Um ministro do PMDB foi demitido e isso não ocorreu por suspeita de corrupção. É uma notícia. A saída desastrada de Nelson Jobim, o homem que falava demais, na quinta, tirou de foco a volta ao Senado não menos estridente de seu ex-colega Alfredo Nascimento (PR-AM), dois dias antes.
Investido daquela indignação burlesca, o ex dos Transportes foi à tribuna para dizer que o seu PR "não é lixo para ser varrido da administração pública". Fez a sua mise-en-scène e insinuou, no meio de uma longa fala, que a farra com contratos, gastos e aditivos na sua pasta teria beneficiado também a campanha presidencial de Dilma.
Ou seja: Nascimento deu o recado, seguindo o script habitual dessa turma quando se vê contrariada. Na prática, o lixo varrido voltou ao centro do palco na forma de lixo reciclado. Foi esse o sentido da intervenção "republicana" do senador: Dilma, você não pode nos jogar fora, somos o adubo do seu jardim, sem o qual não há como manter vivas as flores da República.
O PR foi enquadrado, mas manteve o controle do ministério. E Alfredo Nascimento segue indicando seus afilhados, a começar por cargos no Dnit, o famigerado.
A reciclagem do lixo é muito evidente neste caso. Mas a imagem serve também para o conjunto do sistema político. O que é Fernando Collor, o neoaliado do PT?
O que representam Sarney (o senhor Arena), Renan Calheiros (o collorido), Michel Temer (o tucano falsificado) e tantos outros elementos reaproveitados, que se servem do governo petista a serviço da governabilidade? O próprio PT não é um lixo reciclado de si mesmo?
É possível imaginar uma peça disso tudo: "Não Somos Lixo: o PR como Metáfora". Seria, evidentemente, uma comédia. Não combina muito com o temperamento sisudo da presidente, que gostaria de manter dessa trama um distanciamento brechtiano. Difícil é delinear e situar o personagem de Dilma no meio dessa farsa brasileira.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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