Chefe da Secretaria Geral da Presidência critica a imprensa e diz não crer em atuação para formar cidadãos
Tatiana Farah
SÃO PAULO. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, fez ontem o que chamou de "severa crítica" aos meios de comunicação e defendeu a criação de um conselho para regular o setor, sem a participação do governo. A proposta de um conselho, que foi defendida na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já foi refutada pela presidente Dilma Rousseff. Também o PT, em encontro na semana passada, abandonou a defesa do chamado "controle social da mídia".
Em conferência do Instituto Ethos, ontem em São Paulo, o ministro, muito ligado ao ex-presidente Lula, reacendeu a polêmica e fez um desagravo ao ex-colega de governo Franklin Martins, autor do projeto de regulamentação da mídia enterrado por Dilma.
- No fundo é uma crítica, vamos abrir o jogo: é uma crítica severa - disse o ministro, depois de questionar por duas vezes a contribuição dos meios de comunicação para a construção de "consciência-cidadã" dos brasileiros.
O ministro afirmou ter "muita dúvida" sobre o "saldo de cidadania" dos meios de comunicação. Ele disse ter uma "pergunta dramática" para o setor:
- Os meios de comunicação no Brasil exercem efetivamente um papel de qualificação para a democracia de nossa gente, já que eles atingem as massas?
Perguntado pela plateia se o governo não deveria pressionar a mídia, uma vez que é anunciante dos meios de comunicação, o ministro defendeu a criação de um conselho, mas sem a participação do governo. E lembrou a crise na gestão do ex-ministro Franklin Martins:
- O ministro Franklin Martins paga o preço até hoje - disse ele, negando que houvesse um viés autoritário na proposta do ex-ministro.
A provocação do ministro resultou em uma pergunta à plateia, de cerca de 200 pessoas, sobre a contribuição dos meios de comunicação. Metade da plateia afirmou que não havia essa contribuição.
O ministro ainda fez piada sobre o tema:
- Manchete amanhã: governo Dilma ataca a liberdade de imprensa - disse ele, sob risos da plateia.
Anteontem, o PT divulgou as resoluções da reunião do diretório nacional, realizado quinta e sexta-feira no Rio. O documento mostra uma mudança de posição do partido em relação ao "controle social da mídia", como adiantou O GLOBO no sábado.
O ministro, no entanto, negou que esteja na contramão das decisões da presidente e mesmo de seu partido.
- De forma alguma vai na contramão. O que fiz aqui foi um exercício de pensarmos a extensão da democracia em todas as atividades. Por que não se pode pensar em uma forma de participação-cidadã dos meios de comunicação? Tirei fora o governo, quero deixar bem claro aqui, para evitar qualquer vezo autoritário. A minha fala é muito mais um apelo - disse ele em entrevista, após o debate.
O ministro também colocou em pauta uma das bandeiras que deverão ser empunhadas pelo PT nos próximos meses, para tentar deixar para trás os escândalos que envolveram nomes petistas desde o governo Lula.
- Vivemos no Brasil uma necessidade de profunda revisão da ética. Da ética na política, nos negócios, da ética empresarial, social. E essa ética não pode nos levar apenas a um farisaísmo, ela tem de estar vinculada a um projeto político, a um projeto de uma sociedade de fato igualitária, justa e participativa.
FONTE: O GLOBO
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