A produção da indústria nacional está em clara trajetória de desaceleração.
O IBGE mostrou nesta quinta-feira que, em novembro, a atividade industrial avançou não mais que 0,3% ante outubro e só 0,6% em 12 meses terminados em novembro.
O momento é notoriamente de perda de participação da indústria no resto da economia. O consumo de bens industrializados cresce menos do que a produção industrial e essa tendência deve se acentuar. Os dirigentes do setor têm dificuldade em entender o que está acontecendo. Em vez de batalhar pela correção de rumos, queixam-se de desindustrialização e agravam a pressão sobre o governo por mais subsídios e desvalorização cambial.
São raros os segmentos do setor naturalmente competitivos, porque enfrentam o drama do alto custo Brasil: forte carga tributária, juros entre os mais elevados do mundo, infraestrutura precária, gastos cada vez maiores com mão de obra, energia elétrica cara demais, etc. Os custos não param de subir e a crise externa se encarrega de acirrar a concorrência.
Em vez de impulsionar o mercado interno para produtos industrializados, o crescimento das classes médias no Brasil lhes cria um ambiente relativamente adverso. Há um momento em que um pouco mais de renda, conjugada com o aumento do crédito, empurra os consumidores para as lojas. Mas, na média, as famílias intensificaram gastos com serviços: pagam mais de R$ 300 por mês de academia; estão dispostas a ir duas ou três vezes por mês a restaurantes onde deixam mais e mais; enfrentam conta de celular de R$ 300 a R$ 400 por mês, mais internet; viajam nos feriadões ou nos fins de semana; e, com frequência crescente, tiram férias no exterior. Mas só compram uma geladeira a cada dez anos e trocam de carro a cada quatro; e, se têm computador em casa, só adquirem um modelo mais avançado depois que o que têm fica lento demais.
Como são raros os serviços que se podem importar, o simples aumento da procura vem puxando seus preços para acima da inflação. Em 2011 (até novembro), por exemplo, a inflação geral acumulada foi de 5,97%, mas a dos serviços chegou aos 6,64%.
Para compensar custos mais altos, a indústria importa mais matérias-primas, componentes, conjuntos e capital de giro (empréstimos em moeda estrangeira). Essa dependência maior de suprimento externo funciona como trava para desvalorização cambial: um dólar mais caro – que poderia, em tese, estimular exportações – alavanca os custos industriais. Ao mesmo tempo, o governo não ousa conter para valer as importações de produtos industrializados porque o aumento de preços dos importados elevaria o custo de vida, já esticado pela alta dos serviços.
A reação do governo é fingir que aciona mecanismos de proteção à indústria. Ora baixa o IPI, como foi com os veículos; ora anuncia alteração do regime tarifário, como acaba de fazer com os têxteis. O resultado é ruim. Reduzir o IPI não cria mercado interno; só antecipa vendas. A proteção tarifária não cria mercado lá fora nem dá competitividade externa à indústria.
Confira
A Abit quer proteção. O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, mandou longa mensagem eletrônica para esta Coluna, em que justifica o projeto do governo de mudar o regime de tributação alfandegária para produtos têxteis, de maneira a coibir importações que fazem concorrência desleal à indústria.
Duas agendas. Pimentel quer tocar simultaneamente duas agendas: tanto reduzir o custo Brasil para aumentar a competitividade da indústria quanto batalhar para medidas excepcionais de defesa comercial. Mas avisa que as reformas que diminuiriam os custos demoram muito. O risco aí é de que essa primeira agenda não se cumpra nunca.
Qual o motivo? Mas Pimentel reconhece que a competição externa já não é tão desleal como há cinco anos: "Os preços (de importação) hoje praticados (...) encontram-se em níveis semelhantes à média mundial". Mas, se é assim, por que essa proteção esquisita?
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário