense, Dilma põe panos quentes, pelo menos por agora, na disputa no PT paulista.
Saída anunciada desde a primeira denúncia
Desde que, em 15 de maio, se noticiou que o patrimônio do ministro crescera vertiginosamente desde 2006, quando ele deixou o Ministério da Fazenda sob acusação de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, a vida de Palocci tornou-se um punhado de interrogações.
Como tática - que depois se mostrou equivocada -, ele vinha tentando se explicar por notas, mas protelou ao máximo dar respostas públicas. Só o fez na semana passada, e por cobrança da própria Dilma e sugestão de Lula. Mas já era tarde demais.
Anteontem, o arquivamento do pedido de investigação pelo procurador-geral da República, que não viu indícios de tráfico de influência, deu alívio a Palocci. Mas, se do ponto de vista jurídico não havia o que se investigar, segundo o parecer de Gurgel, do ponto de vista político, o vulcão já soltava cinzas e ameaçava explodir.
Na noite de segunda-feira, o Palácio do Planalto avaliava que era preciso esperar o dia amanhecer para ver como acordaria o mundo político. E nem a base nem a oposição estavam satisfeitas com explicações técnico-jurídicas e queriam mais. Queriam a cabeça do ministro, que já chegou a ser um dos "Três Porquinhos", referência carinhosa de Dilma aos coordenadores de sua campanha vitoriosa: Palocci, José Eduardo Cardozo (ministro da Justiça) e José Eduardo Dutra (ex-presidente do PT).
Depois da decisão do procurador-geral, Palocci ainda conversou anteontem à noite com os líderes do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e concordou em ir ao Congresso, desde que a convocação fosse transformada em convite. Foi a última tentativa de Palocci de se segurar no cargo que estava lhe escapando das mãos.
FONTE: O GLOBO
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