quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Analistas se dividem entre 'seguir normas' e 'defender direitos'

Ex-chanceler ataca a "relativização dos direitos humanos" e historiadora diz que Dilma não poderia ferir regras diplomáticas

Gabriel Manzano

A presidente Dilma Rousseff acertou ao cumprir as regras diplomáticas de respeito ao governo que a recebe, ou errou por recuar de uma posição que ela própria já disse considerar inegociável? A pergunta dividiu, ontem, estudiosos da diplomacia brasileira. "Ela errou ao relativizar os direitos humanos, que devem ser tratados como um valor absoluto", sustentou o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia. "Como mandatária de um país sendo recebida oficialmente, ela não poderia interferir nos assuntos internos daquele governo", ponderou a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da USP.

Um terceiro especialista, o professor Reginaldo Nasser, da PUC-SP, vê a presidente "no fio da navalha", como quem "tem medo de criar atritos com a esquerda em seu governo". Nasser parte de uma análise geral - a de que, em política externa, Dilma "dá a impressão de que não quer mexer em nada". Como exemplos, ele lembra que, nas rebeliões árabes de 2011, o Brasil não se manifestou contra os governos do Egito e da Líbia. "Ao ficar neutro, ficou na prática do lado dos ditadores."Há uma diferença no caso de Cuba, segundo ele: "Ali não há um movimento organizado de oposição, há dissidentes". É fundamental, acrescenta o professor, lembrar que há uma provável estratégia do Brasil nas relações com Cuba: o País "está interessado em criar agora uma base diplomática para ter um papel maior na Cuba que resultar das mudanças em curso".

Lampreia, que comandou o Itamaraty durante o governo FHC entre 1995 e 2001, tem críticas duras à presidente. "Na prática, ao relativizar os direitos básicos das pessoas, ela nega o que disse e dá razão aos ditadores, na forma como agem contra as oposições." "O fato é que em Cuba há pessoas morrendo. E o governo cubano se abstém de assinar tratados internacionais sobre direitos humanos. Aceitar a afirmação de que o dissidente morto era um preso comum é um desaforo", conclui o ex-chanceler.

Maria Aparecida de Aquino insiste que, se a presidente fizesse críticas a Cuba "estaria ferindo todas as normas diplomáticas". Ela "poderia dizer o que pensa em alguma reunião multilateral". Para a professora, Dilma acertou ao dar o visto à blogueira Yoani Sanchez antes de viajar, e não na volta. "Isso valeu mais que qualquer declaração. Ali ela mostrou o seu ponto de vista."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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