Partido sai em defesa de Orlando Silva; Dilma chega e faz reunião de emergência sobre caso
Gerson Camarotti, Roberto Maltchik*, Maria Lima e Luiza Damé
O PCdoB resiste a entregar o Ministério do Esporte e partiu ontem para uma ofensiva, em várias frentes, em defesa do ministro Orlando Silva. Levou ao Palácio do Planalto a disposição do partido de não entregar o cargo, deixando a decisão da eventual demissão exclusivamente nas mãos da presidente Dilma Rousseff. Também reforçou a ação partidária em defesa de Orlando, com discursos no Congresso, e mudou o programa partidário exibido à noite no rádio e na TV, para expor a defesa do ministro. Dilma chegou à noite da viagem de quatro dias à África e, em seguida, reuniu-se no Palácio da Alvorada com quatro ministros para discutir a crise política gerada pelas denúncias de irregularidades que envolvem o ministro do Esporte.
Mais cedo, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, expôs a posição do partido em reunião no Planalto com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Esses três ministros e mais o titular da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram chamados para a reunião à noite no Alvorada.
A presidente ouviria o relato da posição do PCdoB, parceiro tradicional do PT, que já tinha recebido na véspera sinais de que a crise no Esporte poderia comprometer a participação do partido no governo Dilma.
- Diante das investidas, deixei claro na reunião o nosso apoio ao ministro Orlando Silva. Tem uma operação em curso para derrubar os ministros do governo Dilma. Mas queremos que o desfecho, neste caso, seja diferente. Queremos reverter a situação. Não estou dizendo que vai acontecer. Mas vamos lutar por isso - disse Rabelo.
Mesmo com as declarações públicas da presidente Dilma de apoio a Orlando e ao PCdoB, dadas quando ela ainda estava em Angola ontem de manhã, permanece no núcleo do governo uma avaliação: a de que o ministro do Esporte está extremamente fragilizado e que sua permanência pode causar desgaste ao partido e ao governo.
Como revelou ontem O GLOBO, o Planalto sinalizou preferir que o PCdoB tomasse a iniciativa de conduzir o processo de saída do ministro. A notícia causou forte reação no núcleo do partido aliado, e, a partir desse momento, interlocutores do governo passaram a falar na construção de uma saída honrosa para Orlando. A defesa feita pela presidente fazia parte desse roteiro. Mas a posição enfática do PCdoB surpreendeu os operadores políticos escalados para administrar a crise.
Dilma: não se pode "demonizar" a sigla
Para amenizar uma reação política, Gilberto Carvalho telefonou cedo para Renato Rabelo. Logo depois, a presidente deu declarações em Angola. Ela condenou o que classificou de "apedrejamento moral" do ministro e afirmou que não se pode "demonizar" o PCdoB:
- Meu governo respeita o PCdoB. Dizer que o governo está fazendo julgamento de um partido é uma tolice. O PCdoB tem quadros absolutamente importantes para o país. Não vamos entrar em um processo irracional. Vamos apurar, investigar e punir, o que não significa demonizar quem quer que seja e, muito menos, partidos que lutaram, no Brasil, pela democracia e que têm de ser respeitados.
Dilma voltou a falar em presunção de inocência e que seu governo não faz "apedrejamento moral":
- O governo não fez e não fará nenhuma avaliação e julgamento precipitado de quem quer que seja. Temos que ter um processo sistemático de investigação, de apuração de todos os malfeitos. Analisarei tudo com imensa tranquilidade e tomarei as decisões necessárias. Não só para preservar o governo, mas também para preservar os interesses do país.
Depois da reunião com Rabelo, o ministro Gilberto Carvalho disse que não há decisão do governo de tirar o Ministério do Esporte do PCdoB:
- Evidentemente, isso não corresponde à verdade. Nós temos com o PCdoB uma ligação histórica. Não é uma crise como essa que vai abalar a nossa relação. Asseguramos ao presidente Renato Rabelo que não está em pauta a nossa relação com o PCdoB. A decisão sobre ministérios compete única e exclusivamente à presidente.
Gilberto Carvalho disse que, até agora, não apareceu nenhuma prova contra o ministro e que as acusações são desqualificadas e inconsistentes:
- Por uma simples acusação, não se pode formar juízo. O governo está acompanhando com preocupação os fatos, mas Orlando Silva, com todo o seu trajeto, seu histórico e sua contribuição ao governo, e a maneira com que tem conduzido a Copa, em perfeita sintonia com a política do governo, tem merecido toda a nossa confiança. Até que fatos que comprovem alguma acusação dessas surjam, aí, sim, poderemos fazer juízo de valor. Juízo que cabe à presidente.
Pela manhã, na reunião do conselho político do PCdoB, os dirigentes do partido analisaram todos os cenários e concluíram que entregar os pontos rebaixaria a legenda e daria ao ministro o carimbo de culpado. Por isso a ofensiva em sua defesa - assumida no Senado pelos senadores Inácio Arruda (CE) e Vanessa Grazziotin (AM).
- Falar em nome para substituí-lo? Nem em sonho! O cargo é da presidente Dilma e ela faz o que quiser, mas não vamos tomar iniciativa nenhuma. O ataque não é só a ele, é ao partido como um todo. Se ele se demitir, vai parecer que se acovardou e saiu - disse a senadora após o discurso no plenário.
No mesmo tom, Inácio Arruda repetiu que ninguém arranca, no grito, o ministro do cargo:
- Nós não devemos e não tememos. Vamos até o fim, até as últimas consequências! O Orlando é 100% PCdoB e o partido no Brasil inteiro está concentrado em um nome: Orlando.
*Enviado especial
FONTE: O GLOBO
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