terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mercado já admite estouro do teto da meta de inflação de 6,5% este ano

Pesquisa do BC após corte de juros mostra expansão menor da economia

Gabriela Valente e Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA e RIO. Depois de serem surpreendidos na semana passada - com a redução de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros para 12% ao ano - analistas do mercado financeiro ficaram mais pessimistas com a inflação. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta o sistema de metas, passou de 6,31% para 6,38%. Essa foi a terceira semana seguida de alta das expectativas na pesquisa Focus, que o BC faz semanalmente com os bancos. Entre as cinco instituições (Top Five) que mais acertam os números do IPCA, pela primeira vez a projeção estourou o teto da meta de 6,5%. Eles estão prevendo que a inflação feche o ano em 6,59% contra 6,43% de uma semana atrás.

Os analistas ouvidos pelo BC também reduziram a projeção para o crescimento do país de 3,79% para 3,67%. O BC abandonou a previsão oficial de que o Brasil deve crescer 4% em 2011 e já usou 3,5% como expectativa. Até a estimativa para o crescimento em 2012 foi afetada: os economistas da pesquisa passaram de 3,90% par 3,84%.

A decisão do Banco Central (BC) de reduzir os juros básicos também influenciou a estimativa para o reajustes de preços no ano que vem: subiu de 5,2% para 5,32%. A meta para os dois anos é de 4,5%, mas tem dois pontos percentuais de tolerância.

O mesmo ocorre com os juros, entre as cinco instituições, a previsão desabou de 12,25% ao ano para 11%, depois que o BC reduziu a taxa na quarta-feira de 12,50% ao ano para 12%.

Previsões devem piorar na próxima consulta aos bancos

Para Alex Agostini, economista da Austin Rating, as expectativas tendem a piorar. Segundo ele, o levantamento ainda não traduz o ceticismo do mercado com a inflação, pois muitas das mais de cem instituições ainda não tinham atualizado suas previsões até o fim de sexta-feira, quando a pesquisa foi finalizada:

- Algumas instituições demoram em repassar novas previsões. O corte na Selic foi na quarta à noite e o resultado do PIB na sexta de manhã. Mas se você olha as cinco instituições consultadas pelo BC que mais acertam previsões, verá um resultado muito pior.

Segundo Agostini, o IPCA de agosto, que será divulgado hoje pelo IBGE, deve ficar em 0,35%, mas ele não se surpreenderia se ele vier maior:

- Há uma pressão em alimentos e transportes. Juntos, representam 40% do IPCA, que deve fechar o ano em 6,50% ou um pouco acima da meta.

, mostra que a previsão para todos os índices de inflação aumentou. Na opinião do consultor Amir Kahir, o mercado só piorou as apostas por ter sido contrariado pela decisão do BC e muita gente perdeu dinheiro.

- É uma queda de braço entre governo e sistema financeiro. Foi como se tirasse o pirulito do mercado - disse ele, que defende que a pesquisa deveria englobar agentes da "economia real", como a indústria.

O Itaú Unibanco informou em relatório que estima que o IPCA trará alta de 0,37% em agosto, em razão da alta esperada em alimentos e combustíveis. Em 12 meses, estima taxa de 7,2%. O banco acredita, porém, que o IPCA feche próximo do teto da meta, de 6,5%. Estimativas parecidas tem a Rosenberg Consultores Associados: IPCA de 0,36% em agosto e de 6,50% no ano, com possibilidade de ultrapassar o teto. Juan Jensen, sócio da Tendências, espera IPCA de agosto em 0,35% e inflação pouco acima do teto da meta.

- A inflação deve estourar e ficar acima da meta. Com o Focus de hoje, começamos a ver a deteriorização das expectativas - disse Jensen.

O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, acredita que a inflação vai continuar subindo por causa dos serviços e dos preços internacionais dos alimentos. Para ele, porém, a grande dúvida é para 2012. Não há clareza de como estará a economia mundial e como os preços das commodities (produtos básicos com cotação mundial, como soja, trigo e petróleo) vão se comportar:

- O governo tem que se equilibrar entre o temor da inflação e uma fraca atividade da indústria e da agropecuária - disse.

Tiago Berriel, economista da EPGE/FGV acredita que, com a crise da dívida na Europa, a situação pode ser favorável à inflação no Brasil :

- Ainda temos um mercado de trabalho muito aquecido, mas não vejo espaço para alta das commodities. No pior cenário, elas deverão se estabilizar no atual patamar de preços, que é alto - disse.

FONTE: O GLOBO

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