"O dinamismo econômico poderia, na dimensão da política, sustentar materialmente a existência de uma sociedade plural e ativa, capaz de enriquecer o horizonte de nossas possibilidades e escolhas. Não foi o que aconteceu, nos alerta Werneck Viana. Na defensiva ao final do primeiro mandato, e por ensaio e erro, Lula reativou a velha tradição da estadofilia brasileira, jogando às traças a tradição antitradicionalista que fez nascer o PT.
Dispensando qualquer justificativa pública para esta "viagem redonda", Lula e o PT levaram para dentro do Estado tudo o que estava vivo e se movia na sociedade, estatalizando todos os interesses e submetendo-os à administração carismática do presidente. Só há vida e só pode haver vida e significado dentro do Estado, proclama este enredo que esvazia a sociedade, destrói sua autonomia e condena o parlamento a um apêndice irrelevante da política. E que cria "uma verdade" por ser a única a ter o privilégio da existência, arranjo oposto à aspiração de uma nova hegemonia - para usar o conceito de um pensador caro ao nosso autor - pretendido pelo PT. Razão pela qual, salienta Werneck Viana, o Judiciário e o Ministério Público se vêem obrigados a um protagonismo contraditório, protegendo a sociedade deste arranjo estatalizante e sancionando a expulsão da política de nossa vida democrática".
Rubem Barboza Filho, professor titular de Ciências Sociais. Orelha do livro A modernização sem o moderno - análise de conjuntura na era Lula, autor: Luiz Werneck Vianna. Fundação Astrojildo Pereira /Contraponto, Brasília, 2011.
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