Produção industrial parou de crescer em 2011, setores estão desaparecendo e crise global pode piorar o quadro
Os americanos viraram o ano mais animados com a economia deles. Trata-se da terceira onda de alívio mais ou menos precipitado, ou de mera propaganda ou ignorância, no pior dos casos.
Parece um assunto meio remoto para nós, brasileiros. Não deveria ser, pelo menos para quem ganha a vida na indústria, empresário ou trabalhador, e em ramos conexos.
De fato, a economia americana não voltou ao horror da recessão, bom para eles e, por tabela, para nós também. Mas certo estava o Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, ao aparecer na semana passada com um pintura bem mais desanimada do crescimento americano. E por "crescimento" entenda-se aqui a perspectiva para este ano ou também o que vem. No médio prazo, o cenário é muito nebuloso.
Os Estados Unidos vão apresentando melhoras, sim, com recaidinhas ou sinais de fraqueza ali ou aqui. Ontem, soube-se que o preço dos imóveis caiu no fim do ano (ou seja, a demanda é fraca, e o investimento no setor voltará um pouco antes do dia de são Nunca). A confiança do consumidor balança. Etc. Por essas e outras (de que nem desconfiamos), o Fed avisou que pode ou deve deixar a taxa de juros no zero até por volta de 2014.
Taxa de juros zero nos Estados Unidos ou perto disso no restante do mundo rico, crescimento baixo (EUA) e recessão na Europa, alta de custos no Brasil e sobra de produtos nos superexportadores China, Leste da Ásia e Alemanha são venenos para a indústria brasileira.
Juro zero nos EUA e perto disso no mundo rico tende a valorizar o real, tendência que voltou assim que passaram os medos piores com a Europa. Crescimento baixo no mundo causa um excesso de oferta de produtos industriais -com preços baixos. A inflação brasileira encarece o produto nacional. Etc.
O IBGE informou ontem que a indústria brasileira cresceu apenas 0,3% no ano passado. Que a produção da indústria de bens duráveis (carros, eletrodomésticos e assemelhados) encolheu 2%. Nem se mencionem os casos de depressão, como o encolhimento de quase 15% da indústria têxtil, provavelmente marcada para morrer, de mais de 10% na de calçados e couros, outra moribunda, e de 5% na de máquinas para escritório e equipamentos de informática.
No entanto, note-se que o consumo no varejo deve ter crescido uns 7% no ano passado (ainda não saíram os dados finais). Embora a conta e a comparação entre os desempenhos de varejo e indústria não possam ser reduzidos a tabelas de entradas e saídas, é evidente que importamos parte grande do nosso consumo de manufaturados.
Neste período de crise, curto em termos históricos e mesmo econômicos, os motivos imediatos da onda de importação e seu impacto na indústria são evidentes. Talvez alguns setores da indústria se tenham tornado inviáveis, coisa de que havia pistas mesmo lá em meados da década de 2000.
Problemas: 1) Quais partes da indústria são dedos, quais são anéis? O que pode ser feito, no curto prazo, além de protecionismo? Quais indústrias são viáveis por aqui? 2) O que se pode fazer a fim de conter o horrível encarecimento do Brasil (inflação alta, real forte) e "custos fixos" altos (impostos, infra ruim)?
O tempo está acabando.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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