Após notícias sobre direcionamento de verbas para Pernambuco, petistas criticam abertamente ministro da Integração
Gerson Camarotti, Isabel Braga
BRASÍLIA. O fato de o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), ter imposto um desgaste político ao governo Dilma Rousseff nos primeiros dias do ano, com a polêmica em torno da distribuição de verbas para prevenção de enchentes, explicitou a disputa até então discreta entre o PT e o PSB, que tem como pano de fundo os movimentos rumo às eleições presidenciais de 2014. Diante das notícias sobre direcionamento de verbas para ações em Pernambuco, dirigentes petistas passaram a criticar abertamente o ministro Fernando Bezerra, apadrinhado político do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Os petistas ficaram especialmente incomodados com o fato de o PSB ter deixado a presidente Dilma numa saia-justa ao dividir com ela a responsabilidade pelo destino dos recursos. Ao GLOBO, um interlocutor da presidente admitiu que ela, de fato, autorizou a destinação de verbas para construção de barragens em Pernambuco. Mas desconhecia a falta de ações e recursos para os demais estados.
O próprio Campos dividiu com Dilma a responsabilidade pela liberação dos recursos, o que levou o Planalto a adotar recuo estratégico. Nos bastidores, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, telefonou a petistas pedindo que evitassem polemizar em torno da intervenção no Ministério da Integração. No dia anterior, Gleisi divulgou nota dizendo que não havia intervenção. Ainda assim, o PT foi para o enfrentamento com o PSB:
- Esse é um estigma do Ministério da Integração Nacional: direcionamento para obras nos estados do Norte e do Nordeste. Aconteceu com o ex-ministro Geddel Vieira Lima e acontece agora. Estamos vendo que é um problema crônico. Esse ministério tem a Defesa Civil, e esse órgão precisa ter uma visão de país. E é neste período de chuvas que essa lógica fica explicitada - disse o secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR).
O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), cobrou explicações de Bezerra:
- Cabe ao ministro aplicar corretamente os critérios técnicos na liberação de emendas para áreas atingidas, e ele não aplicou. Houve um equívoco na política que ele orientou. Isso tem que ser corrigido. Não cabe ao ministro dividir responsabilidades com a presidente Dilma.
Por trás da disputa está a pretensão política de Campos
Para o PSB, o pano de fundo desta disputa é, na verdade, as pretensões políticas de Eduardo Campos para as eleições presidenciais. Os socialistas acreditam que o PT tem explorado este fato para tentar enfraquecer a posição de Campos no cenário político nacional. Nos últimos meses, o governador tem recebido emissários de vários partidos para sondá-lo sobre 2014. Até integrantes do PMDB buscam aproximação com Campos. Na oposição, tucanos já sugeriram uma aliança para 2014.
Ciente da reação do PT aos movimentos do governador, o ex-presidente Lula advertiu seus companheiros de partido, sugerindo cautela para que não empurrem Campos, que considera aliado fiel, para o lado adversário. Campos tem ficado em silêncio, mas, diante das críticas do PT, houve reação do PSB.
- O fogo amigo petista não pode agir contra um ministro que atua com lisura e competência. Quem faz isso está querendo enfraquecer o governo Dilma - advertiu o líder do PSB, senador Antônio Carlos Valadares (SE). - O PSB sempre deu apoio histórico ao PT. Se o PSB se desvincular do PT, a coisa muda. Muitas vezes, o PT quer se impor como ator exclusivo do jogo político, deixando para os demais um papel de coadjuvante.
- Houve um mal-entendido. O ministro não impôs saia-justa à presidente Dilma. O PSB é leal à presidente. Sempre tem alguns que procuram fazer intriga na relação do PSB com a presidente - disse o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
FONTE: O GLOBO
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