domingo, 18 de dezembro de 2011

Sindicalistas com saudade da era Lula

Estranha ao ambiente sindical, Dilma Rousseff dispensa pouco tempo para receber trabalhadores

Paulo de Tarso Lyra

Não são apenas os políticos que reclamam do tratamento diferenciado recebido da presidente Dilma Rousseff em comparação ao antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Os sindicatos também lamentam que os dias não são mais tão fáceis como antigamente. Acostumados com os paparicos de um ex-líder sindical, que conhecia os sindicalistas pelo apelido, perguntava pelos filhos e netos e ainda "marcava uma cachacinha para o fim de semana em São Bernardo", os dirigentes das Centrais tiveram que se acostumar com uma relação protocolar e com uma pauta que desagrada a classe sindical. "Durante o governo Lula, algumas questões mais delicadas foram deixadas de lado", reconheceu o secretário-geral da CUT, Quintino Severo.

Uma dessas questões delicadas que Lula escondeu nos escaninhos de Brasília e que foi ressuscitada por Dilma é o projeto que cria o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos Federais (Funpresp). Os sindicatos são contra e conseguiram adiar a votação para o próximo ano. Alterações na relação com servidores públicos sempre provocam desgastes. "Nosso pior momento foi, sem dúvida, quando o presidente Lula enviou ao Congresso o projeto de reforma da Previdência, em 2003. Depois, as coisas se estabilizaram", completou Quintino.

Os atritos com Dilma começaram logo no início do mandato, quando sindicatos e o Planalto discutiam a política de reajuste do salário mínimo. Os sindicalistas defendiam um aumento maior do que o previsto pela regra — inflação mais crescimento do PIB de dois anos antes —, justificando a estagnação da economia em 2009. Não deu certo e o valor do mínimo ficou em R$ 545.

Este ano também foi difícil para as campanhas salariais do funcionalismo. No café da manhã com jornalistas na última sexta-feira, a presidente Dilma lembrou que as dificuldades econômicas internacionais impediram a concessão de reajustes generosos. O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, concorda. "O país não consegue conviver com reajustes salariais de 10% como aconteceu nos últimos anos", diz o representante do empresariado. Para Quintino, justificativas externas existem, mas não são suficientes. "Nós somos radicalmente contra essa política econômica recessiva", destacou.

Divisão de cargos

Mais oposicionista que a CUT, a Força Sindical tem opiniões ainda mais ácidas. "Durante este ano, ela reuniu conosco uma vez só, e apareceu de surpresa em um encontro que estávamos tendo com o Gilberto (Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência)", reclamou Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP).

As centrais também disputam acirradamente entre si nacos de poder na máquina federal. O principal entrevero está ligado à Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho. Quando Carlos Lupi era ministro, a Força Sindical tinha completa ascendência na secretaria, responsável pela divisão dos sindicatos por Central. Agora, ninguém sabe quem controlará esse butim. "Queremos um Ministério que tenha uma relação republicana com as centrais", disse Quintino.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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