Taxa de desemprego ainda está na baixa histórica, mas outros dados sobre trabalho pioram com muita rapidez
Foi baixo, "foi recorde de baixa" e foi bom enquanto durou, mas o desemprego deve subir, daqui em diante. Por fora, quando se leva em conta apenas a taxa de desemprego da pesquisa do IBGE, divulgada ontem, o número de 5,8% ainda é um espanto. Por dentro da pesquisa, os dados já parecem algo bolorentos.
Desde agosto, pelo menos, há um mergulho muito rápido, para o zero, do ritmo de aumento da ocupação, da renda média do trabalho e da massa salarial. O tombo ficou mais evidente em outubro.
O mais notável foi a queda do rendimento do trabalhador.
Em outubro, foi 0,3% inferior a outubro de 2010. Comparados mês ante mês deste ano em relação ao ano anterior, é a primeira queda desde janeiro de 2010. A massa salarial, a soma dos salários, cresceu 0,9%, na mesma comparação.
O crescimento da população ocupada foi o menor do ano, de 1,5% (ainda sobre outubro de 2010). Até agora, o ritmo médio do ano era de 2,2%. Os dados dos últimos três meses sobre a ocupação, quando descontadas as influências típicas do período e extrapoladas para um ano inteiro, indicam que o crescimento da ocupação está perto de zero.
No resultado efetivo do ano, o desempenho da ocupação ainda será bem decente, com crescimento provavelmente em torno de 2,2%. No ano excepcional e insustentável de 2010, a ocupação subiu 3,5%.
O desempenho por grandes setores da economia é bem diferente. A ocupação no setor de serviços cresce ao triplo da velocidade registrada na indústria, por exemplo.
Mas note-se que:
1) A indústria não apanha apenas devido às pressões domésticas que abafam o crescimento, mas também por causa do câmbio, do real forte, que encarece seus produtos e barateia os importados;
2) O setor de serviços em geral demora mais para reagir ao esfriamento da atividade econômica. Mas já começou a reagir, desaquecendo.
Os dados do IBGE vêm confirmar o desaquecimento verificado nos números do Caged, o registro das contratações e demissões em postos de trabalho com carteira assinada. O outubro de 2011 do emprego formal foi, em termos relativos, tão ruim quanto o 2003, um ano de estagnação da economia.
É um cenário de desastre? Não, mas de deterioração rápida de um quadro em geral bom, dado o histórico do emprego no Brasil nas últimas três décadas. Além do mais, os ventos contrários para o barco do emprego serão atenuados pelos aumentos do salário mínimo e dos benefícios sociais, em janeiro.
Além do mais, o Banco Central vem afrouxando o crédito.
A dúvida maior está no tamanho da frente fria que virá da Europa e, talvez, do resto do mundo em desaceleração. Os primeiros ventos gelados estão chegando apenas agora ao Brasil. E a Europa ainda vai piorar durante o ano que vem.
Enfim, cabe um registro histórico, digamos, a respeito das análises sobre a "explosão" de salários que a gente ouviu muito até setembro.
Haveria tantos aumentos salariais que a inflação sairia do controle, se dizia. Pode até ter havido aumentos reais fortes para alguns sindicatos. Mas o número de pessoas que os recebe tende a ser cada vez menor. Na verdade, o desemprego está para aumentar. Houve certa histeria com emprego e inflação.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário