sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Governo deve cortar R$60 bilhões do orçamento para conter inflação em 2012

Para equipe econômica, IPCA deste ano deverá ficar pouco abaixo de 5%

Martha Beck

BRASÍLIA. Maior dor de cabeça da equipe econômica em 2011, a inflação deve desacelerar em 2012. Mesmo assim, ainda dará trabalho ao governo. Técnicos ouvidos pelo GLOBO admitem que a forte alta dos preços de serviços vai se manter, sobretudo com o reajuste de 14,13% no valor do salário mínimo. Diante dos riscos, o governo já começou a montar sua estratégia de combate: a ordem é evitar gastos para não pressionar preços.

O primeiro passo dessa estratégia será dado até fevereiro, quando o governo anunciará um corte no orçamento em torno de R$60 bilhões. A contenção fiscal funciona como um instrumento de combate à inflação e evita que o Banco Central (BC) volte a elevar juros, o que prejudicaria a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) que a presidente Dilma Rousseff quer preservar.

A orientação tem por base estudo feito pela área econômica, que indica que a inflação - que pode fechar 2011 acima do teto de 6,5% fixado pelo governo, dependendo do resultado que o IBGE divulgará hoje - dificilmente fechará o segundo ano do mandato de Dilma no centro da meta, de 4,5%. Para técnicos da área econômica, o IPCA deve ficar pouco abaixo de 5%.

- Isso é basicamente o que o governo pode fazer, uma vez que ele não tem controle sobre outras variáveis que pesam sobre a inflação, como preços de alimentos - disse um técnico.

Segundo o estudo do governo, a pressão inflacionária de 2011 não veio apenas da alta dos preços dos alimentos por causa do elevado custo das commodities no mercado externo. O reajuste de tarifas públicas, especialmente no transporte em São Paulo, e o avanço nos preços do etanol afetaram os preços administrados. Já a inflação de serviços foi pressionada pelo fato de a economia ter começado 2011 crescendo a um ritmo de 7,5%.

Para economista, BC perdeu confiança do mercado

Agora, o setor de serviços continuará com preços em alta, mas com um crescimento do PIB num ritmo abaixo de 4%. Além disso, os demais componentes da inflação serão mais contidos. Os custos das commodities tendem a ficar mais estáveis. Já os preços administrados não devem subir tanto em função do período eleitoral, quando os governos locais costumam postergar reajustes tarifários.
Para a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro, 2012 não será um ano fácil para o governo, pois a estratégia de combate à inflação adotada até agora não ganhou a confiança do mercado. Além disso, ela diz que a equipe econômica tentou justificar a pressão sobre os preços de 2011 alegando que o maior problema seria o choque de oferta nos alimentos:

- Ao longo de 2011, o governo justificou as pressões inflacionárias com choque de oferta, especialmente de alimentos. Mas a verdade é que houve uma grande pressão do lado da demanda, que afetou os serviços. Isso não vai mudar muito em 2012.

Ela diz que a estratégia do Banco Central (BC) de começar a reduzir os juros no segundo semestre de 2011 para tentar salvar o crescimento num momento em que a inflação ainda não convergia para o centro da meta fez com que a instituição perdesse parte da credibilidade que possuía junto ao mercado. Uma prova disso seria o fato de o boletim Focus trazer previsões de inflação acima da meta para todos os anos do governo Dilma. Os analistas preveem que o IPCA terminará 2012 em 5,32%; 2013, em 5%; e 2014, em 4,64%.

- O BC não conseguiu ancorar expectativas para nenhum ano do governo Dilma - afirma Alessandra.

Para a economista, independentemente do que alega a equipe econômica hoje, após a divulgação do resultado do IPCA fechado, ficará claro que ela descumpriu a meta fixada para o ano. Pelos números da Tendências, o índice será de 0,55% em dezembro e de 6,56% no ano. Segundo os cálculos da área econômica, o índice de dezembro ficará em 0,52% e, com isso, o dado fechado do ano seria de 6,51%. Assim, o governo poderia arredondar o valor e considerar que o teto foi cumprido.

Para o economista da LCA Francisco Pessoa, o IPCA deve fechar 2011 em 6,54% e 2012 em 5%:

- A inflação ainda está muito longe do centro da meta. Isso sim é grave e deveria preocupar. No ritmo em que está, o índice não volta ao centro da meta nem em 2012 nem em 2013.

FONTE: O GLOBO

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