Militares e diplomatas são carreiras de Estado, com uma cultura de ordem, hierarquia, promoções por mérito e grupos que se movem em torno de um líder.
As coincidências param por aí. Na caserna convém falar alto, mas acatando ordens e batendo continência. No Itamaraty, é bom falar baixo, mas articular muito e, em caso de necessidade, solapar.
Há preconceito de parte a parte. Para diplomatas, militares são uns grosseirões. Para militares, diplomatas são escorregadios, intelectuais com trejeitos afeminados.
Nelson Jobim se encaixava melhor no feitio militar e até nas fardas de campanha com que se embrenhava com seu mais de 1,90 m por selvas e descampados. Celso Amorim, porém, pode surpreender.
Diplomata "três em um", pois passou com louvor pelas áreas de política, de cultura e de comércio, ele não tem nada de escorregadio nem usa punhos de renda.
Tal como Jobim, Amorim é ousado, afirmativo, falante e estratégico -pensa longe. E também é acusado, vez ou outra, de arrogância e autossuficiência. Não fala grosso, mas é estridente. Não tem 1,90 m, mas sabe bem ocupar espaços.
Oficiais dizem que "diplomata não gosta de guerra", mas quem, sem ser fanático, gosta? Os limites entre diplomacia e defesa estão cada vez mais curtos. Jobim vivia invadindo a seara de Amorim.
O problema da Defesa não era nem vai ser de falta de comando, mas sim de condições objetivas: sobram projetos, faltam verbas. A não ser que Dilma abra os cofres para suavizar o pouso do novo ministro.
No mais, Amorim dificilmente vai mexer nos acordos para a Comissão da Verdade, bem costurados por Jobim na dupla condição de ministro da Defesa e ex-presidente do Supremo.
O que deve preocupar Dilma não é a Defesa, mas o descontrole e a traição latente no Congresso. Mais do que militares e diplomatas, quem a ameaça são os políticos.
FOLHA DE S. PAULO
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