Especialistas mudam apostas após Banco Central indicar em comunicado que irá interromper ciclo de alta de juros
Para chefe da Fazenda, não há conflito entre estimular crescimento econômico e combater aumento dos preços
Mariana Carneiro
SÃO PAULO - A mudança no tom da comunicação do Banco Central na semana passada, em nota divulgada após nova elevação da taxa básica de juros (Selic) para conter a inflação, despertou desconfiança de economistas em relação ao combate à alta de preços.
Pesquisa divulgada pela autoridade monetária, feita entre 18 e 22 de julho, mostrou que as expectativas para a inflação no ano que vem subiram de 5,20% para 5,28%.
As principais alterações nas apostas ocorreram nos dois últimos dias da semana passada. Na quarta-feira, o BC havia elevado a Selic para 12,5% ao ano.
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a inflação está num "pouso suave" - expressão usada pela presidente Dilma Rousseff dias antes.
A avaliação de especialistas, no entanto, é de que o BC deu poucas informações no comunicado divulgado após sua última reunião, o que provoca "ruídos" na comunicação com o mercado.
A autoridade monetária retirou da nota a expressão sobre um ajuste "suficientemente prolongado", o que alimentou previsões de que o BC vai parar de subir os juros.
"O BC criou um pouco de ruído na gestão das expectativas de inflação, o que pode provocar um problema lá na frente", avalia o economista da LCA Bráulio Borges.
O risco é que as expectativas de inflação alta fazem com que produtores e prestadores de serviços antecipem reajustes- criando mais pressão sobre os preços.
TRÉGUA
O economista André Perfeito, da corretora Gradual, acredita que o cenário externo deve ajudar o BC no combate à inflação.
Segundo ele, o cenário internacional trará uma trégua para os preços das matérias-primas. Mas vê falha na comunicação do BC.
"Estamos num momento de incertezas. Se o BC não for claro sobre o que vai fazer fica difícil", diz.
"Estamos num momento de incertezas. Se o BC não for claro sobre o que vai fazer fica difícil", diz.
O ministro Mantega estima que os preços no Brasil tendem a recuar em julho e agosto. Ele lembra que, em junho, a inflação já foi mais baixa que em maio.
O ministro defendeu que não há conflito entre manter o crescimento econômico e combater a inflação e indicou que o governo não conta apenas com a taxa de juros para conter a alta de preços. "Agora temos maneiras diferentes, sem derrubar a economia", disse.
Ele acrescentou que no segundo trimestre a economia cresceu em ritmo compatível com alta de 4,5% no ano, considerada ideal por ele.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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