GASTOS PÚBLICOS
Cristiane Jungblut
BRASÍLIA. Após dias sob pressão do PR e alvo de denúncias de irregularidades em obras sob sua responsabilidade, o petista Hideraldo Caron pediu ontem demissão do cargo de diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit. Único representante do PT na diretoria do órgão, Caron sai do governo dizendo que as irregularidades nas obras são pequenas diante do volume dos empreendimentos, e manda um recado à presidente Dilma: para ele, foi exagerada a limpeza feita nos quadros do Dnit e do Ministério dos Transportes.
Ao comentar as demissões no Dnit, em entrevista ontem à tarde, Caron disse que não era necessário sair tanta gente, com a alegação de que não haveria fatos concretos nas denúncias publicadas. Ele disse que sua saída é o desfecho das "circunstâncias políticas".
Já são 17 os que caíram com as denúncias
Com a saída de Caron, são 17 os que caíram diante de denúncias nas obras do órgão e dos Transportes. Dilma, ao entregar a cabeça do único representante do PT, espera acabar com a crise e também com as insatisfações de aliados, em especial do PR - dirigentes da sigla aliada praticamente exigiram a demissão de Caron para compensar a queda do diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, ligado ao partido, em especial ao senador Blairo Maggi (PR-MT).
- Não precisava sair (tanta gente), e trago o testemunho dos funcionários do departamento. Muita coisa está sendo dita, mas de prático e de concreto não temos nada - disse Caron.
Ele disse que sua demissão ainda será formalizada, porque o ministro Paulo Sérgio Passos pediu que permanecesse mais alguns dias para repassar as informações das obras a seu substituto. Segundo ele, haverá um período de "transição".
- Foi uma decisão pessoal e vai contribuir para que as coisas possam se resolver satisfatoriamente. É um governo de coalizão e acho que devo me afastar para que a presidente possa reestruturar, fazer o que julgar necessário - disse ele, ressalvando que apenas setores do PR pediram sua saída: - Não acredito que seja manifestação unânime do partido, até porque seria ter opinião muito reduzida da política acreditar que tem que haver uma compensação para isso.
Caron disse que deixa o cargo sem "ressentimentos", mas fez questão de deixar claro que as razões de sua demissão são políticas. O gaúcho - que trabalhou com Dilma no governo de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul - está no Dnit desde 2004.
- Considero que o trabalho que fizemos aqui deu resultado. É óbvio que as circunstâncias políticas estão levando a esse epílogo. Não é precipitado porque eu estou tomando a decisão de sair. E não estou desanimado ou desiludido. Não saio ressentido, fizemos um longo trabalho.
Alvo de denúncias envolvendo obras autorizadas por ele, Caron se defendeu, afirmando que nunca foi multado pelo Tribunal de Contas da União. Ao minimizar as irregularidades apontadas nas obras - em especial nos inúmeros aditivos feitos a obras da BR-101 entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, controladas por ele -, o petista ressaltou que seu departamento é responsável por 1.100 obras:
- Frente ao volume de investimentos que temos, nossas irregularidades não são grandes. Em 2010, executamos R$10,5 bilhões de obras e fechamos o ano sem nenhuma obra paralisada pelo tribunal. Temos problemas? Claro, mas são muito menores do que anos atrás e do que em outros lugares. Estamos avançando, dando transparência. CGU e TCU têm salas aqui dentro. Nenhum sistema está longe de problemas de execução. O nível de irregularidades é muito pequeno diante do número de obras. Hoje, temos realidade totalmente diferente (de 2003).
Caron disse que, antes de pedir demissão, concluiu tarefa pedida por Dilma sobre redução de custos nas obras sob responsabilidade do Dnit dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo ele, no plano apresentado ontem a Dilma pelo ministro dos Transportes, há redução de R$72 bilhões para algo em torno de R$58 bilhões a R$60 bilhões. Segundo ele, foi feito um pente fino e novas obras terão o tamanho reduzido ou serão canceladas.
- O PAC já tem obra concluída, outras em andamento. Então, mexemos em obras em licitação. Temos de ver o tamanho do enxugamento. Uma obra nova que teria cinco viadutos agora terá dois. A presidente observou que o governo não tinha como arcar as obras e o custo como foi apresentado.
"Não vi denúncia que apontasse meu nome"
Sobre outras suspeitas lançadas sobre sua área de atuação, como a compra de casas para sem-terra em Canoas (RS), Caron afirmou:
- Não vi nenhuma denúncia que apontasse meu nome envolvido em corrupção. Em nenhum momento, alguém me acusa de proceder incorretamente ou de ter levado vantagem.
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), responsável pela indicação de Hideraldo Caron para a diretoria de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, lamentou a saída dele do órgão. Em nota cheia de elogios, o deputado ressaltou a competência, a "exímia administração técnica" e a conduta ética de Caron, destacando ainda que "sua gestão, entre todas da Esplanada, contribuiu de forma efetiva para os melhores índices de execuções orçamentárias do Programa de Aceleração do Crescimento".
FONTE: O GLOBO
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