Dilma, porém, tomou a decisão após ouvir poucos assessores
Maria Lima, Cristiane Jungblut e Isabel Braga
BRASÍLIA. A saída de Antonio Palocci do governo começou a ser delineada na noite de segunda-feira, em conversas que tiveram a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por telefone, de São Paulo. Àquela altura, a avaliação no Palácio do Planalto e de petistas próximos ao núcleo de poder era a de que não havia mais condições políticas de Palocci se manter no cargo. Mas o ministro só se convenceu de que deveria sair para "estancar a sangria" que atingia a presidente Dilma Rousseff no dia seguinte. A primeira crise séria do atual governo serviu para fortalecer o PMDB e escancarar a disputa de poder entre as correntes do PT.
Enquanto o PMDB se manteve unido e coeso no apoio ao governo, o PT se dividiu e enfraqueceu o apoio a Palocci, contribuindo em muito para a queda do ministro. Mas na escolha do substituto de Palocci, a presidente Dilma não ouviu petistas nem peemedebistas. Fez algumas consultas a pouquíssimas pessoas do PT, mas não tratou do assunto com os aliados do PMDB.
Logo depois do anúncio da substituição de Palocci por Gleisi, a cúpula do PMDB se reuniu no Palácio do Jaburu para analisar, junto com o vice Michel Temer, os desdobramentos da crise. O próprio Temer só ficou sabendo da queda do ministro por volta das 16h30m, quando a decisão já estava tomada. Dilma apenas o comunicou sobre a troca de Palocci por Gleisi.
- O Michel foi comunicado. Ninguém foi consultado. Agora é respeitar a escolha da presidente. O PMDB cumpriu o seu papel de dar apoio durante a crise, e agora é torcer para tudo entrar nos eixos. O jogo foi zerado e esperamos que as pessoas certas sejam colocadas nos lugares certos - disse um dos peemedebistas presentes à reunião no Jaburu.
A decisão do procurador da República, Roberto Gurgel, de arquivar as denúncias contra Palocci, divulgada na segunda-feira à tarde, serviu, na prática, para atenuar o desgaste da saída do ministro, mas não teve força suficiente para mantê-lo no cargo.
Na avaliação do núcleo próximo à presidente Dilma, a decisão de Gurgel foi vista como um salvo-conduto, para que Palocci não deixasse o governo tão desgastado e minimamente protegido juridicamente.
- Ele saiu com um salvo-conduto da PGR e optou por tirar a sangria de cima dela (Dilma) - resumiu um cacique do partido.
A anunciada viagem do ex-presidente Lula a Brasília - abortada pela própria presidente - seria mais um motivo de desgaste para o governo, pois cresceria a visão de que Dilma depende ainda das decisões do antecessor. Mas Lula, mesmo à distância, entrou em campo para tentar administrar a crise envolvendo Palocci. A Dilma disse o que pensava - a princípio defendeu que ele saísse logo, depois voltou atrás -, mas a colegas petistas fazia questão de dizer que ultrapassaria os limites de um mero conselheiro, sem defender uma posição concreta.
Das reuniões palacianas que aconteceram desde a noite de segunda-feira participaram o presidente do PT, Rui Falcão, Palocci, Dilma e o secretário-geral Gilberto Carvalho.
- O parecer do procurador Roberto Gurgel provocou uma melhora na situação jurídica do Palocci, mas no campo político nada está resolvido ainda - dizia um desses petistas ainda no início da tarde ontem: - Vieram as manifestações do PCdoB, PDT e setores do PT pelo afastamento do ministro, tem a ameaça da CPI. Tudo isso mostrando que haveria um agravamento da crise e aumento de uma situação de desgaste.
Os principais ministros e líderes do PT foram avisados, já no início da tarde de ontem, que um desfecho em relação a Palocci ocorreria antes de o dia anoitecer. A própria presidente ligou para alguns líderes anunciando a escolha de Gleisi. Por volta de 16h, antes da última conversa com Palocci, ligou para o presidente da Câmara, Marco Maia, informando que as chances de Palocci deixar o governo eram de 99%. Por volta das 17h30m, Palocci ligou para Maia e disse que pedira demissão. Em seguida, ligou para o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Ainda na segunda-feira, Palocci ligou para alguns líderes como Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Romero Jucá (PMDB-SP), agradecendo o apoio recebido e sugerindo que poderia ir ao Congresso, como convidado, e não convocado. Palocci, de fato, acreditava na noite de segunda-feira que ganhara uma sobrevida no governo por causa do parecer favorável do chefe do Ministério Público.
FONTE: O GLOBO
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