Roldão Arruda
O pensamento do espanhol Manuel Castells é a nova sensação no grupo político que, com a ex-senadora Marina Silva à frente, rompeu com o PV. O texto de uma palestra que o sociólogo fez recentemente em Barcelona – a convite de um daqueles acampamentos estudantis de protesto que chamam a atenção pela sua espontaneidade e criatividade – circula a toda velocidade por blogs e sites do grupo. Também é usado como base para debates internos.
Castells, autor do livro Comunicação e Poder, insiste no texto que, na democracia representativa que conhecemos e vivenciamos, a classe política organizou-se como classe própria, preocupada com seus próprios interesses e se distancia cada vez mais de seus supostos representados. Nesse modelo, a punição da corrupção tornou-se impossível.
É preciso, defende o espanhol, repensar o modelo. No processo de mudanças, a internet, por meio das redes sociais, terá um papel fundamental. Ele advogado que os Estados garantam, com subsídios, o acesso livre de todos os cidadãos à rede mundial de comunicação.
O sociólogo espanhol, cujo currículo inclui sua participação na histórica rebelião estudantil de maio de 1968, em Paris, já é conhecido dos brasileiros. Um de seus maiores admiradores por aqui é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que no ano passado o convidou para participar de debates no instituto que leva seu nome, em São Paulo. Trata-se do sociólogo mais criativo da atualidade, segundo o tucano, que também é sociólogo.
Um dos maiores entusiastas do texto de Castells é o empresário Ricardo Young, que se desligou há pouco do PV, juntamente com Marina Silva, criticando a estrutura autoritária que ele diz ter encontrado naquela legenda. Após ter participado da eleição do ano passado, concorrendo a uma vaga ao Senado, sua maior preocupação agora é debater e encontrar uma nova forma de fazer política.
Em entrevista ao estadão.com.br, por e-mail, ele explicou o que vê de mais importante nas ideias apresentadas pelo sociólogo que encanta os dissidentes verdes.
O que mais atraiu a atenção do senhor no texto da palestra feita por Castells aos estudantes de Barcelona?
Ele me impressionou porque traz a essência do questionamento que estamos fazendo em torno da ‘nova politica’. Ele aborda o esgotamento da democracia representativa, a redefinição da participação politica do cidadão através das redes sociais e os novos agentes ainda não institucionalizados que estão movendo as pessoas.
No rompimento com o PV, o senhor e as outras pessoas que o acompanhavam disseram que os partidos não conseguem compreender o que está acontecendo à sua volta, as mudanças nos modelos de participação democrática.
Sim. Há um vácuo na teoria política que não consegue explicar e nem categorizar a emergência de novos padrões de participação democrática em um mundo cada vez mais digital e globalizado. E isso vai ficando cada vez mais evidente, embora não tenha produzido ocorrências que possam delinear com firmeza estes mesmos padrões. Creio que estamos perto de um fenômeno parecido com os movimentos de contracultura da década de 60, quando ainda estavam em estágio incipiente.
Se a situação financeira global se agravar e houver um enfraquecimento das instituições tradicionais da democracia européia e americana, podemos esperar por uma aceleração nesses processos podendo, ai sim, culminar com um forte movimento de renovação democrática ( ou não) em escala global.
O texto está ajudando nos debates internos do grupo político do qual o senhor faz parte?
Sim, textos como esse do Castells nos dão elementos críticos para alimentar as discussões.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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