domingo, 18 de dezembro de 2011

Especialistas defendem maior poder de fiscalização e garantias para BNDES

Para banco, desempenho ruim de empresas é reflexo da crise

É preciso aumentar o poder de fiscalização do BNDES nas grandes empresas apoiadas pela instituição. A avaliação é do coordenador do curso em Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Adriano de Freixo. Uma das alternativas proposta pelo professor é a contratação de auditorias externas, que acompanhariam o resultado dos grupos apoiados fortemente pelo banco.

- É preciso separar a política de financiamentos do banco e a gestão das empresas. Hoje, o BNDES não tem instrumentos para acompanhar a gestão dessas companhias de forma a garantir uma operação mais eficiente. Por isso, uma opção seria a contratação de auditorias externas. O dinheiro usado nessas companhias é público. Como o BNDES entra como acionista minoritário, em algumas operações, não consegue dar a linha na gestão. A política do governo de criar potências nacionais é válida, mas a escolha dessas companhias têm de ser colocada de forma mais transparente para a sociedade - afirma Freixo.

Outros economistas, contudo, dizem que é preciso ter cautela ao criticar a política adotada pelo BNDES, de criar campeões nacionais. É o caso do professor Carlos Lessa, ex-presidente do banco. Apesar de reclamar do apoio do BNDES para a compra de ativos no exterior - como no caso dos frigoríficos -, o banco chegou a acertar algumas vezes, ao permitir que a Votorantim assumisse a Aracruz Celulose, criando a Fibria, impedindo que o setor parasse em mãos estrangeiras.

- Cada caso tem de ser analisado, temos que ver o que é bom para a empresa e o que é bom para o Brasil. Algumas vezes, a decisão do banco está correta em apoiar determinada empresa ou setor, mas o que ocorre são problemas de gestão da empresa. O banco precisa, então, de um contrato forte para salvar a empresa, mas não seus controladores - defende Lessa, lembrando que este conceito de empresas nacionais existe em países como Inglaterra e França.

BNDES diz que apoio a projetos internacionais vai aumentar

Em nota, o BNDES afirmou que apenas aplica as políticas defendidas pelo governo federal. E lembrou que avaliar essa política a partir dos resultados das empresas seria uma forma "simplista". O banco considera sua atuação benéfica.

"Os resultados desta política são positivos. As empresas apoiadas pelo banco - por meio de crédito e renda variável - têm consolidado sua posição competitiva em mercados mundiais. O retorno também é positivo para o banco: nas linhas de crédito as empresas amortizam seus empréstimos devidamente; nas operações de renda variável, grande parte do lucro do banco advém daí. Também é importante ressaltar que esta é uma estratégia que não pode ser avaliada a curto prazo e com uma abordagem simplista", diz a nota do BNDES, acrescentando que a atual crise acaba afetando o balanço de algumas empresas e que o banco foca no longo prazo.

O BNDES informou ainda que tem a menor inadimplência do mercado financeiro - de apenas 0,12% - e que no caso das iniciativas de apoio a operações de fusão e internacionalização de empresas, o banco avalia as estratégias empresariais e os ganhos de competitividade, entre outros aspectos.

"Outro ponto é que o apoio do BNDES a operações de fusão ou internacionalização de empresas não significa que ele deixe de atender a empresas de menor porte", ressaltou a nota do BNDES, que estima que o apoio à internacionalização deve se intensificar, uma vez que a crise nos países centrais deve ampliar o número de oportunidades, mas que o processo sempre é conduzido pelos empresários e que o banco apenas os auxilia.

- O banco está estimulando as empresas a se endividarem de forma rápida e sem que estejam preparadas - disse um economista que não quis se identificar. (Bruno Rosa e Henrique Gomes Batista)

FONTE: O GLOBO

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